Goesiana. Subsídio para o estudo das relações de Damião de Góis com Pierre Nannink e Oláh Miklos

Há títulos, simultaneamente tão compreensivos e elegantes, que alcançam uma fortuna impessoal, neles se registando as novas aquisições, como fundação que se conserva e dilata. Criado pelo Sr. Joaquim de Vasconcellos e consagrado pelos seus sábios estudos, Goesiana é um desses títulos, que hoje aproveitamos para nele incorporar duas notas remetidas pelo Prof. Edgar Prestage, as quais ilustram notavelmente as relações de Damião de Góis com Pierre Nanink (Petrus Nannius), de Alkmaar (1500- -1557), professor do Trilingue e da Universidade de Lovaina.             

Consultando o Codex epistularis do arcebispo e humanista húngaro, N. Oláh, publicado com uma introdução em língua magiar por Arnold Ipolyi (Oláh Miklos, Levelezère, Kõzli Ipolyi Arnold, Budapeste, 1875, in-série Monumenta Hungariae Historica, Diplomataria, vol. XXV), o sábio lusófilo e nosso prezado amigo encontrou as seguintes referências, que cremos não terem sido aproveitadas por nenhum biógrafo português de Damião de Góis:       

[Petrus] Nannius Domino Nicolao Olaho S. S. P.

Qui tibi meas litteras perfert Damianus a Goes, est eques Lusitanus non minus claritudine generis, quam humanitate morum, et litteris et litteratotum moribus insignis. Si patientur tuae occupationes, velim illum in colloquium admittas. Senties illum morum sinceritate, candore, fide, humanitate, modestia tibi simillimum. Saepius de te mecum loquitur; tuae consuetudinis cupidissimos est. Bene vale optime patrone. Pridie nonas Maias raptim.

Deditissimus cliens Petrus Nannius Olao

Litteris scriptis rediit Damianus a Goes, qui te Antuerpiae non int euit, quare et litteras per ilum ad te missas, eos per eundem monachum, virunt doctum et probum, de quo supra memini, ad te remitto. Iterum vale, optime et eruditissime patrone .

Estas cartas não estão datadas; mas o seu editor, no índice, indica o ano de 1538, respetivamente 6 e 12 de Maio. É inteiramente plausível esta cronologia, porque é neste ano que Damião de Góis regressa de Itália, casando em Lovaina com Joana de Hargen . Esta correspondência, corro­borando inteiramente a intimidade de relações do historiador com o huma­nista Petrus Nannius, contribui, por outro lado, para esclarecer o período do seu regresso aos Países-Baixos. A falta de elementos, porém, não nos permite determinar se Damião de Góis chegou a conhecer Oláh Mildos, e se com ele privou ao ponto de o podermos incluir no círculo numeroso e honroso dos seus amigos e correspondentes.

N. Oláh (1493-1562) natural de Hermannstadt, foi conselheiro da rainha Maria da Hungria, filha de Filipe o Belo, acompanhando-a para a Bélgica em 1531, quando Carlos V, seu irmão, a nomeou regente das Provin ias. Neste país demorou até 1538. Para a sua biografia e relações com hurnan st2sbelgas, como P. Nannius e Rutger Rescius, ambos amigos de Góis, mere­cem ser lidos os estudos do professor da Universidade de Gand, sr. Alphonse Roersch: La correspondance de N. Olahus, in Bulletin de la Société d'Histolre et dArchéologie de Gand, 1903, n.° 7; Biographie Nationale publiée par l'Acacimie Royale de Belgique, t. XV, 415-25 e L'Humanisme belge à l'époque de la Renaissance. Études et Portraits, Bruxelas, 1910.


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