Discours Pathétique au sujet des calamités présentes arrivées en Portugal par le Chevalier d'Oliveira. Notícia bibliográfica

Na pagina 11 entra o A. a revestirse de zello de Ministro do Senhor clamando, e pedindo ao mesmo Deos illumine ao infeliz povo de Portugal sepultado no Abismo de tantos erros, e transgressoins da dita Ley, erros e descaminhos em que se acha tãobem Sua Magestade que seguindo os errados passos de seus Antepassados igualmente como elle enganados pelos Operarios da iniquidade (por estes entende o A. os Sacerdotes, e Pastores das' almas) hé cauza ainda que innocente de tanta desordem, por dar auxillio aos que se oppoem a recepção da Divina palavra no nosso Reyno.

Na pag. 12 quer persuadir a Sua Magestade que lendo o Cap.° 20 do Exodo, passe logo a confrontal-o com os nossos catecismos liturgios, obras de moral etc. e achara a Ley de Deos mutilada, e truncada como por exemplo o primeiro preceito do Decalogo em que o Snr. prohibia expressamente o culto dos Santos e adoração das imagens.

Na pag. 13 vai expondo o A. como esta idolatria, e superstição gentilica lançou mais profundas raizes em Portugal, e ao mesmo tempo que já muitos Paizes Catholicos Romanos comprehendendo ainda a Italia, e a cidade de Roma, tem perdido muita da sua força os Portuguezes excedendo na idolatria aos mesmos Gentios se tem esquecido do seu creador, e tem desprezado, e renegado do seu Redemptor, tributando o culto que lhe era devido a vans imagens, e simples creaturas; no que bem longe de honrar aos Santos os envilessem irritão se acaso he (diz o A.) que os taes Santos conhecem as adoraçoins que lhe rendem, e estes mesmos nunca derão culto a creatura alguma e somente a Deos.

A origem deste engano supersticioso, e idolatra em que tem cahido o nosso Portugal traz a origem na sugeição com que os Portuguezes se tem abandonado como innocentes ovelhas á conducta, e governo dos seus Pastores, e ainda a alguns destes desculpará a ignorancia, por serem só capazes do officio de Pastores ao pe da letra, aos mais não valerá esta disculpa, alias internamente persuadidos de quanto hé prohibido na Ley Divina o culto das imagens. Nisto gasta desde a pag. 14 athe 16, aonde nota a circumstancia do dia de todos os Santos em que succedeo o Terremoto, e a do logar em que muitos padecerão a maior ruma que forão os Templos aonde se offerecia aos Santos este culto supersticiozo, de que elles todos se revindicárão no seu dia; como tão bem as Almas do Purgatorio no seguinte dia, e em todo aquelle oitavario que foi funestissimo para este Reyno, e em que os Portuguezes fazem os maiores sufragios pelas almas que suppoem no Purgatorio, o qual não he mais que chimerico e imaginario forjado pela avareza e cubiça dos nossos sacerdotes, afim de arrancar ao povo as somas imensas que tem gasto em mandar dizer missas tão inutilmente, e tão rediculamente e que assim as mesmas almas detestavão a superstição, e não tinhão necessidade alguma dos nossos sacrificios.

Na pag 17 prosegue o A. a descobrir a primeira origem de tanto mal que sobreveio a Portugal, e diz que hé a prohibição que nelle fez o Tribunal do Santo Officio das biblias em lingoa vulgar, e consequentemente da lição, e meditação da Divina palavra, prohibição igualmente perniciosa à Republica Christaã como seria para o governo e estado do nosso Reyno se nelle se prohibissem as Ordenaçoins em lingoa vulgar, só se admitissem na lingoa estranha, a este estado se reduzia em Portugal a Divina Ley que por dóllo, interesse e todos os caminhos criminosos dos Maos (os Sacerdotes, e Pastores) se acha nos nossos catecismos mutilada, truncada, e de sorte estropiada que se vem a ensinar aos meninos novas, e execraveis doutrinas; o que a dita justiça veio a intimar, e castigar com a horrorosa voz deste proximo castigo; assim athe pag. 19.

