Segunda Parte - que compreende os anos que discorrem desde princípios do de 1548 até o de 1551 (III - tomo II)

Nada mais encontrámos no citado vol. I dos Conselhos relativamente à visita de D. João III à Universidade.

A oração que ali lhe recitou no dia 8 de Novembro de 1550, na sala grande, o professor Inácio de Morais foi dada ao prelo, se é verdadeira a afirmativa de Diogo Barbosa Machado, que, na sua Biblioteca Lusitana tom. 2º, p. 546, a menciona como impressa, e diz não se indicar porém nela o ano em que foi tipografada.

Nunca lográmos ver ou saber da existência atual de qualquer exemplar impresso, apesar de aturadas diligências e investigações que para isso fizemos em várias livrarias, quer públicas, quer particulares, do nosso país. É pois de presumir que todos tenham desaparecido.

Em 1890 alcançámos felizmente notícia de que na Real Biblioteca da Ajuda existia manuscrita essa oração, conforme nos informou o prestigioso empregado da mesma biblioteca Rodrigo Vicente de Almeida  O que ainda não pudemos averiguar é se esse manuscrito é o autógrafo, ou se um traslado deste ou se da oração impressa.

Tendo nós a maior curiosidade de ler esta composição de Inácio de Morais, com grande empenha pedimos ao referido empregado nos enviasse uma cópia de tal manuscrito, e ele, extremamente obsequioso, satisfez amavelmente ao nosso desejo.

O título da oração, segundo essa cópia, é redigido nestes termos:

Ignatij Moralis oratio panegyrica ad inuictissimum

Lusitaniae Regem diuum Joãnem

tertium nomine totius Academiae Conimbricensis, atque

in eiusdem scolis habita

ipsa etiam Regis Conjuge Augustissima Diva Caterina Lusitaniae

Regina Regis haerede

Principe filio

Divo

Joãne Serenissimo et eiusdem Regis sorore

Diva Maria Serenissima presentibus.

Esta oração revela da parte do seu autor vasta erudição e notável gosto e competência, podendo ser considerada uma das composições mais apreciáveis do período áureo da cultura da língua latina em Portugal.

Eis alguns trechos em que o autor se refere aos serviços que a Universidade recebeu de D. João III, à nobreza dos edifícios de Coimbra, à encantadora situação da cidade e à formosura e beleza das suas cercanias:

«Etenim cum nostri homines suapte natura feroces et indomiti magis studio Martis, quam literarum essent assueti, non passus fuisti, ut inscientiae tenebris diutius versarentur, Numam Pompilium in hoc imitatus, qui Romanos cives bello feroces ad religionis cultum et pacis studia transtulit. Nam et complures adolescentes Parisiorum Lutetiam ad capiendum ingenii cultum tuo sumptu alendos misisti, et novam hanc literarum academiam erexisti, quae non modo externas omnium gentium scholas possit lacessere, sed veteres etiam Athenas in nostra haec tempora et in quo tam paucis annis Lusitana juventus elaborans non excultissima evaserit ? Ex quo satis perspectum est, nostros non minus ingenio, quam armis valere. Circumfer porro oculorum aciem per omnes urbis partes, cerne novos vicos, novas ubique aedes, et tuis impensis maxima mole surgentia aedificia, quibus nec Mausolea, nec barbara Memphis ohm majore apparatu fulserunt. Adde, quod et ipsa coeli temperies et urbis situs academiam commendant, nam et magna parte in edito sita est, et vicino flumine alluitur, ac late patentes campos prospectans, tanta amaenitate circumfluit, ut Thessala Tempe merito quis appellat. Unde et regum alumna Conimbrica et caput regni quondam fuisse memoratur. In hoc igitur tam opportuno loco castra metatus es ad barbariem expugnandam et ignorantiae tenebras perrumpendas. Accivisti undecunque ingentibus praemiis duces eximios, atque omnium disciplinarum armis instructos, qui studiosae catervae ordines ducerent, pro galea et thorace altissimam rerum scientiam objicientes, pro gladiis linguas dissertissimas, pro clypeis doctissimos libros et pro pilis promptissimos calamos»....

