Miscelânea. O tricentenário de Francisco Suárez e o Congresso Internacional de Granada

Na segunda parte do seu discurso, o Dr. Alberto dos Reis procurou traçar o perfil de Suárez, sob o ponto de vista moral; mostrou que o prestígio e a autoridade do Doctor Eximius não podiam de forma alguma ser um produto do artifício ou do favor, e sustentou a tese de que a fama de Suárez não é senão o índice exato do seu merecimento .

Fala ainda o jovem Padre David, da Columbia, que calorosamente transmite ao C. a adesão da América espanhola e, por fim, o Sr. Bispo de Portalegre, em nome do episcopado português, entusiasma a assembleia, que religiosamente o ouviu e aplaudiu.

Muito propositadamente deixamos para agora a representação da Alemanha, pelas condições especiais em que se deu. Inaugurado o C., a Junta solicitou do embaixador alemão em Madrid a nomeação dum delegado, não fosse pensar-se que o C. quebraria a sua neutralidade...

Investido o Dr. Poschmann, diretor dum colégio em Madrid, nessa elevada missão, cumpriu-a proferindo uma alocução que, embora concisa, foi fecunda em consequências, suscitando logo protestos perante a presidência, da parte duma missão estrangeira, e, mais tarde, críticas acerbas em revistas e jornais, repercutindo-se até na Câmara Francesa. Intitulando-se representante «dos homens de ciência alemães», o Dr. Poschmann orgulhava-se que a sua pátria apreciasse o labor gigantesco do sábio granadino, editando-lhe, em Mogúncia, no século XVII, as suas obras, interpretando-o e comentando-o nas suas universidades e inscrevendo o seu nome numa das ruas mais importantes de Berlim: a Suarezstrasse.

Há nesta alocução muito de exagero e alguma coisa de menos verdadeiro ; mas apesar disso, pelo exagero talvez, impressionou tanto a assembleia, na sua maioria de estudantes, que longamente a aplaudiu com frenéticas palmas...

A missão universitária chegou a Granada no dia 23, sendo aguardada na estação pelos Srs. Luis L. Dóriga Meseguer, Alfonso Izquierdo, Miguel M. de Pareja, Mata y Morales e Garcia Goyena, em nome da Junta do Centenário, Eloy Senán, Martín Berrueta, Gómez Izquierdo e Surroca y Morales, pela Faculdade de Filosofia e Letras e Hidalgo, Torres Campos e Garcia Valdeclasas, pela Faculdade de Direito, que amavelmente a acompanharam ao hotel. Neste mesmo dia era recebida pelo Arcebispo, que lhe prodigalizou todas as atenções, acompanhando-a na visita às preciosidades artísticas e bibliográficas do seu paço. No dia 26, a Univ. oferecia um almoço ao Ministro de Instrução Pública, para o qual convidou a missão universitária, distribuindo-lhe lugares de honra. No final, o Reitor da Univ. Central, D.S Jose Carracido, como senador pela Univ. granadina, brindando ao Ministro, terminou com uma homenagem à Univ. de Coimbra e aos seus representantes. O Dr. Eugénio de Castro agradecendo em breves e delicadas palavras exprimiu a gratidão pela honra dispensada e afirmou o prazer dos representantes da Univ. de Coimbra em colaborar com os seus colegas de Granada nas festas do Centenário. Servem os congressos mais para aproximar intelectuais que promover diretamente o avanço da ciência; e em verdade deve dizer-se que as Fac. de Letras e Direito de Granada foram inexcedíveis de deferências e gentilezas, bem como a Junta do Centenário. O prof. Martín Berrueta acompanhou-a na visita aos principais monumentos da cidade, guiando-a com o seu saber e valimento e esclarecendo-a com o seu delicado sentimento de artista. Na véspera da partida da missão, oferecia-lhe um almoço íntimo, no seu paço, o Arcebispo, e o Dr. Eugénio de Castro, a instantes convites do Prof. Berrueta, fazia, na sua cátedra de «Teoria de las Artes», uma conferência sobre «A Arte em Coimbra», perante um público selecto, na maioria professores. Apresentado pelo Decano da Fac. de Fil. e Letras, Sr. Eloy Senán, nos termos os mais elogiosos para o artista e para o prof., o conferente acentuou o lugar de Coimbra nas artes portuguesas e evocando belos motivos em belas palavras terminou com um paralelo da paisagem portuguesa e castelhana, no que elas têm de diferente e expressivo nas artes dos dois povos. Em seguida, na sala nobre da Fac. de Fil. e Letras, com a assistência de todos os seus professores, faziam-se as despedidas e, por fim, o distinto prof. da Fac. de Direito, Fernando de Los Rios Urruti, como último testemunho de cativante gentileza, recebia-a na sua «classe».              

