Primeira Parte - que compreende os anos que discorrem desde o de 1288 até princípios do de 1537

«Que efetivamente foi tirada desta é o que se deduz do confronto com a de Resende, especialmente das duas passagens que vou transcrever. Lê-se no Fios sanctorum de Fr. Diogo do Rosário: `Tambem em mi, diz o dito padre, que esta historia copilou, esperimentei as marauilhas d'este santo." (Fl. 354 v.) E segue-se um caso acontecido em Tomar. Por outro lado escreve Resende: "Is qui ante me Aegidii nostri miracula scriptis mandavit de se ipso haec retulit." (Fl. 108.) E expõe o mesmo caso. Ora na vida de S. Fr. Gil, que se acha impressa no livro de Fr. Diogo do Rosário, e que, segundo acabamos de ver, é extraída, como a de resende, da que existia em Santarém, diz-se o seguinte a respeito dos estudos do santo: "Depois que este padre S. Fr. Gil passou os annos da mocidade, procuraram seus parentes de o fazer aprender, e elle estudava com grande diligencia... Sendo mancebo aproveitou muito em as sciencias, principalmente em a arte de medicina." Que estes estudos forão feitos em Coimbra se deduz das seguintes palavras, que precedem as que ficam transcritas: "Este illustre varão (o pai de S. Fr. Gil) era do conselho delrei D. Sancho, e vedor de sua casa, porque o amava muito. E em paga de seus serviços, o fez corregedor da cidade de Coimbra, que era naquelle tempo de grande dignidade, por aquella cidade ser a principal de todo o reino." (fl. 349)».

(b) «A obra de Resende, onde se encontra consignado o pormenor em questão, foi composta já depois de mudada a Universidade de Lisboa para Coimbra. Sabemos isto pelo próprio Resende, que escrevia sob o pontificado de Júlio III, "sub hoc P. M. Julio 3" (Vid. f. 11). Ora este pontífice foi eleito em fevereiro de 1550 e faleceu em abril de 1555. Noutro lugar (Vid. fl. 102) menciona Resende, como facto recente (nuper), o nascimento de D. Sebastião (20 de Janeiro de 1554). (Deve notar-se que o livro quarto foi escrito alguns anos depois dos três primeiros. "Cum annos aliquot abfuissem", diz Resende, ".. factum est ut hactenus Aegidius meus ad metam non pervenerit.", etc. Fl. 111 v.)».

(c) «O cronista, que não vejo quem seja senão Resende, emprega a expressão studia litterarum e não studium litterarum, o que efetivamente poderia fazer supor a existência de estudos já organizados com a forma de Universidade. Eis o que ele diz: "Beatus Aegidius magistros coepit frequentare a prima statim pueritia Conimbrigae, in qua urbe, utpote tempestate Regum lusitanorum sede, literarum studia tunc vegebant: suopte vero ingenio et instituto paterno philosophica studia sectatus est, praecipue autem medicinam." (ob. cit., fl. 10.) As palavras de Resende interpreta-as bem Leitão Ferreira, quando diz: "Há fundamento para presumir que, ou na sé de Coimbra ou no mosteiro real de Santa Cruz, se aplicaria aos primeiros estudos S. Fr. Gil; e neste sentido, e não no de haver então em Coimbra universidade é sem dúvida que o mestre Resende escreveu [as palavras que ficam citadas]. Porque nenhum prudente se persuadirá, que asseverasse o contrário, em cousa tão moderna, a respeito das muito antigas, que averiguou com summa exacção." (Vid. § 30, p. 3; cf. Fr. Francisco Brandão, Monarquia Lusitana, p. V, 1, XVI, c. LXXXII, e Historia de S. Domingos, p. I, 1. II, c. XII.) Nem deve ser motivo para reparo o dizer-se que S. Fr. Gil estudara medicina em Coimbra; pois naquele tempo, em que poucas universidades havia ainda, a medicina ensinava-se também fora destas. (V. Fr. E Brandão, /oc. cit.)».

(d) «O facto de ter S. Fr. Gil estudado em Paris não obsta a que ele já antes disso se houvesse dedicado em Coimbra ao estudo da filosofia e da medicina. As duas vidas do santo, extraídas da que se guardava no convento de Santarém, mencionam expressamente a ida de S. Fr. Gil para Paris, afim de aí completar a sua instrução. Assim no Fios sancto rum de Fr. Diogo do Rosário, depois das palavras citadas em a nota a) relativa aos estudos de S. Fr. Gil, lê-se o seguinte: "Por esta causa o mandou seu pai a estudar às escolas de Paris, para se fazer aí licenciado em medicina." E Resende escreve também: "Is igitur cum ex studiis famae dulcedinem, quam jam gustaverat, adamasset, decrevit ad celebrem Parisiorum Academiam profisci, ut illic et litteris eruditior et experientia plenior peritiorque in patriam rediret." (ob. cit., fl. 12 v.)».

(e) «A vida manuscrita de S. Fr. Gil, a que se refere a obra de Quétif-Echard (t. I, p. 474, e não 734), é a mesma que serviu de fonte ao trabalho de Resende: "Ex qua suam confecit Andreas Resendius", diz Nicolau António. Resende não omitiu por certo nenhuma particularidade interessante, ao pôr em latim clássico o manuscrito de Santarém. Não é de estranhar que o R. P. Denifle não encontrasse vestígios deste manuscrito, pois já no século XVII se tinham desencaminhado, como se vê pela seguinte passagem dos Ata Sancto rum mau, III, 403: "Maluissem ipsa antiqua scripta, quamtumvis barbara, invariata hic exhibere ideoque rogarum R. P. Antonium Macedo, novitatus nostri Olisiponensis rectorem,... ut vetera mss. in cartophylacio Scalabitani conventus requirenda ac transcribenda curaret. Sed vana ea diligentia fuit, nihil enim ejusmodi istic repertum, nec quidquam quod oleat vetustatem."».

[II]                                                                                                                                      (§309)

Informa-nos o Prof. Dr. Damião Feres, nosso douto e prezado colega, que «A libra foi uma unidade de contagem monetária introduzida em Portugal no tempo de D. Afonso III. Reputava-se subdividida em vinte soldos, também para efeitos de contagem. A um soldo correspondiam doze dinheiros, moeda efetiva, de bilhão (prata fraquíssima). A frase escrita no testamento de D. Dinis e citada no § 301 ("350 000 libras de dinheiros portugueses") é de emprego vulgar, significando apenas um valor e não que houvesse libras efetivamente cunhadas. À moeda reproduzida em desenho na página 115 dão os numismatas o nome de tornês, sendo hoje geral a opinião de que se trata de um falso; a este respeito convém ter presente o que, mui judiciosamente, escreveu o Dr. Leite de Vasconcelos, no Elencho das lições de numismática: "Há na Biblioteca Nacional uma moeda que já vem figurada na História Genealógica, vol. IV, est. 1.a. O Sr. Teixeira de Aragão menciona-a no seu vol. I, pág. 166, mas suspeita da sua authenticidade; Lopes Fernandes igualmente suspeitava já, conquanto expusesse ao mesmo tempo a hypothese de ella haver sido cunhada por D. Dinis, filho de D. Pedro I, quando pretendia a coroa de Portugal. Pela minha parte direi que a moeda se destaca muito das da epocha e também não a julgo boa. Esta moeda parece imitada das de D. Fernando: anverso... tornês de D. Fernando; reverso... Real de D. Fernando."».

 [III]                                                                                                                                                 (§312)


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