Segunda Parte - que compreende os anos que discorrem desde meados do de 1537 até fim do de 1540 (I)

"… a qual eleçam feta pio modo sobredito me joam Ribeiro ouve dezasseis votos e joam liam nove e o coelhar hú e simã jorge outro e visto plo rector e conselheyros como o dito Me Ribr° ouve os mais votos lhe julgaram a dita cadeira e lhe foi loguo feta prouisam dela mãdando o dito Rector que subise na dita cadeira e tomase pose dela e de seu salairo."

«É, portanto, possível que Henrique de Cuellar, já graduado em artes, fosse para Paris, onde de 1527 a 1537 teve tempo de sobra para se graduar em medicina.»

d) Documentos oficiais sobre Cuelhar. A provisão de 28 de Agosto de 1540, pela qual Henrique de Cuellar venceria «dez mil reis em cada hü anno alem dos sessenta mil reis que já tem.. » foi publicada pelos Drs. A. Rocha Brito (O primeiro dia d'aula., cit., pp. 11-12) e Mário Brandão (Documentos..., cit., vol. 1, p. 245). O Dr. Rocha Brito diz possuir cópia «de mais três provisões (19 de Setembro de 1542, 20 de Setembro de 1543 e 16 de Junho de 1544) que lhe mantêm o aumento de dez mil réis, elevando por fim o ordenado para… oitenta mil réis.»

O Dr. Mário Brandão, no vol. II dos cit. Documentos de D. João III, publicou estas provisões, das quais Leitão Ferreira não referira a de 16 de Junho de 1544.

Pelos seus informes e observações críticas, transcrevemos o artigo que o Prof. Pedro A. Dias dedicou a Cuelhar nos Archivos de Historia da Medicina Portugueza, vol. V (1895), pp. 33-34, pertencente à série intitulada A Universidade de Coimbra. Os primeiros mestres da Faculdade medica, 1537-1556:

«Celebre professor de medicina, que estudou em a Universidade de Pariz, e n'ella sahiu tão eminente que, querendo a magestade de El-Rei D. João III restaurar a Universidade de Coimbra, o mandou chamar para ser um dos seus primeiros mestres, occupando a cadeira de Prima, de que tomou posse a 2 de Maio de 1537, a qual ainda regentava no anno de 1543.»

3) Orientação do ensino de Cuelhar

Os documentos até hoje publicados não autorizam um juízo definitivo sobre a orientação do ensino da medicina no primeiro ano da transferência da Universidade. O Prof. Dr. Rocha Brito (ob. cit., p. 11) não hesitou em escrever que Cuellar, ou Coelhar, ou ainda Colhar, na sua primeira lição, em 4 de Junho de 1537, «sem dúvida, lera, explicara e comentara o Tegne, de Galeno, e mais tarde, o De locis affectis, que juntamente com aquele constituía a matéria dos três primeiros anos. »

Esta afirmação, que se nos afigura conjetural, indica apenas a matéria das lições, não nos esclarecendo sobre a respetiva orientação científica.

Teria Cuelhar posto inteiramente de parte a tradição arábiga para seguir a orientação renascente, de regresso à tradição grega, especialmente de Hipócrates e seus epígonos?

As fontes capitais do esclarecimento deste ponto da nossa história científica encontram-se no livro de Cuelhar, descrito na anotação imediata,

e na correspondência trocada em 1538 entre Cristóbal de Orozco e Fr. Brás de Braga, recentemente descoberta e publicada pelo Dr. M. Brandão; uma e outra, em nosso juízo, inculcam que Cuelhar iniciou em Coimbra, neste primeiro ano letivo da Universidade transferida, o ensino médico com a orientação renascente, ou moderna. Deixando para a anotação imediata, como seu lugar próprio, a observação do livro de Cuelhar, vejamos apenas nesta anotação o que se apura da referida correspondência epistolar.

Em 1 de Fevereiro de 1538, Cristóvão de Orozco escrevia de Salamanca a Fr. Brás de Braga dando-lhe parte da fama que o auspicioso início da Universidade coimbrã lograra, e ao mesmo tempo, anunciava-lhe a oferta de um exemplar das suas Anotações a Paulo de Egina.

