Capítulo VIII - A Contra-Reforma e a Educação. A companhia de Jesus e o Ensino Preparatório

Os colégios da Companhia de Jesus, considerados sob o ponto de vista da instalação e organização dos serviços, do material didático, recreios, etc., representaram, de modo geral, um progresso em relação aos estabelecimentos congéneres, mormente os colégios universitários de Paris. Concebidos como organismos que deviam, na medida do possível, bastar-se a si mesmos e nos quais os alunos vivessem ocupados e satisfeitos, sem emigrarem pela imaginação para a vida exterior, os colégios da Companhia, a par das exigências do estudo e da disciplina, proporcionavam o desenfado das horas de recreio e ocupavam o espírito, animando-o com a preparação de festas públicas e de sessões solenes.

A este respeito são de notar especialmente as representações teatrais. O teatro escolar não foi criação da Companhia de Jesus, pois não falta no século XVI quem o recomende e pratique, quer como exercício de elocução em latim, quer como elemento formativo, do qual o filósofo Francisco Bacon (1561-1626) deu a seguinte justificação: as representações fortalecem a memória, tornam a voz suave, depuram a pronúncia, dão elegância ao gesto, suscitam a dignidade do porte e acostumam os jovens a defrontar assembleias numerosas (De dignitate et augmentis scientiarum [1623], Livro VI, c. 4.°).Não sendo criação da Companhia, o Ratio studiorum estabeleceu-lhe, no entanto, objetivos próprios, concebendo as representações teatrais como lição prática de elocução e, principalmente, como elemento formativo do homem de sociedade e do das profissões liberais. As representações eram feitas na língua latina, não comportavam personagens do sexo feminino e tinham por assunto temas colhidos na Bíblia, na História eclesiástica, na História antiga, etc. Desta bibliografia, que é relativamente abundante, merece referência a peça Sedecias. Tragoedia de excidio Hierosolymae per Nabucdonosorem, do Padre Luís da Cruz, representada durante duas noites, no Colégio das Artes de Coimbra, aquando da visita de D. Sebastião a esta cidade, em 1570.

A expansão do ensino da Companhia de Jesus foi extraordinária em todos os países católicos, alcançando praticamente o monopólio da instrução ginasial ou secundária em Portugal até à expulsão da Companhia, no governo do marquês de Pombal.

O facto tem sido explicado, em relação a determinados países, pelas conceções ético-políticas neles vigentes, e, em relação à cultura geral, pela estrutura clássica, na matéria e na forma, do plano de estudos, pela adequação deste plano às exigências coetâneas da formação das classes dirigentes, pela fama que muitos colégios alcançaram e pela larga quota dada à gratuidade do ensino.


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