IV. A educação durante o Império

A par deste ensino, o Império apresenta ainda o magistério especializado, do qual o do Direito teve particular e crescente importância.

Do ciclo normal, foi o rhetor o mestre melhor remunerado e tido em mais apreço, dado o valimento que se atribuía à educação oratória, cuja orientação conduziu frequentemente o ensino ao jogo artificioso da dialética e do verbalismo e, em consequência, ao desvio da reflexão intrínseca do pensamento para a arte de o exprimir e de persuadir.

Sem embargo destes e de outros defeitos, foi nas escolas de Gramática e de Retórica que se recrutaram grande parte dos funcionários cuja ação concorreu para a romanização dos povos submetidos ao poder imperial, graças à qual se transformou o orbe em urbe, como disse num verso famoso Rutílio Namaziano, poeta gaulês do século V. Foram vários os meios e recursos desta ação assimiladora e unificadora, mas entre eles têm de contar-se as instituições escolares, mediante as quais o escol dos mais diversos e distanciados povos do Norte de África, da Península Ibérica, da Gália, Britânia, Germânia e das províncias danubianas — foram iniciados numa vida intelectual superior e comum.

A par da ação administrativa, dos postos e acampamentos militares, das colónias agrícolas, da introdução de técnicas, das vilas, póvoas, e demais factores da romanização, as escolas concorreram para a substituição das linguagens indígenas pela língua latina, convertendo-se, assim, em instrumento de divulgação e de assimilação da cultura romana. Por todo o Império, principalmente nas cidades das províncias europeias ocidentais e no Norte de África, se instituíram escolas e se manifesta a atividade intelectual em condições que estabeleceram, por vezes, a ligação com a atividade escolar da alta Idade Média. Dentre tais escolas avultam as de Milão, Marselha, Bordéus e Lyon, e pelo que à Hispânia respeita baste somente indicar a fundação da escola de Osca (Huesca), por Sertório, em 80 a.C., e o facto de Séneca, o estoico, e Quintiliano, o pedagogista da formação retórica, serem hispanos de nascença, cuja educação, aliás, fizeram em Roma.

Muitas escolas municipais das províncias subsistiram após a queda do Império romano do Ocidente, em 476, transformando-se, pouco a pouco, por influência da Igreja e das novas circunstâncias, em escolas eclesiásticas.


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