Com efeito, Orozco havia dado à estampa, em 1536, em Veneza, in officina Lucaeantonij Iuntae umas Annotationes in Interpretes Pavli Aeginetae Christophoro Oroscio Avthore. Nunc primum in lucem editae ac summa diligen tia excusae, de claríssima inspiração renascente, assim no texto, pelas fontes que utiliza, como na dedicatória da obra a D. Francisco de Bobadilla, datada de Salamanca, calendas de Maio de 1533, na qual se leem estes períodos à maneira de manifesto: nostra hac regione, propter irruptiones et vastationes gotticas, in nocte densissima latuere. Et quod magis dolendum est: nunc êt cum in Italia, Germania, et Gallia, indies reflorescant et in lucem revocentur, sola Hispania graecanicae literaturae oblivionem quandam et ignorationem habet

Fr. Brás de Braga recebeu o livro; dois meses depois, em 1 de Abril, agradecia a Orozco a oferta e participava-lhe que o dera aos mestres que

em Santa Cruz ensinavam a Medicina, os quais lhe louvavam a erudição, assim como a explicação das opiniões dos médicos e dos filósofos

Cuelhar era por então o único lente de Medicina, e se é certo que podem levar-se à conta de lisonjeira amabilidade as palavras de Fr. Brás, não menos certo é que o louvor testemunha o aplauso de Cuelhar à orientação humanista no ensino médico. Demais, cumpre não esquecer que a transferência do ensino médico da Universidade para Santa Cruz, determinada pela carta régia de 26 de janeiro de 1538, se justificou oficialmente pela circunstância de «aos estudantes de fisica» ser «muito proveitoso e neçessario ouvirem artes e philosophia e terem exercicio de letras com os artistas e philosophos.»

Como nota curiosa indicaremos que nos Reservados da Biblioteca da Universidade de Coimbra se guardam dois exemplares da referida obra de Cristóbal de Orozco, um dos quais tem o pertence ms. da livraria do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.

[ XXIX ]                                                                                                                                         (§ 79)

SOBRE O OPUS INSIGNE AD LIBROS TRES PREDICTIONUM HIPPOCRATIS…, DE HENRIQUE CUELHAR

Possui a Biblioteca da Universidade Coimbra um exemplar deste raríssimo livro, que Leitão Ferreira não logrou ver, como facilmente se depreende da redação deste parágrafo.

Enquadrado numa decorativa portada, reproduzida pelo Prof. Dr. Rocha Brito (O primeiro dia d'aula..., cit., p. 14), lê-se este frontispício:

ENRICI A CUELLAR ME-! DICE FACULTATIS PROFESSORIS / PRIMI : OPUS INSIGNE : AD LI / BROS TRES PREDICTIONUM / HIPPOCR. CÕMENTO ETIÃ / GAL. APOSITO ET EXPOSITO. / ANOTATIONES EIUSDEM SU.R./ PRIMO LIBRO QUE INTERLEGÊ / DUM OCCURRERE / NEC NON SVMMARIUS / INDEX EORUM

QUE / OPVS CONTINENT /

CONIMBRIE. / CO GRATIA ET PRIUILEGIO. / M.D. XLIII.

1 vol. de VIII pág. inum. + 448 num. + XI inum. contendo o Index. É a seguinte a ordem das matérias:

No verso do frontispício e na p. II:

PREFACTIO. DIUO IOHANNI PIO, FELICI, INVICTO, LVSITANORUM

REGI FORTISSIMO. AFFRICO, ETHIOPICO, ARABICO, PERSICO,

INDICO, TRIVNPHATORI MAXIMO. ENRICVS A CUELLAR S. D.

No verso da pág. II:

PREFACTIO. EIVSDEM ENRICI AD LECTOREM BREVIS COMMENDATIO; e THOMAS RODERICVS MEDICINE professor, eiusdem artis studiosis.

No verso da pág. III:


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Vamos corrigir esse problema