Figueira, 20/9/947.
Meu querido Rafael:
Li com crescente prazer o original do teu novo livro e cativa-me sobre¬maneira que me tivesses dado as primícias da sua leitura.
Chamas-lhe «Memórias dum Ferro-Velho», e com efeito são memórias, porque todos os artigos estão impregnados de uma carga pessoal, quase sempre emotiva e aquém e além humorística; mas quanto a serem de «um ferro-velho» já não sou do mesmo parecer, porque a tua prosa tem a esponta¬neidade de uma nascente, e a maneira de tratar os assuntos a frescura de quem solta sem atavios a caneta sobre a brancura do papel.
São visíveis os teus progressos como escritor, rico de cambiantes, isto é, de facilidade em versar com estilo adequado tanto a recordação pun¬gente, como a facécia divertida, a descrição que esclarece, como o relato que desenfada.
Abraça-te o teu velho amigo
Joaquim de Carvalho
|




