II. A Educação em Esparta

É tema de discussão se as primeiras instituições docentes de carácter oficial apareceram em Creta ou em Esparta, mas parece fora de dúvida que foi Esparta a primeira cidade do território continental helénico em que o Estado chamou a si a organização e a direção da educação, confiando-as a um magistrado especial, o paidónomo e consignando-lhes uma finalidade análoga à de Creta.

Das fontes e relatos da educação espartana, nos quais se destacam escritos de Xenofonte, de Platão e de Aristóteles e fragmentos das poesias de Tirteu, depreende-se que em Esparta não houve propriamente escolas, no sentido de instituições sedentárias destinadas ao ensino de um currículo de estudos. Os jovens eram como que arregimentados em formações que se sucediam segundo a idade e se organizavam em função da homogeneidade e da uniformidade, pelo que o ideal educativo espartano não só se tornou característico dos dórios como alcançou uma particular significação histórico-pedagógica, a que Plutarco deu relevo com a Vida de Licurgo e que atingiu ainda o nosso tempo.

A sua característica peculiar consiste na formação de servidores dedicados ao Estado, mediante uma educação militar e comunitária e um regime de vida sóbrio e frugal, de disciplina severa, dura e rigorosa. Toda a orgânica estatal se orientava para esta finalidade e, como é óbvio, em correlação com a constituição política, ou seja a constituição chamada de Licurgo (século IX a.C.).

O governo de Esparta foi essencialmente oligárquico, sendo a população constituída por uma minoria de dominadores (espartanos), que detinha o poder, por descendentes dos antigos habitantes, trabalhadores e rurais, sem direitos políticos (periecos) e por servos desprovidos de direitos (hilotas). Interna, como externamente, Esparta constituía como que um exército de ocupação e em pé de guerra, tanto mais que o governo da cidade e a vida militar se consideravam as únicas ocupações próprias dos «espartanos». Consequentemente, a educação espartana tornou-se essencialmente militar e comunitária, visando a formar no cidadão um soldado disciplinado, obediente, forte, enérgico e resistente.

Coerente com este objetivo, a educação espartana, limitada aos jovens da classe dominadora, foi considerada serviço público, visto coincidirem a organização política com a ordem educativa, e desenvolvia-se com dois objetivos capitais: a educação física, preparatória da educação militar, e a educação moral, preparatória das virtudes militares e cívicas. A marcha educativa pode esquematizar-se em três ciclos educativos: dos 7 aos 12 anos, dos 12 aos 15 e dos 15 aos 20.

Até aos sete anos, a criança pertencia à família. Os recém-nascidos portadores de defeitos físicos que os tornassem inaptos para a vida militar eram sentenciados pelo conselho dos anciãos a jazerem expostos nos Apotetas, desfiladeiro do Taigeto, até morrerem de fome.

Os que nasciam fisicamente viáveis recebiam uma educação dura e severa, sem mimos nem comodidades, para o que as mães eram preparadas por uma educação viril.

Depois dos sete anos, as crianças eram subtraídas à família, pois nos termos da constituição de Licurgo pertenciam ao Estado. Consequentemente, a educação fazia-se em estabelecimentos públicos, sob a direção de monitores e funcionários, levando em comum uma vida de caserna. Presidia à organização, o paidónomo, designado pelos éforos, tendo sob a sua dependência, dentre outros funcionários, os «flageladores» encarregados de aplicar os castigos. A educação desenvolvia-se:

Sob o ponto de vista físico, em ordem à resistência e vigor do corpo e da vontade, com exercícios ginásticos e danças guerreiras. A corrida, a natação, os jogos do pentatlo, etc., eram ensinados metodicamente. Nas classes superiores, dos doze anos em diante, aos exercícios ginásticos vinham juntar-se os exercícios propriamente militares, de manejo das armas, treinos de marcha e de combate, etc.

Sob o ponto de vista moral, tendia inteiramente para a formação das virtudes militares: resistência de ânimo, sentido da comunidade, obediência, disciplina, respeito aos velhos, etc.

O ensino moral não tinha o sentido atual, mas sim o da resistência ao sofrimento e domínio da vontade.

Sob o ponto de vista intelectual, a educação era escassa. A leitura e a escrita não eram consideradas essenciais, mas a música tinha grande importância.

Sob o ponto de vista espiritual atribuía-se à música um papel análogo ao da ginástica na formação física; o seu objeto consistia na aprendizagem do canto coral e na execução de instrumentos. Os cantos tinham sentido patriótico e guerreiro, tendo-se tornado famosos os de Tirteu. A concisão foi muito prezada (laconismo), assim como a conversação com os anciãos.

Aos trinta anos de idade, os espartanos tinham acesso á vida pública, como membros das assembleias, podendo constituir família, continuando, no entanto, a prestar serviço militar, que durava até aos sessenta anos. Com esta idade, o cidadão espartano tornava-se membro do conselho dos anciãos.

A educação das raparigas também era considerada serviço público, e visava a torná-las fortes, física e moralmente, em ordem a poderem vir a ser boas mães.

Os espartanos ficaram na história pelas suas virtudes guerreiras, e não pelas criações intelectuais — o que bem se compreende por esta rápida exposição do plano educativo. A educação realizava-se plenamente na e pela comunidade, mediante um guia, ou monitor, sem intervenção da família. Daqui, o valor educativo atribuído à camaradagem íntima, em condições antinaturais e ofensivas da sensibilidade moral.


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