II. O Humanismo e a conceção formativa das línguas clássicas. O método dos colóquios

Só o convívio direto com os monumentos literários antigos permitia o acesso à admiração compreensiva da arte clássica, mais bela e harmoniosa do que a arte medieval, cujas manifestações foram reputadas inferiores, designando-se de arte gótica a arquitetura ogival por ser criação dos godos, isto é, de bárbaros. O estudo das línguas clássicas impunha-se, pois, como condição da formação do bom gosto e da educação estética.

Finalmente, habilitando o espírito a exprimir-se com perfeição e a apreender os valores estéticos, o domínio seguro das duas línguas clássicas, especialmente do latim, preparava ainda para o trato social, e capacitava para o desempenho de cargos e de funções, mormente no respeitante à redação de discursos, de memorandos e de epístolas. O saber clássico aparecia não somente valioso em si, mas sobretudo pelos recursos que proporciona e pela distinção pública que prepara e condiciona.

Tais foram as principais motivações da ressurreição do ideal da formação oratória, que, como na época imperial romana, teve na Instituição de Quintiliano o seu principal guia didático. O que verdadeiramente se generalizou na Renascença foi o ideal da formação retórica e erudita, e não o ideal grego da plena formação da personalidade, de raiz filosófica e de amplitude enciclopédica; por isso, quebrantado o vigor dos primeiros humanistas italianos, que ambicionaram a «renascença'> das virtudes, do bom gosto e do saber antigos mediante a educação baseada nos clássicos, o humanismo, de modo geral, degenerou na imitação formal das artes da palavra, nem sempre isenta de pedantismo.

A «renascença» do bom gosto literário, não raro confundido com a ênfase, não podia fazer-se com a didática tradicional do ensino do latim. Os mestres humanistas desterraram, por isso, as gramáticas em uso nas escolas medievais, eivadas de barbarismos, praticando o método direto, mediante o ensino do latim como língua viva, pela conversação e leitura dos autores. Na Alemanha, devido, porventura, à dificuldade da prática oral do latim, surgiu o método coloquial nos fins do século XV com o aparecimento do primeiro livro de colóquios (Manuale scolarium qui studentium Universitates aggredi ac postea is eis proficere instituunt, 1480). Constituídos por diálogos em latim, destinavam-se a proporcionar aos estudantes, como complemento da Gramática, o vocabulário correspondente à linguagem dos assuntos correntes nas escolas, no lar e na vida social.   

Os livros de colóquios tiveram divulgação e vários cultores, designadamente Mosellanus (Pedro Schade), com a Paedologia in puerorum usum conscripta et aucta (1517), Adriano Barland, holandês, com os Dialogi XLII ad profligandam e scholis barbariem utilissimi (1524) e Luís Vives, espanhol, com a Dialogistica linguae latinae exercitatio, de interesse histórico e valor pedagógico.


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