Augusto Salazar Bondy, La Filosofia en el Peru. Panorama histórico. Washington, 1954. Vol. de 99 págs., contendo as primeiras 52 o texto castelhano e as restantes a tradução inglesa.

Destina-se este livro, de pequena extensão mas de nutrida substância, publicado na coleção «Pensamento de América» da União Pan-americana, a «informar, nas linhas gerais, acerca do desenvolvimento da filosofia como parte da história espiritual do Peru, e a oferecer possíveis caminhos a futuras investigações». Assim fixado o objeto, o A. divide a história das ideias filosóficas no Peru em seis períodos: a Escolástica, desde os meados do século XVI a meados do século XVIII; a Ilustração, da segunda metade do século XVIII ao primeiro terço do século XIX, aproximadamente, caracterizado pela luta contra a Escolástica, em especial do empirismo, e pela influência no movimento da Independência e no estabelecimento da República; o Romantismo e o Ecletismo, circa 1830-1880, durante cujos anos a filosofia nutriu a luta política de liberais e de conservadores e se operou a viragem intelectual do sensualismo para o ecletismo e para o idealismo; o Positivismo, de influência francesa e inglesa, das décadas finais do século XIX às primeiras do século atual; a Reação espiritualista, acusada na reação contra o positivismo e na obra de Alexandre O. Deústua (1849-1945), que «encarna pela primeira vez no Peru o tipo do investigador especializado que se entrega, quase de modo exclusivo, às tarefas do pensamento e à sua aplicação docente»; e a Filosofia atual .

É com o ensino e a obra de Mariano Ibérico Rodríguez (n. 1893) e Honório Delgado, de quem a Revista Filosófica já publicou dois estudos, que a juízo do A. pode dizer-se que se inicia o período contemporâneo da filosofia no Peru, em cujos cultores se contam, dentre outros, Julio Chiriboga, de notável atividade docente, Francisco Miró Quesada, colaborador do presente número da Revista Filosófica, pertencentes ao grupo filosófico da Universidade de S. Marcos, e, ligados à Universidade Católica do Peru, Victor Andrés Belaúnde e Alberto Wagner de Reyna, cuja pessoa e obra tem em Portugal admiradores.

O grupo filosófico mais jovem da Universidade de S. Marcos caracteriza-se, segundo A., por um lado, pela «formação nas fontes da fenomenologia e pela adoção, mais ou menos explícita, das ideias de Husserl ou dos filósofos por este influenciados, como Scheler, Heidegger e Hartmann»; e por outro, «pelo rigor e reserva crítica com que procedem no tratamento das questões filosóficas, pelo esforço de precisão que os leva a circunscrever metodicamente o campo da investigação a problemas específicos, em particular os da teoria do conhecimento. Em contraste com o ambicioso horizonte especulativo que se propunham os pensadores anteriores, esta atitude está provando ser mais fecunda, embora se não possa ainda fazer uma apreciação objetiva dos pensadores jovens».

A caracterização das doutrinas, das correntes e das individualidades relevantes de cada um dos períodos indicados assenta em juízos densos e penetrantes, pelo que as páginas deste bem fundamentado e pensado livro constituem prestante introdução e guia, tanto mais que são acompanhadas de informação bibliográfica.

É de notar a referência à tradução do Précis d'un Cours de Droit public interne et externe (Paris, 1830) de Silvestre Pinheiro Ferreira, empreendida por Bartolomé Herrera (Compendio de derecho público y internacional), a qual, com a tradução do Derecho Natural, de Ahrens, lhe serviu «para dar nova orientação aos estudos jurídicos» no Convictório de San Carlos, onde «empreendeu em 1842 a tarefa de formar uma geração propícia ao estabelecimento de governos autoritários e à limitação dos direitos populares».


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