Segunda Parte - que compreende os anos que discorrem desde meados do de 1537 até fim do de 1540 (I)

PROLOGUS. PROLOGUS OPERIS.

A pág. I começa a obra com o seguinte subtítulo: NOVA AC ADMODVN VTILIS EXPOSITIO SVPER LIBROS PRAEDICTIONVM HIPPO. Feliciter incipit. Edita a peritissimo Enriquo de Cuellar in Sacra medecina doctore Cathedrã prime moderante in Felicíssima Colimbriensi Achademia. aposito etiã Galieni Comento.

No fim: EXPLICIT PRESENS OPvS / primi & secundi & tertii libri predictionü Hip. Cõmenti / etiã Gal. cú Annotatio. ac singulari & noua expositio / ne nunquã visa castigatú ac diligentissime / correctil Apud inclitã Conimbricã. Ex offi. lohãnis / aluari & lohãnis barrerii Calcographor. Nono. / Cal. Aprillis]. Anno M.D.X.LIII.

O confronto do título com o conteúdo da obra levou-nos à suspeita de que o vaidoso frontispício deste livro — Opus insigne... não pertence a Cuelhar.

É por demais sabido que os escritores quinhentistas, sobretudo quando cultores das línguas sábias, sacrificavam com fervor à vaidade e ao orgulho; no entanto, sempre se tornou reparado que um autor designasse de insigne a própria obra e ostensivamente patenteasse tal designação. Se a imodéstia do título gera a dúvida sobre a respetiva autoria, a inserção de notórios erros no frontispício transforma a dúvida em plausível conjetura, senão certeza.

Com efeito, o frontispício declara erradamente que a obra se ocupa dos três livros Das predições de Hipócrates, e que as anotações recaem sobre o primeiro livro deste escrito, que aliás não pertence a Hipócrates; como atribuir estes erros ao próprio Cuelhar, quando a sua obra contém a tradução latina dos três livros Dos prognósticos, e não a Das predições, que aliás não se reparte em três livros, mas em dois, e as suas anotações pessoais não glosam apenas o primeiro livro, mas também o segundo?

Não é crível que Cuelhar houvesse cometido tais erros; por isso supomos que a redação do frontispício pertence aos impressores, e não ao autor, nem a Tomás Rodrigues da Veiga, que expressamente corrige o erro, pois diz no seu elogio haver lido e admirado o opus prognosticorum de Cuelhar.

Cuelhar utilizou como textos e fontes capitais da sua obra os Hippocratis prognostica cum commenta rio Galeni interprete Laurentio Laurentiano Florentino (Florença, 1508 e Paris, 1543) e a Thaddaei expositio in diuinum librum Prognosticorum. Cum Galeni commentario, Veneza, 1527. É o que se depreende do seguinte Praefactio eiusdem Enrici ad lectorem. Brevis commendatio:

«Deus testis conscientie me, quod ad ostêtationem nihil facimus, sed publicã anhelantes vtilitatem (Si quid vtilitatis hoc habet) posquam piissimo Iesu permittente, ex iusu serenissimi regis Iohannis, in hac felicissima Colimbriési Academia medicam facultatem profitemur, ne hora sine frutu pertranseat, quod tëporis a publico legendi labore supstitit, huic Hip. operi dedicauimus. Quod licet a tot celebratissimis viris priscis, ac nostri seculi, expositum sit, ad manus nostras usa peruenit, nisi Thadei expositio, hominis inquã doctissimi, sed ad multa spaciati, ob quod non vt expectabatur, scripssit. Nisus sum ego id tantisper illucidare, saltim ansã dare, affectantibus similê subire laboré. proposuiq3 ad autoris menté, tang ad scopum, intendere, parú diggressus, expositoris officii haud 1memor, non tamen succinte adeo, vt aliquid vtiliú pretermittam, aut obscurius coguar loqui. Gal. una cum Hip. explicando. et si fas est, quandoqã confferens de sententia Gal. sue intêtionis rationê eflagitare. nouã literam Hip. ac Gal. iuxta Laurentiani interprettationê prosequimur, veterê, cú opus sit, ad maiorê lucem citando. Suscipe ergo Lector benigne, hoc nostrú opus, et si quid inaduertenter dictú cõspexeris, pie tolera. dentesq si cui insunt acuti, cohibeat, obsecro, propter numê regium. quod vocaui propitium. ac prope est, alia nostra inscripta videre, que sinam dilacerari libêtius, et famé (si qua est in viuos) saciare suam. Sed o quã longe hec a studiosis quibus hec inscribo.»

Pelo seu interesse histórico-científico, em especial pelos juízos acerca da medicina arábiga e dos clássicos greco-latinos, é digno de estudo o elogio que Tomás Rodrigues da Veiga dedicou ao livro de Cuelhar.

[ XXX ]                                                                                                                                                  (§ 85)

A carta de D. João III para Nicolau Leitão, acerca da mudança da Universidade das casas do reitor D. Garcia de Almeida para os Paços reais, encontra-se publicada pelo Dr. Mário Brandão no vol. I, p. 43, dos citados Documentos de D. João III.

Leitão Ferreira errou a data, pois é, como a referida no parágrafo anterior, de 24, e não de 23 de Setembro.

[ XXXI ]                                                                                                                                                  (§ 87)

SOBRE OS LENTES DA UNIVERSIDADE NOS FINS DE 1537, E RESPETIVOS SALÁRIOS

Anotando a afirmação de Clenardo de que «em toda a Espanha não logram os professores maiores salários» que os lentes de Coimbra, o Prof. Dr. M. Gonçalves Cerejeira no citado Clenardo (2.a ed., p. 105) publicou «a seguinte tabela dos ordenados dos lentes (do fim do ano de 1537), geralmente ignorada e creio que inédita, que se acha em Autos e Pr. de Curso,

3, p. 14 verso (Arquivo da Universidade)», a qual documenta este parágrafo:

SALÁRIO DOS LENTES

theologos

o doctor. Prado                                         c Rs.

O lmõçã                                                      Lxx. Rs.

M jo pedraza                              Lx Rs.

Canonistas de p'ima e Tra. (Prima e Terça)

O L Franc. coelho                                      cL Rs.


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Vamos corrigir esse problema