Uma epístola de Nicolau Clenardo a Fernando Colombo

Foram estas páginas escritas em Dezembro de 1924 e por então remetidas à comissão promotora da Homenaje a D. Adolfo Bonina y San Martín. Ao relê-las agora, corrijo-as levemente, e dilato umas notas.

Escrevi-as com espírito gentil e ânimo reverente ao saber e ao afeto do insigne colega da madrilena Faculdade de Filosofia e Letras, acorrendo ao convite de camaradas de estudo e de profissão para conviver naquele livro gratulatório.

Volvidos treze meses, eis que o que deveria ser intelectual sodalício se converte abruptamente em lastimosa evocação.

Já não pulsa aquele coração infatigável, já não arde aquela mente do Mirandola espanhol!

Que uma mãe espanhola regale a sua pátria com o sucessor de Bonina!

Coimbra, 30 de Janeiro de 1926.

Na Biblioteca Columbina de Sevilha, que, apesar das injúrias do tempo e dos homens, constitui ainda hoje valioso escrínio de incunábulos e, sobretudo, de edições dos primeiros decénios de quinhentos, existe um livro sobre o qual, cremos, nunca incidiu a atenção de um estudioso da cultura peninsular. Esse livro intitula-se: T. Livij Pataui / ni Historici, ab vrbe condita de I cadis prime I liber j. ad vti litatem studiosorum, in / formam enchiridij redactus. Additus index vocabulorum insigniü, vnde usus gue latini facilius percipi possit.

Em 8.° got. de IV-104-16, asign. a-i, 27 l. p. pag. Impressum Salmantice in edibus Joannis Junte bibliopole. M. D. xxxiii. Cal. Junii.

D. Simón de la Rosa y López refere-o no Catálogo de la Columbina, aditando esta nota: “Está el interés principal de este libro en que fué formado expresamente para la instrucción dei joven don Luis de Toledo en ia Universidad de Salamanca por Nicolás Cleynaerts, aquel sabio hebraista y helenista de Lovaina, después de haber recorrido con don Fernando Colón las ciudades principales de Alemania, y sido testijo presencial de los muchos trabajos y peligros que corrió éste comprando libros para formar su libreria de Sevilha, vino a instancias dei mismo a cultivar las ciencias arábigas, a ensefiar las letras griegas en el Estudio Salmantino y a encargarse de ia educación dei noble descendiente de los Toledo. Creemos de no pequena oportunidad dar a conocer ia epístola dedicatoria que escribió el mismo Cleynaerts, ai principio dei libro, expresamente dirigida a don Fernando Colón, por referirse ai inmortal almirante descubridor dei Nuevo Mundo, a ias excelsas cualidades dei mismo don Fernando, a la magnificencia de la casa y biblioteca de éste en Sevilla, ai obispo de Córdoba Fr Juan de Toledo, hijo de los duques de Alba, y ai estado floreciente de la Universidad de Salamanca, que por confesión de tan autorizado escritor, podia entonces competir fácilmente con las más notables de otras naciones.

“D. Fernando Colón de su letra dejó escrita ai dorso de la hoja final de este libro la seguiente nota: Hunc librum misit mihi nicolaus clenardus anno 1534. Num. 13.175.”

Foi esta indicação — concisa e com algumas inexatidões — do prestimoso bibliotecário que nos despertou a curiosidade de o examinar e, com prazer, a breve trecho verificávamos que enriquecia notavelmente a bibliografia de Nicolau Clenardo e a coleção das suas epístolas, de par que esclarecia alguns aspetos da sua atividade docente em Salamanca, relativamente pouco conhecida.

Todos os leitores das cartas do humanista diestense, das quais, pelo que a Portugal respeita, possuímos hoje uma tersa tradução, ou os conhecedores da sua biografia de cavaleiro andante das humanidades e de mártir da “cruzada pacífica” contra o Alcorão, que a morte lhe não consentiu desenvolver e dilatar, não ignoram que Clenardo, em 1531, trocou Lovaina pela Espanha.

A fama do seu saber linguístico atraíra alguns portugueses cultos, como o insigne André de Resende e Fr. Roque de Almeida, a quem, em Paris, respetivamente ensinou o grego, e, ao último, além desta língua, o hebreu. A Roque de Almeida, um dos raros averroístas paduanos que a cultura lusitana conta, confessa Clenardo dever a ideia de um dia poder vir a Espanha, ao assegurar-lhe, em Lovaina, que em Salamanca se ensinavam as línguas sábias, entre elas o árabe, cujo estudo atraía o curioso espírito do filólogo brabantino.

