1. In memoriam de Teixeira de Pascoais

Em 14 de Dezembro de 1952 finou-se Teixeira de Pascoais, de genial compleição poética e de extraordinário poder de compenetração metafísica. Outros o excederam na naturalidade da inspiração lírica — embora jamais se possa esquecer a sua Elegia do Amor —, na introversão subjetiva, na exigência do ideal estético, na musicalidade do verso e na opulência verbal; Teixeira de Pascoais, porém, é único na visão de um universo de estrutura poética, cuja configuração arrancou totalmente de si mesmo, sem sugestões alheias, e que impregnou de humanidade.

Originalidade radical, é a primeira singularidade do seu génio, criador e espontâneo, assim falando como escrevendo. E a segunda, consiste na profundidade das suas intuições do ser, que iluminam de espiritualidade todo o existente e nas quais a imanência e compresença do ausente e do distante — a que portuguesmente chamou saudade — estão para o seu intuir como a inexistência de contradição e a razão suficiente estão para o explicar racional.

Pela estrutura e desenvolução, o pensamento de Teixeira de Pascoais furta-se às exigência de consistência, de coerência e de eficiência prática, próprias do pensamento científico; mas na medida em que a compleição poética pode apreender relações e maneiras de ser e a expressividade da imagem substituir o juízo lógico, o poeta da Vida Etérea, do Regresso ao Paraíso e do Maranus, o vidente de São Paulo, de Santo Agostinho e de Napoleão, e o pensador de O Homem Universal, diversificados na forma mas idênticos na estrutura psíquica, na pujança da imaginação e no dom intuspetivo, revelaram um mundo de intuições de incomparável significação metafísica, sem par na nossa língua.

Inclinamo-nos com veneração e saudade perante a sua memória.


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