Partiu a missão no dia 29 para Portugal; mas apesar da hora matutina compareceram ainda na estação alguns profs. como Eloy Senán e Berrueta e delegados da Junta do Centenário.     

Sobre a representação de Portugal escreveu Paul Dudon o seguinte:

«Les intellectuels de Portugal se sont souvenus que Suarez enseigna pendant vingt ans à Coïmbre, et que Lisbonne garde sa tombe. Ils ont voulu que nul ne les surpassât en zèle, pour glorifier celui qui rendit célèbres leurs écoles. Le P. Antoine Meneses, jésuite, présenta à l'assemblée le résumé de trois mémoires étendus: un de lui sur l'origine du pouvoir d'après Suarez; un du P. Louis de Azevedo sur Suarez et le juriste régalien Pereira de Castro; un du P. Joachim Abranches sur la formation intellectuelle de Suarez. En 1897, l'Université de Coïmbre n'avait pas manqué de célébrer le centenaire de la prise de possession par Suarez de la chalre de théologie dite de prime. Le docteur Antonio Garcia Ribeiro de Vasconcellos, professeur de théologie, avait consigné dans un superbe volume le résultat de ses doctes recherches et son ardente admiration pour Suarez. Il a paru au corps professoral de l'Université qu'un tel hommage était insuffisant. M. Joaquim de Carvalho a écrit une brochure: A teoria da verdade e do erro nas disputationes métaphysicae de Francisco Suarez (doctor eximius). M. Manuel Paulo Merêa a publié une étude intitulée: Suarez jurista. O problema da origem do poder civil. Leurs collègues, M. Eugénio de Castro, l'un des grands poètes portugais de l'heure présente, et M. dos Reis, professeur à la Faculté de droit, étaient aussi venus à Grenade. M. dos Reis prononça au Congrès, sur les travaux de Suarez, une conférence d'une inspiration très élevée et d'une cordialité impressionnante. Mgr l'évêque de Portalègre devait à la mémoire de son devancier, Rodrigo da Cunha, le grand ami de Suarez, de prendre la parole. Il le fit avec une onction évangélique et une bonne grâce parfaite».

A Junta não publicou ainda o relatório do Congresso, nem reuniu em volume todos os trabalhos apresentados, aguardando, decerto, a sessão final, a que aludimos. Todavia já se publicaram algumas notícias, tendo nós conhecimento das seguintes:

Paul Dudon — Le Congrès de Grenade et le troisième centenaire de la mort de Suarez (1617-25 Septembre 1917), in Études, t. 153 (20 Nov. 1917).

Centenário de Francisco Suarez (Doctor Eximius), in Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, ano IV, n." 31, 32 e 33 (1917).

Le feste centenarie di Granata, in Rivista di Filosofia Neoscolastica, fasc. I, ano X (Janeiro 1918).

E sobre a bibliografia:

Suarez et son ceuvre a l'occasion du troisième Centenaire de sa mort (1617-25 Septembre 1917), por ERNEST-MARIE RIVIÈRE e RAOUL DE SCORRAILLE, Toulouse. 1918.


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