Excerpta Bibliographica Ex Bibliotheca Columbina

citra et ultra mare in Africa et Dominus Guinew, Vestram Beatitudinem velut sidus quoddam illustre et micans e clelo humano generi missum esse: quo remige, imo duce, vaga per universum orbem navicula Petri tuta non flueret. Fatetur vos verum Pontificem, fatetur hanc Sanctam Sedem, et hand Sacerdotalem et Regiam Urbem, in qua gens sancta et populus electus, verum totius Orbis caput; velut is qui  in lacte suxit, et qui a maioribus suis hoc glorioso ornamento insignitus est: qui inter multas scismatum factiones, quot superiora tempora fuere, nunquam a Romano et vero Pontifice desciverunt: quod  nescio an alii imperatorhe et regia domui unquam contigerit. Fatetur vos verum successorem ejus, de quo Isaias: Recordatus est Dominus dierum seculi, qui suscitavit de terra pastores ovium . Fatetur gravissimus Rex, Romanm Ecclesi observantissimi  et Christiani cultus ampliator, coram quo Reges lEthiopum procidunt, et cui singulos annos munera offerunt;Vestram Beatitudinem vere  vices ejus in terris gerere, de quo David in / Psalmo DOU. Et dominabitur a mari usque ad mare; et a Ilumine usque ad terminos orbis terrarum. Coram illo procedent iEthiopes, et inimici ejus terram lingent. Reges Tharsis et insulie munera offerent: reges Arabum et Saba dona adducent: et adorabunt eum omnes Reges: et omnes gentes servient ei. Pollicetur se omnia qua! ad obsequium, que ad honorem, que ad dignitatem Vestrw Beatitudinis, et Sacri hujus Senatus pertinebunt, etiam cum capitis discrimine, sanguinis effusione, et fortunarum omnium erogatione, facturum: pro cujus salute et amplitudine ejos opera, gratia, et fides nullo loco, et nullo tempore deerit: quicquid imperio valet, opibus prwstat, fortuna pollet, Vestr Beatitudini liberalissime offert. Obsecrat, obtestatur pientissimus Rex per Christi Jesu effossum latus, quo Ecclesiam  hanc consecravit; et per ejus nomen ac  vices, quas in terris Vestra Beatitudo gerit; ut cum res exegerit, regno, civitatibus, oppidis, arcibus, classibus, insulis , et postremo omnium, quod canos est, se ipso ac suis utatur: omnia, periculo et experientia teste, ante pedes Vestra2 Beatitudinis ponit: quam Omnipotens et misericors Dominus felicem et incolumem muitos annos tueatur. Cwtera, Beatissime Pater, aliud tempus expostulant: qu remotis arbitris, cum Vestra Beatitudine  jusserit, explicabimus.

LAUS DEO. Dixi.

37 —Ad Alexandrum .VL Pont. Max. FerD.s de Almeida electi Eccl[es]ie. Septirt: et Sereniss: Io. II. Regis Portugallie oratoris Oratio.

Em 4.° de 4 fls., s. 1. n. d. 27 linhas por pág. Não tem portada, e começa' pela dedicatória a D.S João II. Tem no Registrum o n.° 3.452 e a nota: Costo en Viterbo 1. cuatrin por otubre de 1515.

A elevação ao sólio pontifício do Cardeal Rodrigo de Borja, sagrado em 26 de Agosto de 1492 com o nome lugubremente célebre de Alexandre VI, num momento em que à política de expansão nacional se tornava imperiosamente necessário um estreito entendimento com a Santa Sé, além de que os sentimentos da época o reclamavam, impunha à coroa portuguesa o dever de saudar o novo chefe da cristandade. D.S João II, bom pastor da grei, assim o pensou, e tão prestamente o quis realizar, que em Março de 1493 anunciava já ao novo pontífice a enviatura duma embaixada «de pleníssima obediência». Pela respetiva carta de crença, descoberta e publicada pelo Dr. Alberto Feio , se sabe que a embaixada era constituída por D. Fernando Coutinho Bispo de Lamego e mais tarde de Silves e regedor das justiças Álvaro da Cunha, capitão da armada, e D.S Diogo de Sousa, ao tempo deão da capela real.

