II. Valor subsidiário do estudo da educação nos povos primitivos e nas civilizações orientais

Dado o objeto que consideramos, ou seja a evolução das instituições, dos métodos e dos ideais educativos, impõe-se a aplicação do critério histórico, o que não quer dizer que o fim em vista seja o da mera erudição. Se o estudo desta disciplina é útil, a sua utilidade consiste em proporcionar conhecimentos prestantes a quem se propõe exercer o magistério; por isso acentuaremos somente o que mais importa ao juízo e à apreciação das práticas pedagógicas e da teoria da educação.

A aplicação rigorosa do critério histórico dita que o estudo se inicie com a fenomenologia da educação primitiva; este assunto, porém, sendo indispensável ao etnólogo e ao estudioso da antropologia cultural, é de escasso préstimo para a formação do pedagogo atual.

Nas sociedades primitivas, que em parte se podem reconstituir pela observação de algumas populações atuais de selvícolas, domina o instinto, e a educação, que não é orientada para o futuro, consiste fundamentalmente na aprendizagem de técnicas rudimentares e de ritos religiosos. Como a educação surge, no sentido criador da palavra, quando ao instinto se opõe a reflexão e à natureza o ideal, é manifesto que o estudo da educação nas sociedades primitivas, apesar do contributo que presta ao conhecimento das origens, tem escasso valor para a formação atual, dado a instrução ser essencialmente imitação e os indivíduos não serem educados em ordem à formação pessoal mas à parecença com o instrutor e à plena integração da individualidade na conduta da tribo ou do grupo social.

A consideração da atualidade leva-nos igualmente a pôr de lado o estudo da educação nos povos orientais, assim os do Extremo-Oriente, especialmente aos Chineses e Hindus, como os do Oriente Médio, designadamente Egípcios, Caldeus, Persas e Judeus. Cada uma destas civilizações possui características mais ou menos próprias e tem sua significação histórico-cultural, mas sob o ponto de vista educativo, o seu valor atual é também escasso.

De modo geral, pode dizer-se que nestas civilizações a educação apresenta as seguintes características mais ou menos comuns:

• Salvo na China, onde a ausência de castas tornou, em teoria, a escola acessível a todos, e na Palestina, onde a frequência escolar das crianças foi considerada obrigação religiosa dos pais, a educação foi fundamentalmente familiar e privilégio de certas classes;

• A mulher, de modo geral, foi excluída do ensino;

• A formação dominante tendia à aprendizagem de um ofício, da técnica da guerra e da preparação para o culto religioso;

• Não se cuidava propriamente da formação e desenvolvimento da individualidade e da personalidade;

• A formação tendia essencialmente para a destreza, para a habilidade manual e para a constituição de hábitos de pensamento e de conduta, não se dirigindo, propriamente, para o exercício e cultivo da inteligência e da reflexão pessoal;

• A cultura intelectual revestia uma forma mnemónica, com base em certos escritos, o que é muito acentuado e característico da antiga civilização chinesa.

Estas características mostram que o interesse do estudo das civilizações orientais é essencialmente negativo, isto é, concorre com elementos que não entram positivamente na formação atual; por isso, iniciaremos o estudo com a exposição, muito geral e sintética, da educação na Grécia, principalmente em Atenas e a partir do século VI antes de Cristo, em cujos ideais e atividades racionais a nossa mentalidade e a nossa cultura mergulham algumas das suas raízes mais vigorosas e nutridas.


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