Novas Revistas filosóficas hispano-americanas

Episteme

Após Dianoia, o notável Anuário de Filosofia publicado pelo Centro de Estudos Filosóficos da Universidade Nacional do México, empreendeu o Instituto de Filosofia da Faculdade de Humanidades de Educação da Universidade Central da Venezuela a publicação de Episteme, Anuário de Filosofia, cujo título é como que um programa e cujo aparecimento é expressivo testemunho do sentido de responsabilidade intelectual e docente da promissora Faculdade, que há pouco completou dez anos de existência. Como o Anuário mexicano, Episteme destina-se a ser órgão da atividade do Instituto caraquenho de Filosofia, a provocar o cultivo rigoroso da problemática filosófica mediante a publicação de estudos de filósofos americanos e europeus e a «estimular o aparecimento de um pensar filosófico latino-americano que acuse a sua laboriosa e radical originalidade», no dizer esperançado do apresentante, o Dr. Horácio Cárdenas, diretor da Faculdade.

O volume inaugural (Caracas, 1957, 529 págs.), compreende dez estudos, alguns dos quais, pela extensão, são verdadeiros livros, e uma secção bibliográfica com três substanciosas recensões da Fenomenologia dei conocimiento, de E. Mays Valenilla, por Garcia Bacca (vide Revista Filosófica, n.° 19), dos Fragmentos filosóficos de los pre-socráticos, traD.s de Garcia Bacca, por J. A. Nuno Montes, e da selecção de Garcia Bacca das Disputaciones metafísicas de A. Bricerio, por J. Moncada Moreno.

No primeiro artigo, intitulado Gnoseologia y Ontologia en Aristóteles (pp. 3-66), ocupa-se J. D. Garcia Bacca da ambiguidade no grego clássico do que denominamos artigo definido singular, visto este apresentar o duplo valor de artigo determinado e de pronome demonstrativo; donde, dentre outras consequências, sábia e penetrantemente deslindadas, a confusão do «o» e do «este» na linguagem de Aristóteles e, portanto, do «ser» e do «ente», o que importa que a noção de «ente» seja «dada atemática e inobjetivamente».

Ser, Verdade e Progresso é o assunto do estudo de Manuel Granell, que nele responde ao tema: «Há progresso da Filosofia na sua história?», proposto ao IV Congresso Interamericano de Filosofia, realizado em Santiago do Chile, em Junho de 1956. A resposta do A., fundada em esclarecidas análises, consiste em estabelecer que o progresso autêntico se dá somente «cuando es obra del humano que hacer, en la diaria tarea de un Ente inmerso en un Espirito objetivo, que no es, sino que existe, vive, se autohace dramática-mente en la peligrosa libertad de ser futuración. Tal es el verdadero progresar de la filosofia, de todo lo humano y del propio «ser».

Miroslav Marcovich, em «Um ensaio de reconstrução e interpretação do sistema de Heráclito o obscuro (pp. 83-103), prosseguindo na via de Olof Gigon (Untersuchungen zur Heraklit, Leipzig, 1935) considera que dos 133 fragmentos coligidos na ed. Diels, 45 não são autênticos, e que o livro do filósofo de Éfeso se ocupava dos seguintes tópicos: Verdade (Da suprema verdade ou do Princípio e Da correlação, Unidade e identidade dos opostos); do Fogo (De Cosmologia, de Psicologia, de Teologia positiva e de Gnosiologia); e da Guerra (Da tese da guerra geral, de Ética e a Polémica contra a superstição).

