Alguns trabalhos da Prof. Senhora D.Carolina Michaëlis de Vasconcellos

A lista de trabalhos da insigne Prof. Senhora D.S Carolina Michaëlis de Vasconcellos, que adiante inserimos, visa apenas a acentuar alguns aspetos do seu fecundíssimo e variado labor. Uma bibliografia exaustiva, dilatada e dispersa como foi a sua atividade literária, exigiria demoradas investigações, apesar da notável contribuição do Prof. José Leite de Vasconcelos, publicada no volume V do Boletim da Segunda Classe da Academia das Sciências de Lisboa, (1912) dedicado à excelsa romanista e historiadora da literatura portuguesa. Demais, sabemos que o Dr. Gerhard Moldenhauer, em momento oportuno, que não vem longe, publicará os resultados da sua cuidadosa investigação, tendo orientado o seu minucioso trabalho sob um rigoroso critério cronológico. Os livros para os quais chamamos particularmente a atenção dos nossos leitores são os seguintes:

Cancioneiro da Ajuda. Texto, notas, esquemas métricos, investigações bibliográficas, biográficas e histórico-literárias. 2 vols., Halle, 1904.

Geschichte der portugiesischen Litteratur, publicado no Grundriss der romanischen Philologie de G. Grõber, (II, 2), 1904.

Randglossen zum allportugiesischen Liederbuch, in-Zeitschrift für romanische Philologie, vol. XX e segs.

Poesias de Francisco de Sá de Miranda. Edição crítica, acompanhada de um estudo sobre o poeta, variantes, notas, glossário e um retrato. Halle, 1885.

Novos estudos sobre Sá de Miranda, in-Boletim da Segunda Classe da Academia das Sciencias de Lisboa, vol. V, (1912).

Estudos Camonianos:

1.-0 Cancioneiro de Fernandes Tomás, Índices, nótulas e textos inéditos. Coimbra, 1922.

II. — O Cancioneiro do Padre Pedro Ribeiro. Coimbra, 1924.

Artigos vários sobre a bibliografia e lírica de Camões publicados no Círculo Camoniano na Zeitschrift, cit. e na Homenagem a Camões, (1902), etc.

Vida e obra de Luís de Camões. Versão do original alemão de W. Storck, anotada. Lisboa, na Academia das Ciências, 1898.

Anthero e a Alemanha, in-Anthero de Quental, In Memoriam. Porto, 1896.

A Infanta D.S Maria de Portugal e as suas damas. (1521-1577) Porto, 1902.

Uma obra inédita do Condestável D.S Pedro de Portugal — Tragedia de la insigne reyna Do fia Isabel, in-Estudios de erudición espar-zola en honor de M. Menéndez y Pelayo, e em eD.s independente. Coimbra, 1922.

Investigações a respeito de Sonetos Portugueses e Castelhanos, in-Revue Hispanique, tom. XXII, (1911).

Estudos sobre o romanceiro peninsular, in-Cultura espah'ola, Madrid, 1907- -1909. Há separata.

Mestre Giraldo e os seus tratados de Alveitaria e Cetraria, Estudo literário e contribuições para o futuro Dicionário Etimológico das línguas românicas peninsulares, in-Revista Lusitana, vol. XIII, (1910).

Uriel da Costa:

1.—Notas relativas à sua vida e às suas obras in-Revista da Univ. de Coimbra, vol. VIII, (1992).

11.—Notas suplementares relativas à sua vida e obra. Na Lusitania, fasc. I, 1924.

Autos Portugueses de Gil Vicente e da escola vicentina. — Introdução à eD.s facsimilada do Centro de Estudios Históricos. Madrid, 1922.

Notas Vicentinas: — Preliminares de uma edição crítica das obras de Gil Vicente:

1.—Gil Vicente em Bruxelas ou O Jubileu de Amor, in-Revista da Universidade de Coimbra, vol. I, (1912).

11.—A Rainha Velha e o monólogo do Vaqueiro, ibiD.s, vol. VI, (1918). 111.—Romance à morte dei-rei D.S João III, ibiD.s, vol. VII, (1919).

