III. Método de ensino nas Universidades medievais (método escolástico)

O ensino cirúrgico era essencialmente prático, aprendendo-se rotineiramente. Considerado como ofício, o exercício da cirurgia exigiu nalgumas partes, designadamente em França, um exame perante as Faculdades de Medicina, cuja aprovação conferia a licentia operandi.

A disputatio consistia no diálogo entre o mestre e os alunos acerca de determinada tese ou assunto; ao contrário da lectio, que implicava a atitude passiva, despertava a atividade intelectual dos alunos. Tornou-se, por isso, o processo demonstrativo dos conhecimentos adquiridos e da respetiva compreensão e aplicação doutrinal, filiando-se a sua origem na quaestio, a qual, por seu turno, nasceu da expositio e da comentatio.

A discussão dos temas de disputatio fazia-se por pro, contra e solutio, isto é, pela exposição da argumentação afirmativa, pela da negativa, ou contrária, terminando pela resolução. As disputationes podiam ser: ordinárias, nas quais o mestre formulava o tema da disputatio (ou quaestio), assistia à respetiva discussão e terminava por formular a resolução; gerais ou de quodlibet, que versavam sobre temas livres (quaestiones de quodlibet), mais solenes, e que tinham lugar, em regra, pelo Natal e pela Páscoa; magistrais, entre dois mestres, sustentando cada um o seu modo de ver; e sophismata, que eram justas dialéticas para a demonstração ou refutação de paralogismos.

O ato de quodlibet foi inicialmente obrigação dos mestres regentes; no decurso da segunda metade do século XIV, porém, sem perder o carácter solene, passou a ser uma prova que os bacharéis tinham de prestar antes de serem admitidos à licenciatura. Desenvolvia-se em duas partes distintas e até separadas por intervalo mais ou menos longo: a disputatio, na qual o bacharel expunha o tema e se produziam as livres objeções dos assistentes, e a determinatio, que cumpria ao mestre e na qual este examinava o tema e as objeções suscitadas na disputatio e expunha a sua opinião.

É nesta estrutura da didática que radicam as formas características da literatura teológica e filosófica desta época — os Comentários, as Sumas e as Quaestiones, que, em regra, eram redigidas sob o título de Quaestiones disputatae ou de Quaestiones quodlibetales (Quodlibetalia ou Quodlibetos).

Os Comentários diretamente ligados ao texto, designadamente de Aristóteles, de Boécio, de Pedro Lombardo, do Pseudo-Dionísio Areopagita, etc., contam-se por grande número.

Nas Sumas, o autor desprendia-se da letra para atentar no fundo doutrinal, cuja exposição é feita com feição sistemática. É, por excelência, representativa destas obras a Suma Teológica de São Tomás de Aquino (1224-1274), a qual expressamente assenta na técnica das disputas (pro, contra e solutio). As Questões discutidas expunham a matéria versada nas Disputationes, que eram normalmente quinzenais, e os Quodlibetos ou Questões quodlibetais, a matéria das disputas solenes. Os escritos independentes ou de exposição mais curta reuniam-se, em geral, sob o título de Opúsculos.

O processo das disputas, que peculiariza o método escolástico e tem no Sic et non de Abelardo uma das principais raízes literárias e metodológicas, assentava na memória e desenvolvia a capacidade dialética, a oratória e a presença de espírito, mas deu ensejo ao abuso das discussões verbais, à argumentação especiosa e sem ligação com a realidade, e ao formalismo vão e estéril.

A metodologia escolástica, dominante até fins do século XV, contribuiu para que a ciência oficial se tivesse esterilizado e devido ao abuso da argúcia e da sofistaria, em que por fim degenerou, houvesse suscitado a repulsa dos espíritos independentes e das mentes atentas à lição dos factos.


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