1.°) O Dr. Teófilo Braga (Hist. da Univ., cit., pp. 147-149) desenvolveu e esclareceu a matéria deste parágrafo e do anterior, nos seguintes termos:
«D. Afonso V bem cedo reconheceu que fora instrumento de um ambicioso traidor [refere-se ao desastre de Alfarrobeira], e procurou, talvez sob a influência de sua mulher, D. Isabel, filha do Infante D. Pedro, reparar o atentado em que se achou envolvido. Por Provisão de 22 de Setembro de 1450 deu ordem para se estabelecer em Coimbra a nova Universidade, e que "se levantassem outros Estudos nas mesmas casas das Escholas antigas, junto aos seus paços, que são os do Collegio Real, e que esta Universidade tivesse os mesmos privilégios que a de Lisboa, declarando que não convinha haver neste Reyno uma só Universidade".
«D. Afonso V chegou a nomear o Reitor para a nossa Universidade, Mestre Álvaro da Mota. No começo da versão portuguesa da Vida de D. Tello e notícia da fundação do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra cita-se
o nome do Mestre Álvaro da Mota como o do maior letrado dos Dominicanos no meado do século XV: "E esta obra em latim no liuro dos erdamentos de santa cruz, e foi tornada em lingoagem, porque o entendesem muitos, a requerimento de pedre annes prior de podentes, irmaão de afonse anes conigo de Santa cruz. — E esta treladaçom fez de latim em lingoagem mestre aluaro da mota da ordem dos pregadores, o maior letrado da ordem, estando em santa cruz com o prior dom gomes no anno de LV no mes de nouembro" Fez-se um silêncio absoluto sobre o cumprimento da Provisão de 22 de Setembro de 1450; não chegou a organizar-se a Universidade projetada pelo Infante D. Pedro em 1446, decretada por D. Afonso V depois da sua morte, e como que em sua homenagem. A influência benigna da rainha D. Isabel cessou pela morte dela, envenenada, segundo a frase incisiva de Rui de Pina, que esteve sempre ao lado do espírito vingador de D. João II.»
2.°) Sobre a ilustração de D. Afonso V, seu mecenato intelectual e amor dos livros são dignos de leitura os estudos seguintes: Sousa Viterbo, A cultura intelectual de D. Afonso V, publicado no vol. II (Lisboa, 1904) do Archivo Historico Portuguez; o prefácio de Roberto Corrêa à trad. do Livro da Guerra de Ceuta escrita por Mestre Matheus de Pisano em 1460 (Lisboa, ed. da Academia das Ciências de Lisboa, 1915); Sousa Viterbo, A Livraria Real especialmente no reinado de D. Manuel, em Historia e memorias da Academia Real das Sciencias de Lisboa, nova série, la classe, t. IX, parte 1.a (Lisboa, 1902); Teófilo Braga, Historia da Universidade de Coimbra, cit., vol. I.
[ XIV ] (§ 817)
O Dr. José Maria de Abreu (Memorias..., cit., em O Instituto, II, p. 174) observou a propósito da bula citada neste parágrafo que « o clero... que ao princípio... Promovera o estabelecimento do Estudo geral, via agora, mau grado seu, escapar-lhe das mãos este poderoso elemento de dominação [concentração na Universidade de toda a instrução pública]. Tal era a causa principal, senão única, da resistência, que, nos precedentes reinados, o clero opusera à anexação de algumas igrejas para sustentação do Estudo geral; resistência que subsequentemente prosseguira com maior afinco, a despeito das bulas de Pio II, que, impondo perpétuo silêncio nos litígios, que, por aquele motivo se tinham suscitado, confirmara a concessão das rendas de uma igreja em cada bispado do reino, que a Universidade obtivera no pontificado de XXIII.» O Dr. J. M. de Abreu relaciona este facto com a solicitação de D. Afonso V ao pontífice Sixto IV, referida adiante no § 836.
[XV] (§ 847)
A carta de D. Afonso V à Universidade, de 27 de Fevereiro de 1479, na qual lhe recomendava que elegesse seu protetor ao cardeal de Alpedrinha, D. Jorge da Costa, encontra-se publicada no estudo do Prof. Dr. José Maria Rodrigues, O Infante D. Henrique e a Universidade, cit., p. 30. É a seguinte: «El Rey. Reitores Leentes & Conselheiros Eu vos emuiio mujto saudar. Vy ho que me escrepuestes & omuy sage Lopo da fonseca vosso Reitor & ho bedell da parte dessa Vniuerssidade me disse. Eassu vy oque ocabidoo dessa cidade faz damdo vos aIgreja de sam bertolameu dalffange. Eesso meesmo faley sobre todo com ho Cardeal que pera todo bem & acrecentamento dessa dita vniuersidade me parece que tem muy boõa e saã vontade & ben confio delle & de sua vertude que vos ho semtirees assy ao diante pollo qual E pollo que me vos emuiastes dizer desy pera elle teer mais caussa & Razam de aproueitar em ella & tam bem por eu confiar dello queo fara muy bem & como compre aesse estudo & honrra delle eu lhe Roguey que lhe prouuesse desse emcarregar de proteiroria delle & aelle praz de ho fazer por seruiço de deus & pollo meu & por teer mais causa de vos aproueitar com dicto he. Porem vos encomendo que vos ho emlegaaees em vosso proteitor & aelle Rogo queo aceepte assy & por aquella maneira queo forom os Iffantes meos tyo & jrmaão que deus aja & o eu ora som visto alem das dictas Razoõees como eu por minhas occupaçoõees ho nom posso bem fazer Eper esta presente eu vos Renuncio o dicto carrego de proteitoria em elle porque vossa emleiçam
possaaes fazer despejadamente & agradecemos vos muito & louuamos cujdardes de fazer cousa tam proueitosa como seja teer elle o dicto carrego deuora a xxij de feuereiro de 479 — yo ElRey.»
[ XVI ] (§ 897)
Vasco Fernandes de Lucena, natural de Lucena, na Andaluzia, imprimiu efetivamente a oração de obedientia a Inocêncio VIII; Valasci Ferdinandi utriusque juris consulti, illustrissimi regis Portugalliae orato ris, ad Innocentium VIII, pontificem maximum, de obedientia Oratio. Desta Oração conhecem-se duas edições do século XV, as quais se supõem impressas em Roma, a 1.a em 1485, e a 2.a em 1492; Fr. Fortunato de São Boaventura assegura que foi estampada «em Roma, e no proprio anno, em que foi recitada» (Litteratos portuguezes na Italia ou collecção de subsidios para se escrever a Historia Litteraria de Portugal que dispunha e ordenava Frei Fortunato Monge Cisterciense, pub. por António de Portugal de Faria, Leorne, 1905, p. 79).