A informação, um pouco leviana, escandecera a imaginação de Clenardo, e talvez nunca passasse de irrealizável aspiração se o acaso feliz não tivesse proporcionado o conhecimento de Fernando Colombo. O benemérito e diligentíssimo bibliófilo, herdeiro de um dos mais gloriosos nomes da Humanidade e continuador desses heroicos pioneiros italianos da Renascença cujo ardor erudito não recuava diante das incomodidades e dos perigos das viagens, achava-se pela terceira vez em Lovaina, no Verão de 1531, na esperança de enriquecer a sua livraria e, sobretudo, de associar alguns sábios às suas investigações. O douto filho do obscuro diestense Pedro de Beca era o homem que lhe convinha, e guiado pela mão amiga de André de Resende, não hesitou o poderoso filho do descobridor da América em se apresentar um dia na própria aula do insigne professor. Não chegou até nós o eco da entrevista, mas é lícito supor que Fernando Colombo o tivesse seduzido com a promessa de lhe cometer a secção árabe da sua livraria, facultando-lhe os meios de aprofundar o estudo desta língua, que a curiosidade de filólogo aliada à fé do crente lhe impunham como necessária ao proselitismo a que aspirava devotar-se.

 Os desejos de Colombo foram satisfeitos, e ao cabo de alguns dias estava fechado o contrato, pelo qual Clenardo, assim como João Vaseu, mais tarde, em 1535, bibliotecário da Columbina, então designada por Fernandina, se comprometia a permanecer em Sevilha, como seu hóspede, durante três anos, com retribuição igual à que receberia em Lovaina.

Foi, pois, Fernando Colombo quem o decidiu a vir à Península, em cuja companhia, na de João Vaseu e dum palafreneiro, em Outubro de 1531, entre as ironias e críticas dos amigos abandonou, mal diria que para sempre, o “dulce Lovanium». Entrando em Espanha em 12 ou 13 de Novembro, (postridie divi Martini) esta sábia caravana, à qual se juntaram em França João Hammonio e um criado francês, passa por Vitória, Burgos, Valladolid e detém-se uns dias em Medina del Campo, onde então assistia a corte de Isabel e se encontrava a “vi-reina de las Indias” D. Maria de Toledo, cunhada de Fernando Colombo.

O itinerário marcado impunha a partida para Sevilha; mas o filho do descobridor da América altera-o, vindo a Salamanca, porque ipse fraterno nomine rem habebat controuersam, et Jurisconsultos adire volebat, quos tenet Salamantica doctissimos. Apesar da concisão desta frase de Clenardo, temos por sem dúvida que o motivo da demanda se deve filiar nos “pleitos de Colón”, cuja solução, interessando sobretudo D. Maria de Toledo, afetava também os interesses de seu cunhado, tanto mais que se aproximava a hora da sentença, que veio a proferir-se em 27 de Agosto de 1534.

Clenardo acompanhou o seu “egregius patronus” e uma vez na velha cidade universitária, lembrando-se da informação de Roque de Almeida, procurou um mestre de árabe, relacionando-se desde logo com alguns dos sábios que fizeram de Salamanca um lugar de peregrinação espiritual de todo o peninsular culto. Basta recordar Sciliceo e, sobretudo, o dominicano Francisco de Vitória.

Tudo o seduzia na famosa cidade do Tormes: o ambiente universitário, as nobres inquietações de espírito, o ardor dos estudos clássicos, — de que na carta adiante publicada faz tão levantado elogio, — e o afeto das relações pessoais. O contrato com Fernando Colombo, porém, proibitivamente lhe impunha uma reserva discreta às propostas de se incorporar na galeria ilustre dos mestres de Salamanca, da qual só veio a fazer parte como catedrático quase nas vésperas da sua partida para Portugal.

O que os novos amigos não conseguiram, alcançou-o D. João de Toledo, então bispo de Córdova e mais tarde de Burgos. Este prelado, de tão egrégia estirpe, preocupado pela melhor maneira de assegurar a educação literária de seu sobrinho D. Luís de Toledo, filho do vice-rei de Nápoles, D. Pedro, conseguiu que Clenardo a dirigisse, obtendo de Fernando Colombo a rescisão amigável do contrato. Não foi, porém, sem condições que Colombo anuiu, pois estabeleceu que, se não obtivesse no prazo de seis meses uma cátedra na Universidade, o prelado lhe pagaria a indemnização de 60 cruzados — o que efetivamente fez por intermédio de João Vaseu.

O que ensinou Clenardo ao fidalgo discípulo, e com que método?

