Capítulo VII - Resumo dos Diálogos e coordenação da matéria exposta

39. Temos frisado várias vezes no decurso deste estudo que o problema fundamental dos Diálogos é o amor; mas esquematizando, por necessidades de exposição, as doutrinas de Leão Hebreu, não seguimos a ordem da sua obra e em certo modo demos autonomia a problemas que são subordinados, por forma que nem sempre se apreende com clareza a relação que mantêm com a teoria do amor. Para que se aperceba, portanto, no conjunto o pensamento do nosso filósofo, se unifique e sintetize a matéria exposta, devemos logicamente sumariar a marcha dialética dos Diálogos.

O Diálogo I trata da essência do amor, e nele analisa os conceitos de amor e desejo, define-os, indica os bens dignos de ser amados, e investigando em que consiste a beatitude humana, refuta várias opiniões e conclui por a encontrar na união contemplativa do intelecto humano com o intelecto ativo (Deus), a qual só verdadeiramente se realiza na vida futura.

Retomando o fio das primeiras ideias, volta a analisar o amor, afirmando que o amor sensual, gerado pelo desejo, leva ao cansaço e aborrecimento, enquanto que o verdadeiro amor faz desejar a união espiritual e corpórea. Este amor, puramente intelectual, é pai do desejo e filho da razão e do conhecimento.

O Diálogo II versa a universalidade do amor, começando por indicar as causas do amor no mundo da geração e corrupção, as suas semelhanças e diferenças, expõe o amor dos elementos dos corpos celestes e em geral de todo o universo, percorre a física e a cosmologia e formula a teoria do homem-microcosmos e abordando os amores dos deuses, explica vários mitos e caracteriza o método de Aristóteles e Platão, justificando a alegoria como método filosófico. Termina este Diálogo com a exposição do amor das inteligências puras, a causa porque estas inteligências movem as esferas celestes e como síntese, pela conceção do amor como espírito vivificante que penetra todo o mundo e o laço que une todo o universo.

Finalmente, no Diálogo III, o maior, e mais complexo, Leão Hebreu estuda a origem do amor. Começando por caracterizar o êxtase, distinguindo-o do sonho, em breve passa para a psicologia, definindo a alma, e opondo-a ao intelecto. Abordando em seguida o objeto do diálogo desdobra-o em cinco questões: se o amor nasceu, quando, onde, de quem e porque nasceu. Reconhecida a existência do amor, passa a examinar as definições de Aristóteles e Platão, e a propósito desenvolve as ideias de bondade e beleza, e indicando a sua opinião conclui por determinar a natureza do amor de Deus. Para responder à segunda questão — quando nasceu o amor — desenvolve e critica os sistemas de Aristóteles, Platão e dos fiéis sobre a origem do universo, sendo de notar o mosaísmo de Platão e o acordo com os cabalistas sobre a duração do Mundo. Ocupando-se propriamente do problema, Leão Hebreu faz a hierarquia dos amores: o primeiro é o amor de Deus a si próprio, o segundo, o amor divino ao universo, que se desenvolve em três amores, cuja natureza investiga, analisando as respetivas opiniões de Aristóteles, Platão e crentes. A terceira questão, limitada ao amor recíproco das partes do universo, resolve-a afirmando que o amor nasceu no mundo angélico ou das inteligências puras, comunicando-se depois ao mundo celeste e sublunar. Para explicar esta emanação desenvolve as teorias de Avicena, Algazel, Maimónides e Averroes, fazendo ressaltar as suas diferenças. Para determinar — de quem nasceu o amor —, interpreta algumas fábulas sobre o nascimento de Eros ou Cupido e em especial os mitos do andrógino —que diz inspirado no relato bíblico da criação — de Poros e Pénia do Banquete, e conclui por afirmar que o belo e o conhecimento são os pais do amor. Analisando de novo o conceito do belo cai nas ideias platónicas, mostrando então que Aristóteles e Platão se harmonizam, divergindo apenas na forma. A última questão conduz Leão Hebreu a descobrir a finalidade do amor, que ele surpreende no prazer que o amante encontra no objeto amado. Analisando o conceito de prazer, compara-o com o bom e o belo, as virtudes morais e intelectuais e passando para o amor do universo estabelece a hierarquia dos seres e amores que o compõem e indica como suprema finalidade deste amor a reintegração no princípio donde derivou: Deus.


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Vamos corrigir esse problema