IV. Desenvolvimento do ensino eclesiástico secular

Sobressaem entre os mestres vitorinos, Hugo de São Vítor (1096-1141), Ricardo de São Vítor e Godofredo de São Vítor, autores, respetivamente, dos seguintes escritos de significação pedagógica, pelo que respeita ao teor e ao ensino das artes liberais e da teologia: Didascalicon, Excerptiones (ou Liber excerptionum), e Fons Philosophiae.

O Didascalicon ou Eruditio didascalia, em especial, é como que uma enciclopédia do saber profano e sagrado, sendo de notar as três condições que a juízo de Hugo de São Vítor são necessárias à atividade discente e à adquisição do saber: a natura, isto é, as disposições nativas, o exercitium, que compreende a lectio e a meditatio, isto é, a interiorização reflexiva do que se aprende, e a disciplina, ou seja a aplicação meticulosa.

Em Portugal, é de referir a congregação dos cónegos regrantes de Santa Cruz de Coimbra, da observância da Regra de Santo Agostinho, do tipo da Congregação de São Rufo de Avinhão. Fundada em 1132, pouco se sabe de seguro acerca da sua escola, sendo de crer que tivesse sido na sua livraria e no convívio com os cónegos que Santo António de Lisboa adquiriu a erudição escriturária que os seus sermões manifestam e levou o papa Gregório IX a apelidá-lo de «Arca do Testamento».

Por carta de Coimbra, em 1192, D. Sancho I concedeu ao mosteiro de Santa Cruz quatrocentos morabitinos para sustentação dos cónegos «que estudam em as partes de França». Este benefício parece indicar que a situação escolar em Santa Cruz de Coimbra era análoga à da maioria das escolas eclesiásticas coetâneas, de ensino rudimentar e frequentadas por adolescentes que, em regra, terminavam a escolaridade por volta dos quinze anos. Daí, para os que desejavam adquirir mais vasta ilustração, a necessidade de procurarem uma escola de ensino mais extenso e completo em terra aliena — fórmula que se tornou tópica nas considerações pedagógicas coetâneas, designadamente de Hugo de São Vítor, no Didascalicon, de Pedro Comestor, no Sermo 3, e de João de Salisbury, no Polycraticus. As escolas de Paris foram as mais procuradas por estudantes estrangeiros nos finais do século XII e no decurso do XIII.


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