Clenardo foi, a um tempo, o profundo conhecedor das línguas sábias, cujos livros didáticos alcançaram larga divulgação, e o pedagogo a cujas ideias e processos muito deveu o nosso humanismo, por haver reorganizado o “estudo das línguas mortas em Portugal”.

Particularmente, no que toca à didática do latim, há passagens das Epistolae que constituem uma teoria do ensino desta língua, destacando-se dentre todas a carta a João Vaseu, de 18 de Agosto de 1537, segundo a cronologia estabelecida pelo Sr. Joaquim de Vasconcelos.

Por isso se compreende que, com base em opiniões expressas correntiamente no epistolário clenardiano, Henrique Mameranus tivesse podido compilar o “Nova Methodus docendi pueros analphabeticos, breve omnino temporis spatio Latine loqui, praesertim intra priaatos parietes. Item, praeceptiones aliquot latinae linguae exercendae perutiles, per Nicolaum Clenardum, trium Linguarum peritissimum, earundem que foelicissimum praeceptorem, ohm editae. Francofurti, Apud Nicolaum Bassaeum. DMLxxvi”.

Independentemente das considerações pedagógicas, que deveriam ter levado Massebiau a incluir Clenardo entre os defensores mais ilustres do método direto dos colóquios, isto é, do ensino do latim como língua viva, o diserto epistológrafo escreveu umas Institutiones Gramaticae latinae, liberalmente impressas em 1538, para benefício da mocidade bracarense. Destes testemunhos, importantes por mais dum conceito, interessa apenas ao nosso objetivo acentuar que Clenardo defendia ardorosamente o colóquio como método de aprendizagem e preconizava a leitura direta de certos autores latinos como processo adequado para despertar o interesse no espírito dos alunos.              

Escrevendo a João Vaseu, assegurava-lhe, não sem contentamento, o valor prático destas ideias; e na carta adiante publicada, a excelência do método, vagamente confundida com a aptidão do discípulo, é bem manifesta, porque, ao fim de quatro meses, D. Luís de Toledo já era capaz de recitar um discurso na língua do Lácio.              

Clenardo começou, pois, por praticar com o jovem discípulo o latim, não lhe falando outra língua e insinuando-lhe gradual e como    que socraticamente as declinações, as conjugações e as regras da sintaxe. Este método não dispensava a leitura dum livro clássico, antes o impunha, mas só no momento oportuno, quando, já familiarizado com a língua, o discípulo pudesse compreendê-lo como obra viva e atual.

O livro da sua preferência foram as Décadas de Tito Lívio. Duas passagens do Epistolário, em que até hoje, segundo cremos, nenhum biógrafo atentou demoradamente, levavam fundadamente à suspeita de que Clenardo ligara o seu nome, como pedagogo e como editor, à obra do historiador romano. Na carta, citada, a João Vaseu de modo docendi pueros estranhava que se admirassem de explicar a D. Luís de Toledo, aliás com formosos resultados, Tito Lívio: Quam mirabamtur quod D. Ludouico enarrarem Liuium! Et tamen res processit pulcherrime. E ao mesmo fraterno amigo, em carta datada de Évora die Sabbathi pos festum Michaelis, non enim libit inspicere Calendarium (3-X-1535), dizia: Si Liuium leges, omnino trades librum primum, etiam si alius quispiam eum docuerit, tum quod apud Juntam bibliopolam exemplaria sint plurima tempore meo, ut scis, excusa, tum vero quod nullus liber est elegantior”.

Esta maneira de dizer é clara: mas se dúvidas existissem, elas cessam perante a existência do livro columbino, que cumpre acrescentar à lista tradicional da bibliografia clenardiana, na qual avultam as numerosíssimas edições das Institutiones in linguam graecam, o T. Liui Patauini Historici, ah urbe condita decadis prime, liber I, ad utilitatem studiosorum, in formam enchiridii redactus. Salamanca, 1533.

Publicando-o, Clenardo não quis, como ele próprio confessa, limitar os benefícios do seu método e do seu trabalho a D. Luís de Toledo, porque, como pedagogo, liberalmente desejava concorrer para a formação humanista da mocidade salmanticense, que se anunciava tão prometedora e gloriosa para a Espanha.

Em Dezembro deste ano de 1533, a convite de D. João III, e por intermédio de André de Resende, vinha para Portugal dirigir a educação do infante D. Henrique, o futuro Cardeal-Rei. Não pôde assim, no ensino oficial da Universidade, na qual entrara em 5 de Novembro deste ano, encaminhar os jovens estudantes, como tempos antes fizera no magistério extrauniversitário; mas a raridade deste livro parece provar-nos não ter sido necessária a ação da sua presença para que os exemplares se consumissem nas mãos dos alunos.

