Notícia preliminar ao Alphabeto dos Lentes da insigne Universidade de Coimbra desde 1537 em diante de Francisco Leitão Ferreira

Com admirável diligência, aplicou Francisco Leitão Ferreira os derradeiros anos da vida ao apuramento e redação das Noticias Chronologicas da Universidade de Coimbra. Tão grande e absorvente empresa não podia levá-la a cabo, mormente pelo critério noticioso e cronológico ao qual subordinava a ordem e ligação das matérias, sem o auxílio de copiosos repositórios, nos quais arquivasse, à espera da oportunidade da redação, os resultados das pessoais leituras e das alheias informações.    

Do que logramos apurar, foram três as coletâneas ou repositórios que Leitão Ferreira assim organizou para socorro e préstimo das Noticias Chronologicas:   

a) O Alphabeto dos Lentes da insigne Universidade de Coimbra, contendo principalmente a relação dos lentes desde 1537 e respetivos dados cronológicos de biografia universitária até 1730;         

b) Os Excerptos, frequentemente citados no Alphabeto, ao que parece, hoje perdidos, compilavam principalmente as notícias bibliográficas, livros, apostilas, etc., dos lentes de Coimbra, desde o referido ano de 1537. Numa nota ao § 284 do vol. I das Noticias  cita o vol. 4.° dos Excerptos;

c) As Memórias avulsas pertencentes à Universidade de Coimbra, constituídas por dissertações menores, de redação mais ou menos definitiva, que certamente seriam integradas no lugar adequado das Noticias Chronologicas.          

É, pois, o Alphabeto dos Lentes uma compilação organizada para uso da escrivaninha, e esta serventia instrumental conserva-a com pleno préstimo, visto que, após Leitão Ferreira, nenhum investigador retomou o projeto de inventariar sistematicamente a biobibliografia dos lentes de Coimbra.

Como se depreende das constantes citações, o Alphabeto dos Lentes teve por fonte capital o Catalogo dos Lentes remetido por Francisco Carneiro de Figueiroa, em 1728, á Academia Real da História Portuguesa; porém aos informes que este famoso Reitor da Universidade recolheu diretamente no exame do cartório universitário acrescentou Leitão Ferreira alguns outros, na maior parte de procedência livresca.

Serviu de texto para a presente edição o manuscrito do Alphabeto existente na Biblioteca da Universidade de Coimbra. Encontra-se este manuscrito falho de algumas páginas, afetando as biografias de Lentes teólogos e, sobretudo, canonistas e humanistas, como adiante se indica nos lugares respetivos; sem embargo de tais omissões, entendeu a Comissão diretora das publicações comemorativas do IV Centenário da última trasladação da Universidade para Coimbra que ele devia ser dado à estampa, pois, além de conter numerosas biografias, oferecia a lista dos lentes, distribuídos pelas respetivas cátedras. No decurso da impressão do manuscrito conimbricense, e quando esta já ia avançada, viemos ao conhecimento de que a Biblioteca Nacional de Lisboa guarda também um manuscrito do Alphabeto (n.° 954 FG), o qual contém afortunadamente as páginas relativas a Teólogos e Canonistas que faltam no manuscrito de Coimbra; por esta razão se distribuem por lugares diversos as biografias de Lentes teólogos e canonistas, inserindo-se as biografias contidas no manuscrito de Lisboa sob o título de Suplemento ao Alphabeto dos Lentes.               

Além da verificação de omissões de páginas, é legítimo perguntar se os manuscritos do Alphabeto se encontram truncados. Como se vê na transcrição do Índice do manuscrito do Alphabeto adiante reproduzido (p. XVI) aponta-se a página 777, e os códices de Coimbra3 e de Lisboa atingem apenas, respetivamente, as páginas 598 e 309; além disto, o mesmo Índice refere capítulos, a saber, Lentes duvidosos, Universidade e seus Elogios, Reitores da Universidade 4, El-Rey D. João 3.° elogiado, Visitadores e Reformadores, que também não aparecem nos dois referidos códices. 

Nestes termos, a presente edição reconstitui na medida do possível a obra de Leitão Ferreira; e dizemos na medida do possível, não só pelos esforços que empregamos, como pela dúvida legítima de saber se se perderam alguns capítulos ou se estamos em face da obra que Leitão Ferreira efetivamente redigiu, embora in mente tivesse o propósito de lhe acrescentar outros capítulos.

Coimbra, 1937.


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