Da resposta de Tycho Brahe, na epístola de 17 de Agosto de 1588, transcreveremos apenas o passo seguinte:
“(...) Quia uero per Crepusculorum obseruationem discerni posse existimas, utrum Aeris crassi superficies altius hic attollatur, quam in uestro Horizonte: Scias me diligenter animaduertisse, iuxta tempora zequinoctialia, Crepusculum matutinum hic incipere Sole saltem Grad. 16 1/3 infra Horizontem depresso, adeo, ut arcus Crepusculi tunc sit tantummodo 25. prwcise Graduum, quem tamen Nonniana et communiter recepta ratio Partium proxime 28. efficeret: Si quando idem illic diligenter exploraueris, non dubito quin inuenies arcum Crepusculi, nihilo apud nos maiorem esse, quam Cassellis, et ob id nostri Horizontis uapores non altius ascendere, quam uobis, unde etiam consequitur Aerem inferiorem non esse sensibiliter crassiorem in hac boreali plaga, quam in locis paul° meridionalioribus (...)” (Ibid., p. 112).
P. 43, 11. 17-22: circa intempestam noctem] Pedro Nunes reproduz quase integralmente os seguintes períodos de Estrabão: “Sunt enim loci isti circa Borysthenem, et australia Mwotidis, distantque ab mquinoctiali circiter triginta quatuor milia stadiorum et centum. Quá est autem secundum Vrsales locas horizontis, in omnibus fere wstiuis noctibus illuminatur a sole, ab occasu usque ad ortum circunuertente se luce. Abest enim wstiuus tropicus ad horizonte inque Zodiaco semis et duo decimo, quantum distat sol etiam ab horizonte secundum intempestam noctem”. Da Valentinus Curio lectori. En tibi lector studiose Strabonis geographicorum cõmentarios, ohm, ut putatur, a Guarino Veronense, et Gregorio Trifernate latinitate donatos, iam uero denuo a Conrado Heresbachio ad lidem Grxci exemplaris, autorum que, qui huc facere uidebantur, non wstimandis laboribus recognitos... Basileia, M. D. XXIII, Livro II, p. 94. Exemplar da Biblioteca da Universidade de Coimbra.
A expressão intempesta nox foi traduzida por “noite alta”, atendendo ao contexto das considerações científicas desta proposição; cumpre, porém, notar que os romanos chamavam intempesta nox à duodécima divisão do dia civil, correspondente ao período que atualmente designamos pelas horas 22 a 24. No Reportorio dos Tempos... trasladado por Valentim Fernandes, na edição de 1563, reproduzida em fac-símile pelo Sr. Joaquim Bensaúde, lê-se nas pp. 4-5: “O xij e ultimo [tempo] se chama nox intempesta, que quer dizer sem tempo, que dura ate meya noyte, o qual não consinte disposição pera que cousa algfia se possa tractar”.
P. 43, 11. 32-34: Hipparchum (...) illucescere] A concordância com a tradução de Basileia, de 1523, citada na nota da página 513 e cujo frontispício reproduzimos em fac-símile [p. 514], é perfeita, o que sem dúvida permite assegurar ter sido esta a tradução de Estrabão que Pedro Nunes utilizou. Com efeito, nela se lê, no Livro II, a p. 56: “Dicit autem Hipparchus ad Boristhenem et Ganiam totis,wstiuis noctibus solis splendorem ah occasu ad ortum ambientem illucescere”.
P. 43, 1. 38: gradus (...) 19] Ver vol. II, p. 131, 1. 39, e p. 141, 1. 9.
P. 43, 1. 39: Vitelo] Pedro Nunes refere-se ao seguinte livro: Vitellionis mathematici doctissimi IIept 'Orrct.w7g, id est de natura, ratione, et proiectione radiorum uisus, luminum, colorum, atque formarum, quam uulgo Perspetivam uocant, Libri X. Habes in hoc opere, Candide Lector, quum magnum numerum Geometricorum elementorum, qua in Euclide nus quam extant, tum uero de proiectione, infractione, et refractione radiorum uisus, luminum, colorum, et formarum, in corporibus transparentibus atque speculis, planis, sphwricis, columnaribus, pyramidalibus, concauis et conuexis, scilicet cur quadam imagines rerum uisarum aquales, quadam maiores, quadam minores, quedam rectas, quedam inuersas, quadam intra, quadam uero extra se in aêre magno miraculo pendentes: quadam motum rei uerum, quadam eundem in contrarium ostendant: quadam Soli opposita uehementissime adurant, ignem que admota materia excitent: deque umbris, ac uarijs circa uisum descriptionibus, a quibus magna pars Magia naturalis dependet, Omnia ab hoc Autore (qui eruditorum omnium consensu, primas in hoc scripti genere tenet) diligentissime tradita, ad solidam abstrusarum rerum cognitionem, non minus utilia quam iucunda. Nunc primum opera Mathematicorum prastantiss. dd. Georgij Tanstetter et Petri Apiani in lucem adita. Norimbergw apud Io: Petreium, Anno MDXXXV.