Aconselhá-lo-ia, porventura, João Vaseu, se é que o não adotaram os mestres salamantinos de latim?.

Além de documentar um dos passos do método pedagógico de Clenardo, este livro tem ainda para nós o valor de conter uma epístola dedicatória a Fernando Colombo.

Da vária correspondência que Clenardo dirigiu ao insigne bibliófilo, salvou-se apenas esta epístola, desconhecida de todos os editores do epistolário clenardiano, e na qual se faz o primeiro elogio da famigerada biblioteca Fernandina (hoje Columbina), que anos depois, em 1538, Clenardo visitaria como hóspede do seu organizador. A exumação integral desta carta após alguns séculos constitui o vivo depoimento da comunhão espiritual que ligou estes nobres espíritos, cujos talentos, por formas diversas, tão formosamente ilustraram e serviram a cultura peninsular.

 

MAGNANIMO AC NOBILI VIRO,

DOMINO FERNANDO COLONI, MECENATI SUO,

NICOLAUS CLENARDUS S. D. P.

Inter tam varia mortalium studia, summus ille rerum artifex deus, hanc mentem quibusdam dedit: ut tanquam aliorum nati commodis, se totos publice devoverent utilitati, laborem, pericula, duraque omnia contemnerent: modo suscepto rnunere, aliquo cum fructu fungerentur. Imo vero in pleris que adeo insignis haec virtus enituit: ut certissimis objecti discriminibus, nulla penitus bonorum expectatione, tamen animi sublimitatem in publica commoda nitentis, vel mortem oppetendo, testandam esse putarent, scilicet non eventum quicquam detrahere glorie, sed excelsa consilia merito sibi laudem omnem vendicare. Quamquam tamen egregiis viris, recta fiducia fretis, fauere potius consueuit fortuna quam inuidere, ita enim natura comparatum est: ut quemadmodum inertia, ignauiaque rebus omnibus officit: ita contra, nihil tam alienum a spe, quod non industria parare, et sedulitate seruare augere que possis. Hinc ciuitates, hinc regna, hic quicquid artium est humanarum proficiscitur. dum sapientis.simus deus, qui unus universa per se ipse administrare potest, in maximi momenti operi bus, portionem aliquam obeundi muneris, humanis impartitur ingeniis. Quo factum est: ut antiquitas, velut beneficiorum menor, bene meritos viros in celestium numerum retulerit. Et profecto sicubi alias supra reliquos, honorifico titulo cohonestandi sunt, hic certe homo homini deus, ut habet prouerbium, non iniuria censeatur, non quod immodica gratitudine lapsi, et errore ceci, in scelus impietatis abeamus: sed guia adeo preclaris dotibus prediti, dignum egregie factis nomen, in ordine suo non repererunt. Itaque quorum auspiciis, ductu que diuina geri cernerent: iis diuinam quo que appellationem non inuiderunt. Quorsum inquies, ista tam longo repetita principio? Nimirum cum mihi in mentem venit fortissimi illius Herois, Christophori Colonis, patris tui, facile omnium retro miraoula seculorum euanescunt. Prorogatum terra manque imperium, urbes condidisse ingenti vastitate, monstra domuisse, bellis triumphos reportasse, et breuiter omnes antiquorum glorias pre Colonibus / mihili duco. Quis enim unquam animo concepit victoriam, ubi hostem ne fama quidem cognouisset? quis ante patrem tuum, extra hunc orbem immortalitatis laudem quesiuit? Alii domi, alii peregre, clari atque inclyti euaserunt.

