8. In memoriam de Egas Moniz

É com profunda veneração que nos inclinamos perante a memória de Egas Moniz, falecido em 13 de Dezembro de 1955.

Dotado de múltiplos recursos intelectuais, espírito sempre vivo e atento às mais variadas solicitações da inteligência e da sensibilidade estética, persistente e ousado no que elegera por especialização, Egas Moniz bem mereceu e foi digno da notoriedade, do prestígio e, por fim, da consagração, em 1949, do Prémio Nobel de Medicina.

Todas as qualidades que constroem a personalidade rara de um mestre ele as possuiu com admirável acerto: saber incitante, idealismo ao serviço do progresso científico e humano, novos problemas e novas perspetivas metodológicas, projeção das lições e do exemplo pelo tempo fora.

Como escrevemos numa página desta revista, que Egas Moniz honrou com ponderações acerca das suas descobertas que conduziram à angiografia cerebral e à leucotomia pré-frontal, nenhum outro sábio português, salvo, em parte, Pedro Nunes no que toca ao descobrimento da loxodromia, transmitiu com tanta isenção e franqueza a génese concreta da aparição dos problemas, os pressupostos teóricos, a ideia condutora, o sucesso e o malogro das tentativas metodológicas, a quota dos seus colaboradores e, o que mais importa, a integração da conceção explicativa e dos sucessivos dados da experiência.

Coerentemente consigo mesmo e com as ideias que o orientavam, a sua atividade de homem de ciência não brotou da improvisação casual nem radica em estímulos puramente livrescos, explicando-se unicamente pela entrega total, sem reservas nem desvios, à sua conceção neurológica da atividade psíquica e à sua atitude estritamente científica, nada mais, e também nada menos, do que científica.

Esta a sua glória e a razão suprema da gratidão que a humanidade lhe tributa e, com ela, o nosso reconhecimento de portugueses.


?>
Vamos corrigir esse problema