Introdução à filosofia como ciência de rigor de Husserl

Com ser elementaríssima, esta exposição é suficiente para mostrar que a Psicologia naturalista não toma conta do mundo ideal das essências, sem as quais ela se não pode constituir em condições de explicabilidade; e consequentemente, é incapaz de fornecer os elementos constitutivos de um saber absolutamente fundado e, portanto, de ser ou de vir a ser, a Filosofia como ciência de rigor.

O erro do psicologismo ressalta, pois, assim como o do nominalismo, pois quando se formula uma proposição ou juízo com pretensão de verdade, o significado que exprimem não é flatus vocis nem ato pessoal de quem julga, visto ser o mesmo quem quer que seja que o exprima. Por isso, a Fenomenologia, indo à raiz última e não admitindo coisa alguma que não seja esclarecida, apresentava-se ao pensamento de Husserl não só como a primeira das ciências, por ser a ciência que se ocupa das essências eidéticas e das ontologias regionais sem as quais se não explicam a constituição das diversas ciências particulares, mas ainda como a única consideração legítima da «Filosofia corno ciência de rigor».

Assim pensada, a filosofia é a um tempo metodologia e metafísica objetiva a priori, ou por outras palavras, «ciência pura de essências». Como escreveu Paul Landsberg, «Husserl renovou a antiga ideia da episteme, da unidade de um saber necessário englobando de jure o conjunto de uma estrutura apriórica do Universo. A Filosofia não é, pois, falseada, como no cientismo, pela subordinação da sua ideia a um ideal de ciência tirado de alhures; aqui a própria ideia de ciência acha-se primariamente determinada pela relação a uma aspiração filosófica e universal. Para Husserl, a Filosofia não é uma ciência ou uma espécie de anexo às ciências: é a Ciência».

Coimbra, Janeiro de 1952.


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