IV. —Cultura intelectual e nobreza literária, ibiD.s, vol. IX, (1922).

Introdução às Obras de Bernardim Ribeiro e Cristóvão Falcão, publicadas na Biblioteca de Escritores Portugueses, vol.1, Coimbra, 1923.

Colaborou, dentre outras, nas seguintes revistas:

Revista da Universidade de Coimbra.

 Revista Lusitana.

Lusitania.

Archivo historico Portuguez.

O Instituto.

Boletim Bibliográfico da Biblioteca da Universidade de Coimbra.

Biblos.

Boletim da Segunda Classe da Academia das Sciencias de Lisboa.

Circulo Camoniano.

Revista da Sociedade de Instrução do Porto.

 Zeitschrift für romanische Philologie.

 Romania.

Revue Hispanique.

Bulletin Hispanique.

Revista de Filologia Espanola.

Cultura Espanola.

Prefaciou vários trabalhos, dentre os quais, pela sua elevada significação nacional, merece especial registo o que consagrou ao Romance de Amadis composto sobre o Amadis de Lobeira, por Afonso Lopes Vieira, (Lisboa, 1922).

D. CAROLINA MICHAËLIS DE VASCONCELOS

O ano de 1925 ficará tristemente assinalado na nossa historiografia pelo falecimento de D.S Carolina Michaëlis de Vasconcellos e Henrique da Gama Barros. Nestes infatigáveis trabalhadores culminaram dois aspetos da erudição nacional, e a despeito das diferenças de atitude mental e divergência de estudos, as suas obras são das raríssimas da nossa época que assumiram aquele aspeto de tranquila e sedutora perdurabilidade dos grandes monumentos eruditos do século XVIII.

Há livros que subsistem pela fecundidade das ideias e pela expressão, conceitual ou sentimental, das aspirações mais nobres ou necessidades mais vivas do espírito; mas há outros, de mais modesto desígnio, e que nem por isso deixam de se tornar companheiros inseparáveis do estudioso da humanidade ou duma nação. São o vademecum do erudito, do crítico e do observador do espírito humano, e todo o seu valor reside na soma de factos que condensam, na segurança de método com que são trabalhados e no apuro sereno dos resultados. As obras de D.S Carolina Michaëlis de Vasconcellos são desta estirpe. Não pretende isto significa que não traduzem, de par, uma conceção da vida e uma hierarquia de valorização estética.

Transparece dos seus escritos magnos uma íntima confiança «no homem colaborador de Deus», e embora se comprazesse na exaustão minuciosa da análise filológica, em seu vívido conceito a filologia era «amor do logos», quer dizer: da universalidade das ciências do espírito. Foi este racionalismo que constituiu a base da sua Weltanschaung e se diversificou, sob a forma de erudição, numa vastíssima curiosidade, que com igual probidade, carinho e agudeza estudava as palavras e as ideias, a biografia e as atitudes espirituais, a etnografia e as criações livres da imaginação ou do raciocínio. A esta luz, a sua obra é das mais extensas que a nossa cultura contemporânea regista. Independentemente deste aspeto, poucas se lhe poderão comparar na intensidade dos resultados. Foi D.S Carolina Michaëlis de Vasconcellos quem, pela primeira vez em Portugal, fez a edição sabiamente crítica, — tais as Poesias de Sá de Miranda (1885), por então saudadas por Camilo e Antero de Quental, e o Cancioneiro da Ajuda (1904) — e não será de surpreender que um julgador futuro faça datar destes trabalhos um novo período da erudição literária entre nós.

A lírica camoniana, a obra vicentina, o romanceiro, por exemplo, foram esclarecidos por esta mente aguda e sabiamente conhecedora das literaturas peninsulares; mas o espírito que sem sombra de tédio exauria a crítica externa, manifestou também, com exuberante riqueza de simpatia, uma compreensão íntima da obra de arte. E assim é que alguns aspetos da atividade literária nacional, como o lirismo trovadoresco, a novelística pastoril e de cavalaria, foram inteiramente renovadas na nossa cultura por este engenho peregrino. Não é da sua pena o mais compreensivo conspecto da literatura antiga nacional, lastimosamente quase desconhecido?


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