Este quadro enciclopédico, no qual interferiam a formação cristã e a ilustração antiga mediante a compenetração dos estudos tradicionais com os das humanidades, visava à formação do homem esclarecidamente virtuoso, pois atribuía aos conhecimentos intelectuais sentido essencialmente pragmático.
A educação moral e intelectual devia ser acompanhada da educação física, em ordem ao desenvolvimento completo da personalidade. Olhos postos na educação guerreira dos espartanos, Vergério recomendou os exercícios que a um tempo fortalecessem o corpo e adestrassem para a luta; para os príncipes, em especial, atento ao estilo político da época e, portanto, à preparação do possível «condottiero», aconselhou a prática de atividades e manobras que os tirocinassem para o comando de campanhas e para a intendência de acampamentos.
No sentido das ideias de Vergério, que eram as da época, em especial na sociedade culta de Florença, e com análogas raízes fundamentadoras do valor formativo das letras, contam-se os escritos de Mafeo Vegio (1407-1458), de Eneias Sílvio Piccolomini (1405-1464) e de Francisco Filelfo (1398-1481).
Com abundante erudição clássica expôs Vegio no De educatione clarisque earum moribus um sistema educativo em que a formação cristã e os studia humanitatis confluem para a constituição do espírito virtuoso e para a perfeição da inteligência e no qual a preparação para a vida social se opera conjuntamente com a do destino ultraterreno da alma. Sem grandes desvios no que toca ao plano de estudos, é de notar a preferência de Vegio pelo ensino público, bem como a recomendação da repartição do tempo escolar pelo estudo, pelo recreio e pelos exercícios físicos, de finalidade militar.
Eneias Silvio Piccolomini, eleito ao pontificado em 1458 com o nome de Pio II, consignou as suas conceções pedagógicas numa Epístola que em 1443 dirigiu a Segismundo, duque do Tirol e no Tractatulus de educatione liberorum, redigido por volta de 1450 e que dedicou a Ladislau, rei da Hungria e da Boémia.
Na Epístola, afirma o préstimo e o valor do estudo das letras para a formação do príncipe, pelo que este deve estudar primeiramente a eloquência, seguindo-se-lhe o estudo das demais disciplinas com base nos textos dos respetivos escritores clássicos.
A feição oratória e estetizante desta formação, que identificava o idealismo da conduta com a cultura e esta com o estudo das letras — «omnis bene vivendi norma litterarum studio continetur», diz na epístola ao duque Segismundo —, acentua-se e precisa-se no De liberorum educatione, em cujo plano de estudos atribuiu valor secundário às disciplinas do quadrívio. Com ter sido pensado para a educação de um príncipe, as suas conceções têm significado e alcance geral, embora sem grande originalidade, por exprimirem o ideal, comum aos humanistas, do anseio da glória e do sentimento da dignidade, e a conceção formativa da personalidade mediante os estudos literários.
Com destino à educação do príncipe Gian Galeazzo Sforza redigiu Francisco Filelfo duas epístolas (1475 e 1477), e à de Filisberto de Saboia uma Instruction del ben vivere (1479), nas quais expôs conselhos sobre a educação moral e intelectual dos futuros governantes. As suas opiniões pedagógicas não divergem substancialmente das da maioria dos humanistas seus contemporâneos, que as radicavam principalmente na lição dos antigos.
Com Mateus Palmieri (1405-1475), no diálogo Vita civile, Leão Battista Alberti (1404-1472), no Delia Famiglia e no De iciarchia, e António de Ferrariis, dito Galateu (1444-1517), no De educatione, os ideais educativos apresentam-se com acentuado predomínio de preocupações de carácter social, acusando o De educatione, que foi dirigido ao preceptor do príncipe Fernando de Nápoles, o sentido nacional, de reação à penetração espanhola na Itália.
Pelo significado histórico-educativo, impõem-se, em particular, as reflexões de Leão Batista Alberti, florentino, de notável família de comerciantes e banqueiros, artista e escritor de múltiplos dotes, pois delineou o ideal educativo, eminentemente ativo, de um chefe de família, sem a estrutura literária, oratória e erudita, então dominante, e sem a finalidade formativa do orador e do gentil-homem cortesão.
No Livro I do De lia famiglia, redigido sob a forma de diálogo e tornado conhecido por 1443, e no De iciarchia, obra da velhice, a propósito do iciarcha, isto é, a um tempo o dirigente da família e o cidadão ideal, expôs Alberti o plano formativo de um chefe de família responsável, de cujo carácter, senso e zelo dependem o bem-estar e o bom nome dos que ele representa e dirige. Com desapreço pelo sentido medieval da educação e pelos excessos da formação literária do Humanismo, o seu ideal de homem ativo não exclui a cultura do espírito, mas opõe ao virtuosismo verbal e à erudição, que acima de tudo desenvolve a memória, o «exercício» e o esforço que conduzem à ação e à originalidade e se tornam individual e socialmente prestantes.
Postos o tipo e o meio social que tem em vista, caracteristicamente florentinos, os interesses permanentes ligados à existência das famílias de tradição burguesa, e o ideal humano a atingir, a formação do chefe de família deve preparar o futuro homem de ação, não se resolvendo unilateral ou predominantemente no gozo estético, na virtuosidade verbal da expressão do pensamento ou nos incentivos culturais de um Mecenas. É destino do homem «bene et beate vivere», mas o culto religiosos e as atividades morais é culturais, com serem fundamentais, não devem ser exclusivas, pois ficariam incompletas se não concorressem para a melhoria material e para o bem-estar social. Por isso, a capacitação do bom chefe de família, na plenitude dos seus recursos e possibilidades, é tão conveniente à família como ao Estado, pelo que a educação deve começar por ter em consideração as tendências individuais, desenvolvendo-se a ação educativa por forma que o educando se exercite a aplicar, com eficiência, três coisas privativas do ser humano: a alma, o corpo e o tempo.
Como o navio, que é construído para navegar e não para estar ancorado, assim o homem deve ser educado para a ação virtuosa, sensata e útil, e não para o ascetismo, para a erudição ou para o virtuosismo estético; por isso, a cultura do espírito não deve consistir somente em leituras, importando primacialmente o saber que se adquire pela experiência pessoal e pela convivência. A escola, por isso, deve preparar para o pleno domínio da própria personalidade e para a eficiência na vida prática e social, funcionando adequadamente a estes fins, como palestra, no sentido antigo, e não como teatro de exercícios de declamação e de competição dialética.
Consequentemente, o plano de estudos devia ter finalidade prática em ordem ao progresso da própria consciência intelectual e moral. À aprendizagem da leitura, da escrita e dos rudimentos da Aritmética, devia seguir-se o estudo das línguas latina e grega, e a leitura dos respetivos clássicos, designadamente Cícero, Tito Lívio, Salústio, Virgílio, Homero, Xenofonte e Demóstenes, mas não ministrados como se o adolescente tivesse nascido na Roma antiga. São escassas as referências de Alberti ao estudo das disciplinas científicas do quadrívio, das quais, aliás, as exigências do comércio na Florença do seu tempo deram ensejo à criação de Escolas de Ábaco, nas quais se ensinavam a Aritmética, os Elementos de Euclides e os rudimentos de Álgebra.