Francisco Miró Quesada, em A compreensão como problema epistemológico (pp. 105-147) submete à crítica a distinção que Dilthey estabeleceu entre «explicação» e «compreensão» como métodos, respetivamente, das ciências da Natureza e da Cultura, mostrando com penetração e clareza que, se os métodos de «explicação» testemunham progresso, o da «compreensão» «não deu um só passo» após Dilthey. A razão, a juízo do A., procede do facto do método de «compreensão» não ser rigoroso e exigir o sentido axiológico e o da totalidade, privando, consequentemente, as ciências do Espírito de autêntico carácter científico. O pensamento do A. condensa-se, até certo ponto, nos seguintes períodos: «Las dificultades que habrán de encontrarse en el camino para la elaboración de una teoria general de la comprensión se vislumbra fácilmente si se tiene en cuenta la extraordinaria complicación lógica del tipo más elemental de comprensión, que es el de la comprensión de los atos individuales. El análisis de este solo tipo exige la creación de una lógica ad hoc, basada en el modelo de lógica modal deóntica recientemente creada por los modernos investigadores. Como la comprensión de los atos individuales está incluída en una serie de tipos diversos y más complicados de comprensión, se advierte facilmente que el analisis de estos tipos más complicados puede conducir a problemas de lógica pura verdaderamente inextricables. Por otro lado si se tiene en cuenta que existen tipos de comprensión, como la filológica y la que se realiza en la comprensión de las «formaciones» culturales, que parecen alejar-se mucho del tipo analizado, las dificultades observadas no hacen sino agigantarse, y todo hace pensar que para analizar estos tipos divergentes, habrá de ser necesario hacer uso de sistemas lógicos completamente nuevos y sumamente complicados. Todo esto hace ver con toda claridad el enorme y fascinante problema que presenta a la investigación la elaboración de una teoria general de la comprensión. Pero, en princípio, nada impide creer que con el debido esfuerzo esta teoria pueda elaborarse».

Cayetano Betancur em O ser e o consistir (pp. 149-176), no remate de reflexões sobre o abstrato e o concreto em relação com a inteligência e a vida, conclui por muito provável que «la filosofia del futuro no será una filosofia simplesmente existencialista, sino consistencialista. Se buscará no solo el elemento de existencia, sino la existencia en una consistencia, en un consistir. Se buscará asi un universal concreto, un ser existente, pero no mudadizo y esfumado, como el que hoy investigan ciertos movimientos existencialistas, sino que en algo consiste y en ese su consistir estará su universalidad».

De Eugen Fink publica Episteme a tradução do importante e prestante Curso sobre os conceitos filosóficos fundamentais: Ser, Verdade, Mundo, preleccionado na Universidade de Friburgo de Brisgóvia durante o semestre de Inverno de 1955-1956 (pp. 177-313). A variedade de temas e densidade de ideias deste Curso furtam-se ao resumo breve, que inevitavelmente as frustraria, pelo que julgamos preferível que o leitor avalie do seu teor e mérito mediante o índice das matérias, a saber: I - Relação do homem com a ciência e a filosofia; II - Conceito prévio de filosofia. Pressentimento e reforço do Ser; III - Graduação no conceito do Ser. Estática e dinâmica do problema do Ser; IV - Pensamento e linguagem. Metafísica teísta e panteísta; V - Finitude da exposição do Ser. Os «Transcendentais»; VI - Os Transcendentais e o Ser; VII - Ser e aparecer. O aparecer do Ser. As aporias do conceito de «fenómeno»; VIII - Aparecer como parecer e comparecer; IX - O problema do Ens-Verum no parecer e no comparecer. Ser e Saber, Ser e Lume; X - Aparecer como médium absoluto. Parecer e comparecer não são captáveis segundo o modelo de um movimento ôntico; XE - Aparecer como algo em e com o ente. O «ente», a «coisa» como mina das determinações metafísicas do ser; XII - O ser em o ente, o ser junto ao ente, como duplo tema da metafísica. Que o aparecer não é enquanto tal nada ôntico. A região de todas as regiões: o espaço-tempo do Mundo. Malogro dos modelos de cântaro, clareza, silêncio. O finito como intramundano. A unicidade do Mundo e a clara região da individuação, junto com a escura região do informe fundamento».


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