Foi esta edição que Pedro Nunes utilizou e cujo frontispício reproduzimos em fac-símile; a 2.a é de 1551, e a 3.ª (Opticx Thesaurus, juntamente com a Optica de Allacen) de 1572, à qual nos referiremos mais adiante. A 1.a edição existe nas Bibliotecas Nacional de Lisboa e na da Universidade de Coimbra.
A designação de ratione uidendi não corresponde ao título da obra, que nos manuscritos é Perspetiva, como, aliás, se lê no frontispício reproduzido; é uma epígrafe da autoria de Pedro Nunes, como foram as de MO. '07c.st.xfiç, de Pedro Apiano, na 1.a edição, e de Optica, de Frederico Risner, na 3.a edição de 1572 (ver Clemens Baeumker, Witelo, em n Philosoph und Naturforscher des XIII. lahrhunderts, Münster i. W., 1908, p. 225). Por isso, substituímos a versão direta da epígrafe de Pedro Nunes pelo título corrente na Idade Média e na literatura moderna.
P. 43, 1. 39: uniuersum fere ingens (...) opus] No catálogo das publicações de Regiomontano (Index operum Ioannis de Monte regio: quem dum in humanis erat imprimi curauit: huc secundario appressus), inserto no princípio das Tabullx Eclypsiü Magistri Georgij Peurbachij. Tabula Primi mobilis Ioannis de Monte regio (1514), qualifica-se a Perspetiva Vitelonis de opus ingens ac nobile. Exemplar da Biblioteca do Observatório Astronómico de Coimbra.
P. 43, 1. 40: mutatus est] Sobre a dependência da Perspetiva de Vitelo em relação à Optica de Allacen, ver C. Baeumker, Witelo, emn Philosoph und Naturforscher des XIII. Iahrhunderts cit., especialmente as pp. 234-239 e 610-616.
P. 43, 11. 40-42: gradus (...) 19 (...) deprehendisse] Pedro Nunes refere-se ao seguinte passo da Perspetiva de Vitelo: “Sit itaque corporis solis centrum in puncto c, eritque per attentionem" Astronomicam, scilicet instrumentalem armillarum uel astrolabii, uel tabularum, totalis arcus bc, quo distat centrum solis ab ipsa superficie horizontis fere 19. partes, secundum quod circulus altitudinis est 360” (p. 282 v da edição de 1522, acima apontada).
O passo pertence ao Livro X, Prop. LX: “Summorum uaporum consistentiam ad quantum possint eleuati pertingere, possibile est inueniri”, e é acompanhado do desenho acima reproduzido.
P. 44, 1. 1: recentiores omnes] Com efeito, os astrónomos seus contemporâneos, ou proximamente, admitiam os 18 graus, como já notámos.
P. 44, 1. 8: artem tradere molimur] Veja-se hic a Prop. XVI, e a respetiva anotação. Esta redação sugere que quando Pedro Nunes escrevia esta Prop. I não tinha ainda feito observações rigorosas que lhe permitissem o cálculo da distância do Sol ao horizonte no princípio (ou no fim) do crepúsculo, exposta na referida Prop. XVI; por isso, admitia provisoriamente os 18 graus: “tantam interea eam esse supponemus”, como a seguir se lê, Il. 9-10.
P. 47, 1. 8: Propositio iij] Esta famosa proposição, frequentemente citada, foi transcrita pelo antigo diretor do Observatório Astronómico de Lisboa, F. Oom, no Jornal de Sciencias Mathemáticas e Astronómicas, publicado pelo Dr. F. Gomes Teixeira, vol. III (Coimbra, 1881), pp. 73-76.