É para notar que, assistindo a esta oração a ilustradíssima infanta D. Maria, já então assás afamada pela sua grande erudição e pelo grande amor com que cultivava as boas letras, o orador lhe não fizesse a mínima

referência. É porém certo que dos doutores da Universidade recebeu a infanta D. Maria obsequiosas provas de respeito, louvor e simpatia, como testemunha na Vida que escreveu desta erudita infanta o seu panegirista Fr. Miguel Pacheco:

«Aqui» (referindo-se a Coimbra e à sua Universidade) «se hallo alguna vez nuestra Princesa, por ocasion dei Rey su hermano visitar esta Vniversidad, que hauia fundado en la forma que atraz se dixo, y como sobre el respecto que se deuia a la Real persona de la sefiora Infanta, se afiadia la calidad de erudita, y aun docta en ia profesion de letras, no vbo Cathedratico, ni Maestro que no viniesse a rendirsele con grandissimo affecto y sumission. Hizieronla muchos elogios en prosa y verso, de mano vnos, impresos otros. Dedicaronla diferentes tratados de los Autores, fue el principal aquel varon de tantas virtudes como letras, Martin de Aspilcueta Nauarro, que entonces regentaua la cathedra de prima dei derecho Pontificio, y le dedico el que estaua componiendo de Iubileo, como Manuel da Costa tan grande Iurisconsulto en el derecho ciuil, como declarã sus obras, otro suyo, y todos los demas a este modo».

A obra a que Fr. Miguel Pacheco se refere no trecho transcrito, dedicada pelo insigne professor Martim de Azpilcueta em 1550 à infanta D. Maria, foi impressa em Coimbra no mesmo ano com o seguinte título:

Relectio. § in Leuitico sub cap. Quis aliquando. de poenit. dist. I. quae de anno iobeleo, & iobelea indulgentia principaliter agens, totam indulgentiarum materiam exhaurit....

Da elogiosa dedicatória do autor à infanta transcrevemos alguns dos períodos em que ele explica os motivos que o levaram a dedicar o seu livro à insigne literata:

«Ad idem etiam me impulit quod hesterno die, qui Conimbricae alluxit foelicissimus, mira cum iucunditate, hanc regiam, quae florentissima est,

Academiam primüm inuisisti: ita comitata regem, et dominum nostrum prudétissimum, reginam iustissimam, et principem regem designatum, indole fortissimum: eandem Academiam opus manuum suarum insigne, sublime, ac summum etiam primüm inuisentes, vt comitari solet prudentiã, iustitiã, et fortitudinem, illa quae omnia cohonestat et condecorat, modestia longe pulcherrima. Decereq; videbatur, vt ipse, qui licet aliàs postremus: canicie tamen et functione inter eius regi, reginae, ac regi designato amniú fuimus singulatim aliquid dicaui: tibi et a tot populis et gentibus in reginam ardentissime optatae, petitae, ac stagitatae ad eam primum venienti primus non nihil dicarem».         

Nas Notícias Cronológicas da Universidade de Coimbra, Segunda parte, tratando-se do insigne Dr. Manuel da Costa, fl. 75, lê-se:   

«No anno de 1551 (deu à luz) os commentarios "Ad §. si arbitratu, L. cum tale, ff. de conditionibus, et demonstrationibus", impressos na mesma cidade de Coimbra, por João de Barreira, e João Alvarez, in folio, e dedicados á Rainha Dona Catharina. Na dedicatoria se gloria elle muito da inestimavel honra que no anno antecedente recebera, quando El Rey Dom João 3º foi visitar a Universidade com toda a sua corte, de ser ouvido dos mesmos Monarchas, e Rainha, do Principe Dom João, e da Infanta Dona Maria, e da Fidalguia, e Nobreza, que os acompanhava, na Repetição publica, que fez naquella ocasião, em o mosteiro real de Santa Cruz; que foi hüa heroica ostentação, em que triumfarão as suas letras, e o seu nome, da emulação e da enveja.          

«Cum igitur (diz elle na Dedicatoria áquella Serenissima Rainha) lucubrationes meas circa titulum de conditionibus in unicum Papiniani responsum, et duos Selectarum Interpretationum libellos, veluti in Epitome redigissem, atque in publicum edere decrevissem, quod multa in his fore arbitrarer, quae juris studia juvare possent, in materia conditionum lumen afferre: Maiestati Tuae merito consecavri debere eas existimavi. Nam cum superioribus diebus in hâç regià Urbe, apud Coenobium D. Crucis hanc  


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Vamos corrigir esse problema