4. Anotações ao Tratado da Sphera

A tradução de Pirkheimer teve duas edições anteriores a 1537: a primeira, em 1525, e a segunda, dez anos mais tarde, em 1535. Uma e outra coincidem no que respeita propriamente ao texto latino da Geographia, estabelecido por Pirkheimer.

Nestas condições, de perfeita identidade, não pode indicar-se qual das edições Pedro Nunes teve presente; inclinamo-nos, no entanto, para a hipótese de ter sido a edição de 1525, pela circunstância de ela conter o escrito seguinte, que lhe solicitaria naturalmente a atenção e não foi reproduzido na edição de 1535: “Clarissimi AEtatis nostrm Mathematici, Iohannis de Monte Regio, fragmenta quaedam annotationü, in errores quos Iacobus Angelus in translatione Ptolemaei comisit”.             

Apurada a conformidade do texto latino da Geographia de Ptolomeu, estabelecido por Willibald Pirkheimer, nas duas edições de 1525 e 1535, trabalhamos, por maior comodidade, com aquela edição, reproduzindo no rodapé da versão de Pedro Nunes a respetiva fonte latina.  

A revisão do texto latino foi feita pelo académico Sr. Rebelo Gonçalves.            

1ª p. 100, 1. 7: No texto: “proceder”. Emendado, de harmonia com a recomendação de Pedro Nunes na tábua de errata.               

2ª p. 102, 1. 12: No texto: “pareça”. Emendado de harmonia com o sentido.    

3.a p. 107, 1. 4: No texto: “Marmo”. Emendado para “Marino”, em face do original latino e do sentido.              

4.a p. 124,.1. 9: No texto: “qne”. Emendado.    

5ª p. 132, 1. 2: No texto: “instutuição”. Emendado.

 6.ª p. 134, 1. 10: No texto: “semelhauça”. Emendado.

7ª p. 135, 1. 4: No texto: “meridanos”. Emendado.

8.ª p. 135, 1. 8: No texto: “Eqninocial”. Emendado.        

9ª p. 136, 1. 16: No texto: “hom”. Emendado para “ham”.

10ª p. 143, 1. 5: No texto: “ceentro”. Suprimido um”e”.              

11ª p. 145: A gravura do texto original, correspondente a esta página, inspirada na que esclarece o fol. b iiii r da tradução de Vernero de 1514, e o fol. 48 da edição de 1533.

12ª p. 147: A gravura do texto original, correspondente a esta página, é idêntica à da tradução de Vernero, de 1514, fol. b iiii v na edição de 1533 ocorre no fol. 48 v.

13.ª p. 148: A gravura do texto original coincide com a que ilustra a tradução de Vernero, edição de 1514, fol. b iiii v e edição de 1533, fol. 48 v. A reprodução destas gravuras mostra que Pedro Nunes, embora não seguisse o texto estabelecido por Vernero, utilizou em parte as anotações que o matemático alemão lhe aditou.

P. 148, 11. 28 e 29: Pedro Nunes escreveu: “a proporção de.g..f. pera.f..h. como de.181. e 1/2 1/3 pera.46. e meo e h? vinteno”, o que não concorda com o texto latino que reproduzimos. “(...).180. semis cum tertia (...)”.

Cumpre, porém, notar que Vernero, na citada tradução do Livro I da Geographia, edição de 1533, fol. 48 v, escreveu: “Et propter hoc ratio est huius.g..f. ad.f..h. qum.181. semis ac tertii ad.46. et semissem ac vicesimum”.

NOTAS AS “ANNOTAÇÕES [DE PEDRO NUNES]

NESTE PRIMEYRO LIVRO DE PTOLEMEO”

(pp. 153-158)

Dentre os predecessores de Pedro Nunes nas observações críticas ao Livro I da Geographia de Ptolomeu, cumpre destacar João Vernero (Johann Werner, 1468-1528), autor do seguinte escrito aditado à sua tradução latina deste Livro I: In eundem primum librum geographiae Cl. Ptolomaei: arguméta paraphrases quibus idem liber per sententias: ac summatim explicatur: & annotationes eiusdem Joannis Verneri.   