nemo tamen ultra mundi huius pomeria ad regnum aspirare sustinuit. At noster hic Christophorus, quasi angustis nimium terminis claude-retur, si vulgata, communique via, ad bene merendum de omnibus gras-saretur: Indiam nouam, noua regna, inauditas omnibus cosmographis gentes, et sagaciter inuestigauit, et regibus Hispaniarum feliciter arro-gauit: haud aliter profecto, quam si deus orbem alium proferendis imperii procreasset. Sed quemadmodum solet filius, corporeis lineamentis referre patrem: ita haud raro fit, ut indole quoque animi eundem exprimat, cete-risque moribus respondeat. Itaque tuus ille parens stupendo miraculo, ditionem cultumque Hispanorum alteri mundo inseruit: tu velut bene-ficii paterni gratiam recepturus, omnium gentium sapientiam in Hispa-niam congeris. Quid enim aliud dicam de illa bibliotheca, quam aliquot iam annos, tot tantisque exantlatis laboribus moliris? Sane sumptu, magnificentiaque mirum in modum spectande sunt edes iste tue His / palenses: at multo magis librorum thesauris commendande: quo inde proferre liceat, quicquid usque scriptorum exortum est. Quas diuitias, literatasque opes, ut undique vel e penitissimis angulis erueres: iam semel atque iterum dulci relicta patria, uniuersam ferme Europam perlustrati: nullo negue pecuniarium dispendio, negue viarum periculo deterritus. Nouissime vero, cum iam uniuersa peragrata Germania, me quoque peregrinationis comitem sumpsisses: quam subinde capitalibus molestiis fueris afflictus, ipse locupletissimus sum testis: ut nisi infrac-tum aduersus omnia mala deus animum dedisset, sustinere nullo pacto potuisses. Sed sine controversia in fatis esse auguror: ut tua industria partam habeat Hispalis, omnium seculorum bibliothecam celeberrimam. Ego interim, dum remoras tui tam salutaris consilii contendis proximis mensibus abrumpere: ita ut studiis nostris iam olim conuenire visum est, Salmantice me Arabicis literis saginaui. videorque mihi hoc saxum non omnino citra frugem voluisse: sed ad justam rei cognitionem peruenisse. Et quarnuis iam plane me in Arabiam demersissem, quasi-que Musis omnibus reliquis nuntium remisissem: tamen, quum id scriberes tibi gratum futurum, curam suscepi generosissimi ado / les-centis. D. Ludouici a Toledo: presertim cum et Reuerendissimus Do-minus. D. Episcopus Cordubensis idem expetiuisset. Quod quidem onus alioqui iam cursus studiorum meorum detrectabat: verum adeo feliciter cecidit, ut me istius opere nunquam penituerit. Siquidem hic meus, quem dico, discipulus, cum primo in familiam me ingressum ne intel-ligere quidem potuisset, nedum latine loqui: tamen spacio quadrimestri eo usque promouit, ut etiam thernate proposito, memoriter orationem habere sit ausus idque sepius. Quod si illu haudquaquam penitendum duci debet: plurimum humanitati tue debetur, plurimum laboribus meis ipse me consolor. Proinde cum viderem tam fecunda Hispanorum ingenla, et tam uberem in ipsis excolendis repositum fructum: cepi consilium, ut in gratiam Salmanticensis iuuentutis, presentem estatem insumerem: partim ut apud te ocii mei constaret ratio: partim ne contra morem meum ahiquid admitterem. Nam cum et Louanii semper studiosorum commodis me tradidissem, et Lutetie nuper literata peregrinatione mensibus aliquot vixissem: equum esse crediti, ut Hispanie quoque tue pro modulo virium me commodarem. Initium a Grecis fecimus, omine satis dextro, / spe atque expectatione non admodum exigua. Nam mihi quidem hec Academia, prorsus ardere videtur Grecarum frequentia sequantur. Illud certe faustum sit oportet, quod recta hic studia nulla grauantur inuidia. Quod si, que genti est constantia, in iis quoque literis pergere, ut cepit, instituat: propediem cernere erit Hispaniam ut belli gloria, ita literarum ornamentis cum ceteris omnibus nationibus certare. Eoque magis magis que me iuuat, discipulorum animos erigere, et pro virili parte prouehere. Ceterum, quando doctissimus quis que Latina Grecis iungenda precipit: hac etiam parte nostre huic Academie operam meam nauare conabor. Idque eo facio libentius: quod post trium linguarum studia, Hebraice, Chaldaice, atque, Arabice, tanquam e pristino mihi ad veteres Musas redire videar. ut si quem forte situm apud me duxit Latium, aliorum institutio velut delimet atque expoliat. Negue tarnen quemuis temere Ihuic rei scriptorem delegimus: sed lactea elo quentia Liuius ille potissimum arrisit. tum quod preter dictionis munditiem, argumenti etiam lenocinio non solum blandiri, verum et conducere potest: tum vero maxime, quod rem feliciter in uno illo meo tentatam discipulo, publice omnium utilitati communicare volui. Itaque primum Decadis prime librum prelo commisimus: ut post hac sine immenso sumptu, multis freti exemplaribus, muitos eadem, qua unum illum, ratione formemus: et quemadmodum unus ille te authore fructum afiquem est consecutus: ita quicquid ipsius exemplo ad plurimos utilitatis manauerit, id omne tibi acceptum merito ferant: mihi vero discipulorum profectu gaudere liceat, qui Hispaniam te auspice et duce sim ingressus. Bene vale vir ornatissime: et bibliotheaam istam librorum supellectile, quod strenue facis, in dies magis cumulare perge. Salmantice, Anno. M.D.xxxiij. pridie Idus Maii.


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