Segunda Parte - que compreende os anos que discorrem desde meados do de 1537 até fim do de 1540 (I)

4) Doutor Francisco Gentil, lente da cadeira de Véspera de Cânones, aposentado por carta de 5 de Novembro de 1537 com 14 000 réis de tença.

Dos funcionários superiores da Universidade há notícia do Dr. Francisco Tibao, o qual foi aposentado por carta de 23 de Maio de 1538 com 10 000 réis de tença.

Sobre a forma e o ato da trasladação são dignas de leitura as seguintes considerações do Dr. Teixeira de Carvalho no citado estudo sobre Pedro de Mariz... (no Boi. bibliográfico cit., 1, pp. 540-42):

«A transferência não se fez sem oposição dos lentes que professavam em Lisboa e que aí haviam criado interesses e relações, e a princípio tudo correu um pouco tumultuariamente, refletindo-se esta desordem nos livros universitários. Foi Nicolau Lopes a alma da nova universidade, no cargo de bedel com que fora transferido da de Lisboa com todas as garantias que nela tinha e com os proveitos novos de professor. A sua guarda tinha sido entregue a Livraria do estudo, que na sua mão ficou e só dela saiu pela nomeação de novo bedel e guarda do cartório.

«Os livros não vieram logo para Coimbra. A Universidade não tinha em Coimbra instalações próprias e só as conseguiu definitivamente pela sua passagem para os paços de el-rei. Começaram os trabalhos em Coimbra, estando ainda aberta a Universidade em Lisboa, com professores novos que naturalmente se preocupavam mais com a organização dos estudos do que com o espólio que ficara na corte.»

[ XVIII ]                                                                                                                                                (§ 37)

Os factos vieram a passar-se como Leitão Ferreira escreve na parte final deste parágrafo. Em rigor, porém D. João III não «mandou que logo em cima se lessem as Sciencias, e em Santa Cruz só as Artes e Humanidades»; separou apenas da jurisdição do Reitor da Universidade os estudos do mosteiro, e até recomendava a Fr. Brás que cedesse alguns dos gerais de Santa Cruz para lá lerem os lentes da Universidade. É o que resulta dos seguintes passos da carta de Fr. Brás de Braga, de 9 de Fevereiro de 1537:

«E porque os lemtes que ora vem para começarê ler theologia. canones. leis, e medeçina ham de ser nessa çidade per todo este mes de fevereiro pera começarem leer o primeiro dia de março que hora vem. vos agardecerey se alguús dos geraes que temdes feitos sam despejados pera algufis dos ditos lemtes poderem nelles ler lhos daredes pera em elles lerem e pera os outros folgarey que se lhe busquem casas o mais perto dese mosteiro que pode ser. que sejam pertemcentes pera lerem e os estudamtes ouvirê nas quaes se ordenem logo cadeiras e bamcos e todo ho mais q for necessario.

«E artes se ouviram dos lemtes deses vosos colegios.

«E por que pera o Regimento desta Vniversidade he necesario pera reger os lemtes e escolares aver hy reitor como em todas as outras Vniversidades ho quall pello presemte nã pode ser per eleiçam como he nos outros estudos e hade ser em este eu encarego ora deste carego de reitor a dom garcia dalmeida e lhe escrevo sobre yso pera o elle aver de serujr atee o tempo em que segumdo os estatutos que haa Vniversidade emviarey se ham de eleger reitor e oficiaes o quall reitor somemte emtemdera nos lemtes e regimento das escolas geraes e nam nos dos vosos colegios estam a vosa ordenamça.» (M. Brandão, Documentos..., cit., pp. 23-24).

O alvará de nomeação de D. Garcia de Almeida para reitor da Universidade, de 1 de Março de 1537, confirma esta determinação.

[XIX]                                                                                                                                                      (§ 38)

SOBRE A PRIMEIRA INSTALAÇÃO, OS PRIMEIROS LENTES

E OS PRIMEIROS ESTUDANTES DA UNIVERSIDADE EM 1537-1538

Na matéria deste parágrafo cumpre considerar separadamente três pontos: primeira instalação da Universidade; primeiros lentes e primeiros estudantes.

a) Primeira instalação da Universidade

Não é rigorosamente exata a afirmação inicial deste parágrafo. Sobre este assunto escreveu o Dr. Mário Brandão os seguintes períodos dignos de leitura:

«Quando em Abril de 1537 a Universidade abandonou Lisboa havia já dez anos que D. João III cuidava, paciente e metodicamente, da sua instalação no velho burgo conimbricense, não obstante o que os mestres e escolares ao chegarem aqui se viram sem morada própria em que instalassem a sua escola. E o primeiro ato da vida académica teve, afinal, de se realizar numa sala de empréstimo do hospital citadino...

«Valeu à Universidade o seu reitor E Garcia de Almeida, que a albergou na sumptuosa moradia que possuía junto ao arco romano da Estrela, e que passados alguns anos se consumiu em grande parte num pavoroso incêndio, memorado nos belos versos latinos do Conimbricae encomium de Inácio de Morais.

«Não que D. João III se tivesse desinteressado de dar ao estudo instalação conveniente, pois já vimos como ordenara que uma parte das aulas se abrigasse nos gerais de Santa Cruz, e as demais em casas de aluguer das proximidades do Mosteiro. O que era mais fácil de mandar que executar! Os colégios dos crúzios estavam ainda por acabar, e as casas de renda da cidade baixa não serviam para escolas, pois que a rua da Sofia, dentro de breves anos uma das mais belas do país, ainda se encontrava por construir.

«Além de que não podia agradar à Universidade instalar-se à sombra do Mosteiro dos Cónegos Regrantes!

«O plano da transferência da Universidade para Coimbra, tal como o concebera D. João III, enfermava dum erro que foi a causa da situação ambígua da escola durante alguns anos. Na verdade, quando o monarca planeou o seu estabelecimento junto ao Mosteiro, não atendeu a que a única escola superior de Portugal, ciosa das suas prerrogativas e tradições seculares, jamais consentiria em enfeudar-se a uma autoridade estranha. E olvidou, também, que não haveria muitos religiosos doutros hábitos que se sujeitassem a estudar ou ensinar sob a tutela dos crúzios. Certo é que D. João III nas vésperas da transferência moderara um pouco as primitivas intenções, limitando-se a colocar debaixo da jurisdição de Fr. Brás de Braga aquela parte do Estudo que se instalasse nos gerais de Santa Cruz » (Esboço histórico, cit., pp. 181-183).

b) Primeiros lentes


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