Como já dissemos [ver p. 413], este escrito foi incluído na coletânea In hoc opere haec cõtinentur, impressa em 1514, e reeditada anos depois, em 1533, na Introductio Geographica, de Pedro Apiano [ver p. 414].   

É a esta obra que Pedro Nunes se refere nos vários passos das “Annotações” em que cita e critica Vernero.   

1.ª p. 153, 1. 14: No texto: “Annotacoes”. Emendado.

2.ªp. 153, 11. 22-26: Pedro Nunes distingue duas espécies de crítica às afirmações de Ptolomeu no Livro I da Geographia: histórica e matemática.

A crítica histórica impunha, essencialmente, o relato dos progressos no conhecimento do “sitio do orbe”, em ordem a mostrar quanto havia sido deficiente a “pouca noticia” dos contemporâneos de Ptolomeu acerca da Terra.

No fundo, esta espécie de crítica importava escrever a história externa, algo incerta e discutível em vários tópicos, dos descobrimentos geográficos; pelo contrário, a crítica matemática, situando-se na estrutura dos raciocínios e cálculos de Ptolomeu, podia aspirar à exatidão e rigor, visto basear-se em “demonstrações” nas quais “não cabe mudança”.

Foi quase exclusivamente sobre este ponto de vista que Pedro Nunes orientou as suas “Annotações”, as quais incidem sobre afirmações de Ptolomeu e do astrónomo João Vernero.

Trocando o ponto de vista histórico pelo matemático, Pedro Nunes era coerente com a sua formação e com as suas aspirações científicas; por isso, esta atitude não significa indiferença pelo orgulho patriótico dos descobrimentos portugueses, a que sempre aludiu com desvanecimento, e do qual João de Barros, na Ropica Pnefma, nos transmitiu este significativo testemunho, que, por demais, se reporta ao assunto desta nota: “Acerca da cosmografia com a grandeza dos mundos, que os esclarecidos reys de Portugal descobriram, se agora cá viesse Petolomeu, Strabo, Pomponio, Plinio, ou Salino com suas tres folhas, a todos meteria em confusam e vergonha, mostrando-lhe que as partes do mundo, que nam alcançaram, sam mayores que as tres em que o elles dividiram. E o mais confuso seria Petolomeu em a graduaçam de suas tavoas: porque como passa de Alexandria pinta-as com aquella licença que Horacio dáa aos pintores e Poetas. Pero em a astronomia se salva, onde falou tam altamente que fala como spiritu em todolos outros astronomos, que despois vieram”. (Ed. do visconde de Azevedo, Porto, 1869, pp. 79-80).

3.ª p. 154, 11. 1-5, sobre “ho estromento Meteoroscopio”: As linhas que Pedro Nunes dedica ao “estromento Meteoroscopio” inculcam vários problemas, dos quais destacaremos:

1.º Distinção do meteoroscópio e do astrolábio:

Segundo Pedro Nunes, o meteoroscópio, a que Ptolomeu se referiu no Livro I da Geographia (vol. I, p. 99), derivava o seu nome da circunstância de que “per elle se alcanção as causas que estão no alto”, e cumpria distingui-lo do aparelho “idas Armillas que no almagesto se ensina a fazer”, embora fosse “quasi como este”; estruturalmente, “he feito de muitas armillas circulares e quasi todas tem mouimento”.

Que “estromento” é este, com o qual o das armilas quase se confunde?

Apoiando-se no estudo de A. Rome, foi o Sr. F. de P. Leite Pinto quem, entre nós, deu a resposta, elucidando que se trata de um instrumento suscetível de fornecer coordenadas elípticas, isto é, do astrolábio ao qual Ptolomeu dedicou o cap. I do Livro V do Almajesto (De artificio instrumenti armillarum quo considerantur stellae, et sciuntur loca earum in longitudine et latitudine).


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Vamos corrigir esse problema