Segunda parte - que compreende os anos que discorrem desde princípios do de 1548 até o de 1551 (III - tomo I)

«Nos primeiros anos que estes impressores imprimiram em Coimbra usaram de preferência dos caracteres góticos ou meio góticos. Depois passaram a usar dos caracteres romanos, ou caracteres redondos e grossos.»

Mais recentemente, ocupou-se também dos primórdios da Imprensa da Universidade, a propósito de João de Barreira, o erudito Sousa Viterbo in cit. O movimento tipográfico em Portugal no seculo XVI, p. 115:

«É em 1542 que vemos aparecer pela primeira vez em Coimbra [João de Barreira], de parceria com João Álvares, com quem teve sociedade por largos anos, embora, durante esse período de colaboração artística, também trabalhasse por conta própria, aparecendo por dezenas as edições rubricadas exclusivamente com o seu nome. Não sabemos nada acerca das suas origens de família, nem da sua procedência e educação técnica, não faltando quem o queira considerar natural de Espanha. A não ser que viesse amestrado do estrangeiro, é muito possível que a sua aprendizagem se efetuasse em alguma das oficinas de Lisboa. Não é até desarrazoado supor que ele e o seu colega ficassem com parte do material tipográfico de Luís Rodrigues, por isso que não só empregaram alguns frontispícios gravados que se veem nos livros deste impressor, mas até usaram por vezes da sua divisa tipográfica — o dragão alado e enroscado, com a legenda salus vitae.

«Por alvará de 21 de Março de 1548 aprovou el-rei o contrato, que Diogo de Murça, Reitor da Universidade, celebrou com João de Barreira e João Álvares, imprimidores, para haverem de ter a impressão na Universidade, pagando-se-lhes doze mil réis por ano, às terças. Os demais termos do contrato ignoram-se, ou porque o documento original se perdeu, ou porque

não ficou exarado nos registos da chancelaria universitária. É certo, porém, que o contrato deveria ter sido lavrado anteriormente a 1548, pois já em 1547 tanto um como outro se declaram impressores da Universidade, no livro atribuído a Frei Pedro de Portalegre, Meditaçã da inocêtissima morte, acabado de imprimir aos 29 de Julho. E em 1546 era João Álvares comissionado por aquele estabelecimento científico para vir tomar conta a Lisboa do material de impressão, com que D. João III dotara a Universidade.

«Em 1548, tanto um como outro, subscrevem as suas edições como impressores régios.»

 

h) Lentes

a) Teologia — Fr. Diogo de Teixada, franciscano, nomeado por alvará de 25 de Junho para ler nas férias e durante o ano, pelo período de três anos a começar em 1 de Agosto, uma das duas catedrilhas de Teologia criadas para serem lidas durante as férias, com o ordenado anual de oito mil réis (Mário Brandão, Docs. cit., III, p. 184).

b) Cânones — António Correia de Sá, foi nomeado por alvará de 22 de Junho para reger a catedrilha de Cânones que ficara vaga pela renúncia de Denis Filipe, pelo período de dois anos, com o vencimento anual de trinta mil réis (Vid. M. Brandão, Docs. cit., III, p. 182, e Leitão Ferreira, Alpha beto dos Lentes..., p. 270).

— Belchior Cornejo, licenciado, foi nomeado por alvará de 8 de Outubro lente de uma catedrilha de Cânones, além das que já havia, pelo período de 2 anos, com o ordenado anual de trinta mil réis (M. Brandão, Docs. cit., III, p. 189).

 

c) Leis — Manuel de Andrade, Doutor, foi nomeado por alvará de 30 de Janeiro de 1548 lente da cadeira de Sexto por três anos, com o vencimento anual de sessenta mil réis, pagos às terças (Mário Brandão, Documentos de D. João III, vol. III, p. 133).

d) Medicina — Rodrigo Reinoso, lente de prima de Medicina, que havia sido contratado por quatro anos, foi neste ano provida vitaliciamente por carta de 24 de Março de 1548 (Mário Brandão, Docs. cit., III, pp. 142-143).

Reinoso dirigiu uma carta em 19 de maio deste ano, acerca de uma senhora que tivera em sua casa e que o Bispo de Coimbra julgava não ser sua sobrinha. Dá informes sobre a sua situação moral, familiar, económica e docente, e diz que havia feito 54 anos, donde se colige que nasceu em 1494 (Publ. pelo Dr. Mário Brandão, em Alguns Docs., cit. pp. 62-63).

António Luís — Nomeado por Alvará de 13 de Janeiro de 1548 para ler «a cadeira de medeçina ê grego» por mais um ano; isto significa, que leria apenas Galeno, deixando de ler a lição de Aristóteles que acumulara por alvará anterior (Vid. Mário Brandão, Docs. cit., III, pp. 132 (e 82) e Atas dos Conselhos da Universidade de 1537 a 1557, vol. I, Coimbra, 1941, pp. 321-322).

Além deste alívio do serviço docente, António Luís viu o seu ordenado aumentado em mais dez mil réis, pois passou de cinquenta para sessenta mil réis, pelo alvará de 11 de Maio de 1548 (Mário Brandão, Docs. cit., III, p. 168).

Estes dois diplomas mostram que António Luís tinha a proteção de D. João III, por cujo «mandado» viera para Coimbra; e à qual o famoso mestre correspondera dedicando ao monarca alguns dos resultados dos seus estudos sobre Galeno, em Setembro de 1548: Annotationes aliquorum locorum in quibus hallucinatus est Erasmus in transferendo Galeni libello qui inscribitur Exhortatio ad bonas artes.

A existência desta obra, que se conserva manuscrita na Biblioteca da Ajuda, foi-nos comunicada pela Senhora D. Mariana A. Machado Santos, Licenciada em Letras, e tencionamos dá-la oportunamente ao prelo para conhecimento do método e matérias de ensino do seu autor.

Como aditamento às notícias que no anterior volume coligimos acerca de António Luís, reproduzimos os seguintes documentos escritos:

 

a) Processo de António Luís na Inquisição de Lisboa

Como relatou Herculano na Historia da origem e estabelecimento da Inquisição em Portugal, t. II, pp. 210-211, numa manhã de Fevereiro de 1539, «uma proclamação singular apareceu afixada nas portas da catedral e das outras igrejas de Lisboa. Afirmava-se nela que o Cristianismo era um embuste, e anunciava-se a vinda do verdadeiro Messias. A linguagem desse papel sedicioso, sem nome de autor e sem assinatura, revelava ou um excesso violento de fanatismo judaico ou a intenção de irritar os ânimos contra os conversos. Ao lerem-se aquelas blasfémias, a agitação foi geral. Enquanto as justiças eclesiásticas e civis e os agentes da Inquisição diligenciavam por todos os modos descobrir o réu ou réus daquele atentado, el-rei mandava prometer dez mil cruzados de prémio a quem os denunciasse.» Entre as pessoas presas por suspeita conta-se António Luís, cujo processo o Dr. Mário Brandão publica.


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