Augusto Guzzo, La Scienza. Turim, 1955. Vol. de CXLII 528 págs. Das «Edizioni di Filosofia»

O mestre insigne de Filosofia teorética da Universidade de Turim, que já honrou as páginas da Revista Filosófica (nº 13), dá-nos com esta obra, volumosa, densa e profunda, o terceiro volume da sua ingente sistematização acerca de O Homem, da qual leva publicados O eu e a razão (1947) e A moralidade (1950) e se propõe publicar os volumes relativos à Arte, à Religião e à Filosofia. Fundado em vasto saber, penetrantes reflexões e porfiado labor, o presente volume constitui, pela vastidão das matérias, pela densidade de pensamento e pela unidade e coerência que o estrutura, um autêntico tratado da problemática que a Ciência desentranha em relação com as exigências da antropologia filosófica que a pensa em si mesma e na sua morfologia e desenvolução histórica.

A característica fundamental da atividade humana é a elaboração de valores: tal é a conceção que orienta, nutre e coordena a pujante reflexão do mestre de Turim. Consequentemente, não considera a Ciência apenas sob os pontos de vista da teoria e da metodologia, vendo nela acima de tudo a expressão da iniciativa do pensamento, graças à qual a mente elabora valores de verdades experimentalmente acertados. A Natureza não é criação humana, mas os fenómenos naturais, sendo reais, não impõem necessariamente a respetiva explicação, pelo que a Ciência se apresenta como construção mental.

A primeira reflexão incide sobre a temática contida na noção de scire: scio, isto é, o ato pessoal de saber algo com certeza; scientia, isto é, a coisa de que algo se sabe — ou não sabe — com certeza; e as ciências, isto é, a morfologia e constituição histórica dos saberes científicos.

Os dois primeiros temas constituem o objeto da parte 1ª, intitulada A ciência e as ciências (pp. LXIII-CXLI).

No primeiro, ocupa-se, dentre outros assuntos, do saber do não-saber, de Sócrates, da reminiscência platónica, do cogito cartesiano, do Ich denke kantiano e do que torna possível à consciência ser juízo; no segundo, examina, as respostas de Platão e da Nova Academia ao que é «saber», «o saber que não amadurece em ciência», designadamente o das intuições poéticas, «o saber que amadurece em ciência», isto é, o saber que, rigorosamente, é sempre matematização de fenómenos experimentados, o que determina o exame da verdade nas matemáticas e nas ciências experimentais, e, por fim, o problema da possibilidade da ciência, no qual, dentre outros assuntos, submete à análise a noção e o ideal da classificação das ciências.

Na parte 2ª (pp. 1-395), a mais extensa e que tem por título A Matemática e as ciências da Natureza, conjugam-se admiravelmente a reflexão teorética com a investigação histórico-científica, aliás dirigida sempre para o essencial e estrutural. Em capítulos próprios, versa sucessivamente o significado teorético do Pitagorismo, de Euclides, de Arquimedes, de Ptolomeu, dos Alquimistas, dos matematizantes de Quatrocentos (Piero della Francesca, Luca Pacioli e Leonardo da Vinci), que conferiram à matemática a função reguladora da produção artística e técnica da problemática e metódica de matematização de Galileu e Newton, e das conceções da Matemática, da Física e da Biologia, nos séculos XVIII e XIX, de Gauss a Einstein, e de Darwin a Morgan.

Na parte III, sob o título de Ciência e Natureza, o A. como que se libertou da consideração histórica para examinar teorética e filosoficamente a problemática atual relativa à Ciência e Natureza e à posição do Homem no mundo, desenvolvendo-a nos capítulos: «Pensar e experimentar»; «A "natureza" na ciência»; «A ciência na natureza»; «A natureza no homem»; «A natureza do homem»; «O homem na natureza»; «Arte e natureza» e «Naturezas» e «teorias» (pp. 399-503).

Levaria longe, ultrapassando o nosso objetivo imediato, a particularização das ideias deste livro, notável pela vastidão e segurança da informação e pela densidade e profundidade dos juízos; a mera indicação da sua temática mais saliente basta para o impor como obra capital na história da teoria e dos ideais científicos e na sistemática da antropologia filosófica e da própria epistemologia, não só pelo que esclarece como pelas perspetivas que rasga.


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