II. Organização das Universidades medievais

A vida material do estudante medieval, mormente para os que provinham de países afastados, foi quase sempre difícil. Os cursos eram longos, frequentados por indivíduos de mais idade do que o normal dos cursos atuais. Os que estavam ligados às ordens religiosas encontravam quase sempre nos mosteiros as condições necessárias, mas os que viviam sobre si, sem a ajuda da família e dos proventos de um benefício, e não queriam recorrer à mendicidade, quando não a atos condenáveis, tinham de prover ao próprio sustento, como por exemplo, servindo colegas abastados, empregando-se em ofícios, designadamente de copistas, ou compondo poesias satíricas e báquicas, de que ficou famosa a canção «Gaudeamus igitur, dum juvenes sumus...» e constituíram a chamada literatura goliárdica.

Para obviar às dificuldades de alojamento e de subsistência tornou-se frequente a vida em comum, por vezes com os próprios mestres. A estas residências, designadas de hospícios (de hospitium), vieram juntar-se os «colégios», quase sempre instituições pias, cujos fundadores estabeleciam, em regra, determinadas condições de admissão e certas obrigações, normalmente de carácter religioso.

O «Colégio dos Dezoito», instituído em 1180 pelo cabido da Catedral de Nossa Senhora para clérigos pobres, com a obrigação de velar quem falecesse no Hotel-Dieu e de lhe acompanhar o enterro com cruz e água-benta, foi o primeiro que se fundou em Paris, mas o mais famoso dos que se lhe seguiram foi o de Roberto Sorbon (Collegium Sorbonnicum), instituído em 1257 por este mestre de Teologia. Destinado inicialmente a alojamento de estudantes teólogos, o seu edifício, conhecido por Sorbonne, tornou-se no fim do século XIV a sede da Faculdade de Teologia, persistindo o título de Sorbona, a partir do século XIX, para designar a sede das Faculdades de Letras e de Ciências. 

Durante os séculos XIII, XIV e XV quase todas, senão todas, as cidades universitárias de maior frequência adotaram estas fundações, contando-se em Paris, na aurora da Renascença, sessenta e oito colégios, dos quais importa notar os de Montaigu e de Santa Bárbara por serem os preferidos pelos estudantes portugueses.              

Com o andar do tempo, os colégios tornaram-se internatos e centros de ensino, principalmente das disciplinas das Artes, partilhando com a Universidade a atividade docente. Esta tradição docente, a par da organização da vida estudantil acabou em França e nas Universidades do Continente após a Revolução Francesa, persistindo, porém, nas Universidades de Oxford e Cambridge. Na Universidade de Lisboa, no século XV, existiu um colégio fundado pelo doutor Diogo Afonso Mangancha e o infante D. Pedro sugeriu a seu irmão, o rei D. Duarte, a reorganização da Universidade com base nestas instituições de vida escolar e docente.


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