Os últimos capítulos são já indicativos de que o autor manifestava um certo cansaço na elaboração horizontal dos temas e problemas abordados, embora a inteligência crítica e o sentido problemático da análise estejam e continuem a estar bem patentes no tratamento e da profundidade da glosa. A informação bibliográfica é exaustiva e atualizada (textos, por exemplo, de 1954 e 1955, de quatro e três anos antes do seu desaparecimento ). Verifique-se ainda a abundância de contribuições bibliográficas do século XIX citadas por Joaquim de Carvalho como autoridades. E com inteira razão. Só, com efeito, por um inadmissível prurido de pretensiosa atualização é que muitos investigadores postergam sem fundamento sólidos estudos da erudição oitocentista. O Mestre de Coimbra sabia perfeitamente que, durante o século XIX, apareceram excelentes contribuições monográficas que o investigador não tem o direito de ignorar.
Se tivéssemos de dar uma nossa opinião, desapaixonada e pacata, sobre a importância e o valor científicos de todos estes capítulos e nos fosse forçoso distinguir dois, ou três, optaríamos pelo capítulo I (A Educação na Grécia), pelo capítulo IV (A Educação na Alta idade Média) e pelo capítulo VI (O Humanismo e a Educação). Mas sem, de modo algum, considerarmos os outros como menos dignos de apreço. O próprio excurso consagrado ao estudo da educação nos colégios da Companhia de Jesus demonstra, por parte de Joaquim de Carvalho, um grande espírito de independência e de isenção e uma informação atualizada. Que pena ter ficado incompleta esta História da Educação! Como lamentamos que o Destino não haja permitido ao Mestre ter-nos dado a evolução do magistério educativo pelo menos até aos alvores do século XIX! Como quer que seja, mesmo incompleta, esta História do ensino em Portugal e na Europa traz o sinete da competência e da ciência de um grandíssimo Mestre. Ex digito gigans!
A Obra Completa de Joaquim de Carvalho chegará ao seu termo com o próximo VII volume que incluirá ainda alguns textos importantes, ao lado de uma vasta secção de recensões e de contributos menores, alguns fragmentários. Mas os Fragmenta ac minora do Mestre de Coimbra, cujo centenário ocorrerá em 1992 — e será então necessário que tanto a Alma Mater Conimbrigensis como a Academia das Ciências de Lisboa, as duas instituições que ele tanto honrou com o seu magistério e a sua ciência, recordem condignamente a grande estatura do professor insigne e do pensador — vão arquivar ainda estudos de mérito excecional e de qualidade científica invulgar.
Um índice geral de nomes e de conceitos — Index nominum ac rerum — será o finis coronat opus destes sete preciosos volumes. Antes, porém, se isso nos for possível, desejaríamos, depois dos últimos trabalhos do Mestre, elucidar o leitor acerca dos seus métodos de pesquisa, para evidenciar o seu escrúpulo intelectual através da comparação de alguns passos importantes que ele entendeu dever modificar, acrescentar ou, até, suprimir. Se, nos seis volumes até hoje publicados se contêm as mais importantes contribuições de Joaquim de Carvalho, outras há ainda, porventura menos conhecidas, que valerá a pena oferecer no último tomo.
Abstemo-nos de incluir no volume derradeiro a vasta correspondência do autor. Não só porque isso nos obrigaria a uma investigação morosa e difícil, pela dispersão das cartas escritas a centenas de estudiosos e amigos, mas principalmente porque entendemos que, com raras exceções, nas cartas particulares existem elementos de ordem íntima que poderão ser interessantes para o conhecimento da biografia, mas nem sempre oferecem, do seu autor, a imagem que corresponde à da sua obra publicada ou, como quer que seja, por ele mesmo revista e licenciada para a publicação. Abriremos apenas uma ou duas exceções por algumas razões que oportunamente fundamentaremos.
Lisboa, 1º de Fevereiro de 1989. JOSÉ V. DE PINA MARTINS