Passa o A. a propor a Sua Magestade a 2.a verdade e cauza do presente castigo, e diz que he a horrivel, e cruel perseguição que em Portugal se exercita há tantos anos no Tribunal do Santo Officio de que são protectores e executores os Familiares que são a maior parte da nobreza de Portugal, com quem entra a fallar nesta matéria dandose por compatriota, pois nasceo em Lixboa a 21 de Mayo de 17(0)2, e foi batizado em S. Mamede o 1º de Junho do mesmo anno pelo Reverendo Prior Thomè Antunes Madeira. Ainda estando o A. em Portugal entrou a ter grandes duvidas sobre o procedimento do Tribunal do Santo Officio, porem o temor as suffocava, ainda que não deichava de se comunicar nesta materia com os seus amigos que estavão do mesmo accordo: muitos delles ainda estão vivos e por caridade os não nomeia só aponta nas notas alguns que já falecerão, e lhe comunicarão por varias vezes o horror que tinhão a este infame Tribunal, como Jozé da Cunha Brochado, Martinho de Mendonça de Pina de Proença Homem, o P. Hypolito Moreyra jesuita, o P•' Fr. Manoel Guilherme Dominicano, o P.' Manuel Ribeyro da Congregação e Tio do Author, o Bispo de Lamego filho do Duque do Cadaval, o Conde de Tarouca, e D.S Luis da Cunha, assim athé pag. 21.

Protesta o A. ter abjurado a Igreja Romana para abrassar a protestante (cujos sectários, nota elle, mostrão ter mais amor de Deos e do Proximo como se vio no presente delRey de Inglaterra). Para seguir esta nova Religião não o moveu interesse algum porque deixou em Portugal as maiores delicias, e conveniencias, sua may e irmãos para se retirar a hum canto do mundo aonde vive e aonde podia inquietar o zelo de fazer a Portugal este avizo, em tempo em que tendo já a cabeça toda branca, e a mão trémula, não pode ser suspeitoso de outro interesse, mais que da salvação das nossas almas. Por tanto notefica, a nobreza, povo e familiares do pertendido Santo Officio que nunca já mais lhe professem submissão nem obediencia com seus Ministros, que hé ja tempo de sacudir hum jugo que nos envilêce, e nos arruina, e que nossa fidelidade e obediencia seja restricta ao Rey somente assim athé pag. 28.

Daqui desfecha o A. na mais horrenda calumnia contra o Santo Tribunal, e os seus Ministros, que mete horror, e faz intimidar a minha idea só de a considerar, ao Santo Tribunal chama em varias partes Tribunal infame, cruel, tirano, injusto, Officio Diabolico, e digno de ser sepultado nos Abismos. Aos Senhores Inquizidores, e mais Ministros do Santo Officio trata, e chama Raça maldita de Deos, aborrecido de todo o genero humano, criminoso para Deos, rediculos para os homens, Perfidos, sanguinarios, coraçoins Pharaonicos, incorregiveis, impostores, falsarios, malvados, inimigos declarados de Deos e do Proximo; e protesta o A. que em todos estes nomes lhe não faz injuria porque o nome de Inquisidor de que os Ministros do Santo Officio tanto se jactão hé o mais injuriozo, e odioso que se pode dar a hum mortal. São muitas mais, e atrocissimas as injurias que profere contra os Ministros do Santo Officio, e este Santo Tribunal que diz ser obra do infame Saavedra (cuja historia nota a margem) diz que ha fautor da Ignorancia de Portugal na prohibição da Biblia em vulgar e em fazer odioso o estudo das controversias em que os seus Protestantes sahirão sempre victu¬riosos contra o Catholicos Romanos, em fim que este Tribunal he directa-mente oposto à Politica, e Governo da Coroa, e as prosperidade e interesse  do povo; ultimamente para dizer tudo quanto elle trata por longas paginas athe a pag. 34, trarei aqui huns versos em que o A. diz se descreve ao vivo o que o Santo Officio, e he obra, diz, de um nosso compatriota.

Haec maledicta Domus furibunda imago Gehenae

 est fabricata sacra fatiferaque manu.

Saevo Inquisitionis caecum ac turpe Tribunal

instituens, Regni debilitavit opes.

Quae mala non alfert hoc implacabile monstrum!

 Maestitiam, angores, dedecus, atque neces!

Imposuit servile jugum, et ter amata libertas

 dulce bonum vitae, proh dolor! interiit!

Est Sophia ex terris: sola ignorantia regnat.

 Quis dubitat, taceat: quaerere nemo protest.

 Biblia versantes Sancta apellantur iniqui;

opposita esse putat scire et habere fidem.

 Nemo potest isthic tranquille vivere vitam;

 perpetui Comites sunt timor, atque tremor.

 Hoc perturbatum Chaos in qua Sede moratur,


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Vamos corrigir esse problema