Cristianesimo e Ragion di Stato. L'Umanesimo e il demoniaco nell'Arte. Atti dei II Congreso Internazionale di Studi Humanistici a cura di Enrico Castelli. Um vol. de XVI 311 págs. e um apêndice de gravuras. Roma, 1935, Fratelli Bocca ed.

1ª — A ação política em Portugal, mesmo no apogeu do ideal renascentista, apresenta elementos medievais que imprimem uma feição especial ao desenvolvimento da «razão de Estado», com uma tensão ética, que noutros países é própria da época humanística.

2ª — A «razão de Estado» adquire em Portugal, no plano da política externa, em virtude dos descobrimentos e da expansão colonial, o sentido de uma comunidade concreta, modelada pelo ideal da Fé e do Império, cuja máxima expressão literária são Gil Vicente e Luís de Camões.

3ª — O sentido de comunidade concreta influiu notavelmente no destino do Brasil, não só relativamente à preservação e consolidação da unidade territorial e política, como em relação à maneira como o brasileiro é levado a conceber o Poder e a Lei.

A fundamentação destas conclusões baseia-se em rica e variada informação, a qual num ponto ou noutro pode ser ampliada e porventura corrigida, principalmente com a bibliografia propriamente política, cuja compilação se impõe pela respetiva raridade. A noção de «comunidade concreta», fundamental na explicação do A., não se apresenta sem sérias dificuldades: em primeiro lugar, parece a aplicação retrospetiva de um conceito posto em voga por certas correntes contemporâneas e não uma generalização coerente com o nacionalismo do «evangelho português», no dizer de Fernão Lopes, e de outros factos significativos da situação histórica considerada; e em segundo lugar, «o individualismo da comunidade concreta», que é o «individualismo que se sublima na solidariedade do grupo, sem perder o impulso para o alto» (p. 158), não se concilia harmoniosamente com o amor da glória e com o sentido voluntarista do heroísmo português de Quinhentos. Não contestamos a existência do conceito de «comunidade concreta» na mente e na consciência de alguns portugueses, na primeira metade do século XVI; a nossa dúvida recai somente sobre a objetivação e normatividade do conceito, por nos parecer que a situação espiritual não foi análoga à que levou ao trono a dinastia de Aviz.

Bastam, porém, o estabelecimento do problema e o teor das conclusões para atestar a originalidade e a importância da comunicação do ilustre professor e diretor da Revista Brasileira de Filosofia, para cuja leitura integral nos permitimos solicitar a atenção dos estudiosos da cultura portuguesa, já pelo que ela informa, já pelo que ela suscita.


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