Esta embaixada chegou a demandar o seu destino; mas a peste e a tempestade obrigaram-na a regressar ao reino. D.S João II nomeia então outra enviatura, da qual faziam parte, como personagens principais, D.S Fernando de Almeida, Bispo de Ceuta, D.S Pedro da Silva, Comendador-mor de Avis, e D.S Diogo de Sousa. Foi esta embaixada que, em nome do rei de Portugal, prestou «obediência» ao pontífice. A leitura da oração de D.S Fernando de Almeida, adiante publicada, resolve todas as dúvidas que a primitiva carta de crença poderia suscitar, confirmando plenamente o relato de Garcia de Resende na Crónica de D.S João II (cap. CLXIV), a fonte histórica mais antiga deste ato diplomático. Uma dificuldade, porém, subsiste: Barbosa Machado, na Bibliotheca Lusitana, além da oratio de D.S Fernando de Almeida (s. h. verb.), dá notícia expressa da «oração obediencial que [D.S Fernando Coutinho (v. h. verb.)] recitou na presença do Pontífice Alexandre VI e do Sagrado Colégio dos Cardeais», a qual saiu com este título:

Oratio de obedientia in Consistorio publico Roma per me Ferdinandum Coutigno prcesulem Lamasensem Juris utrius que D.S habenda in Pontificatu AlEx.ª VI. Pont. Max. pro Christiazissimo, et invictissimo Domino nostro Joanne Rege Portugallice.

Começa: Magno excellenti munere ah immortali Deo hodierna die me affectam esse video. ROM2e, 1493. 4.°

E acrescenta: «He impressa em elegante caracter, e hum exemplar em pergaminho conserva o Doutor Nicolau Francisco Xavier da Silva Academico da Academia Real, que benevolamente me comunicou».

Barbosa Machado, ao biografar D. Fernando de Almeida e D. Fernando Coutinho, atribui a um e a outro o desempenho da embaixada de obediência a Alexandre VI, chegando a dizer do último que cumpriu este ministério «com geral admiração da Curia Romana». Em face da oração de D. Fernando de Almeida e da afirmação de Garcia de Resende, não é crível que no mesmo ano ou sucessivamente dois embaixadores prestassem obediência ao mesmo pontífice em nome de D. João II. Parece-me, por isso, legítima a hipótese de D. Fernando Coutinho ter mandado imprimir a oração que esperava recitar, mas que realmente não recitou, impedido de chegar a Roma pela peste e pelo naufrágio. Só assim se poderão conciliar testemunhos verídicos, e aparentemente contrários.

A oração de D. Fernando de Almeida é uma rara peça bibliográfica, mas o seu valor transcende o da simples curiosidade erudita. Pronunciada em 1493, em plena maravilha das navegações, pela boca do Bispo de Ceuta falou o orgulho nacional, descrevendo, em discreto compêndio, a obra de expansão ultramarina de D. João II. A esta luz, o seu valor é apreciável, constituindo, com a oratio de Lucena, o mais antigo documento impresso sobre a política de expansão marítima do grande monarca português. Cremos não existir esta oratio em nenhuma biblioteca portuguesa; por isso a reproduzimos integralmente, e com a possível fidelidade, desdobrando apenas as abreviaturas cujos sinais não existem na tipografia.

Harrisse (Bibliotheca Americana Vetustissima) e S. de la Rosa y Lopez (Catálogo cit., I, 77-78) citam-na, transcrevendo a passagem de flagrante interesse para a história das navegações.

IOANNI SECVNDO PORTV/GALLIE REGI INVICTISSIMO / AC PIETISSIMO FERD.S DE AL/MEIDA ELECTUS SEPTIN: DI/CATISSIMA SVE MAIESTATIS / CREATVRA PERPET. FOELICITA/TEM

Magnum & mee omnino professioni inusitatum munus: illud que ornatiss: quo me nuper inter alios maiestatis tue: adsum: Pont. Alexan. VI. clarissimos oratores: exornari placuit: Inuictiss: Rex: ac piissimã tue celsitudinis mentê: quo ad potui: quantilque illa temporis patiebatur angustia: nõ tamen ut licebat: inculta meaque bac ieiuna oratione absolui. Nam obsecro quis est: qui & christi rerum omniú opificis: summt1 illud & vicarii eius dignitatê: non enarrare solum: uerum etiam mente ia concipere posset? Tuas etiam laudes: titulos: honores & merita quis etiam: & dissertiss. orator: non dicam extollere: sed enarrare pro ipsis mentis posset igitur si hec recte metieris: quod tue nõ potuisse maiestatis desiderio satistacef: spero imbecillitati mee ueniam largiturã. Nam saepe numero ut apud deu ipsum anima-. duertimus: nõ tam acuratis adorãtiú precibus: quam innocétia: fide: ac ueneratiõ quadã lae/tari: gratiorèque existimari: qui ipsius delubris puram: castam: integram: mentem: quam meditatum carmen attulerit.


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Vamos corrigir esse problema