Desde o aparecimento na Itália do ideal formativo com base nas letras clássicas que, a par do humanismo de tendência imanentista, quando não paganizante, se produziu a doutrinação do humanismo cristão, o qual adquiriu maior vulto após a Reforma luterana. Dos teóricos representativos desta tendência sobressai o cardeal Jacopo Sadoleto (1477-1547), humanista e teólogo, que no De libe ris recte instituendis expôs um plano educativo de adaptação da ilustração clássica à formação cristã, que alguns historiadores incluem nas teorizações precursoras do ratio studio rum da Companhia de Jesus.
A educação deve ter por destino a formação do carácter e da personalidade em ordem à constituição de indivíduos prestantes e esclarecidos pela cultura geral, obtida principalmente pelo estudo das letras. Importa, por isso, que a educação comece muito cedo, com a lição dos exemplos, por se gravarem perduravelmente no espírito das crianças, e se fortaleça com o temor de Deus, que a Escritura diz ser o começo da Sabedoria.
Pela primacial e decisiva função educativa que reconheceu à família, robustecida, porventura, por verificar a falta de uma organização satisfatória do ensino público, o cardeal Sadoleto aconselhou o ensino doméstico, ministrado por um preceptor a um pequeno grupo de educandos pertencentes a famílias que se conhecessem e estimassem. A educação teria, assim, por local e centro a vida familiar do que hoje consideramos a classe média, a cujo ambiente, que foi o da sua nascença, atribuiu importância capital.
O seu plano de estudos assentava no conhecimento das línguas latina e grega, que se estudariam simultaneamente, em ordem à cabal inteligência da leitura e à redação correta, dando preferência, ao contrário do comum dos humanistas, aos textos dos prosadores, designadamente de história, pela feição educativa dos exemplos de prudência. Com o estudo das disciplinas literárias cumpria fazer-se o das ciências, particularmente a Aritmética, não só pela utilidade prática como pela preparação da mente para os conhecimentos abstratos, ministrando-se sempre o ensino sem intenção de formar especialistas.
A educação estética teria por base o canto, e o estudo da Filosofia, considerada principalmente como ciência da vida e da felicidade, devia tender a informar a conduta e não apenas a dar coerência ao conjunto dos conhecimentos, pelo que assentaria predominantemente na Ética e na Dialética.