4. Anotações ao Tratado da Sphera

2) À tradução latina de Elias Vineto (pp. 57-65).

a) As relações pessoais e científicas de Elias Vineto (Elie Vinet) com Pedro Nunes serão expostas no desenvolvimento destas Obras, no volume derradeiro, consagrado à vida e obras de Pedro Nunes; não obstante, cumpre desde já, como justificação das relações que mantiveram, das quais esta tradução é testemunho, transcrever os seguintes passos do livro de Vinet, La maniere de fere les Solaires, Que communemant on apele Quadrans. A Bourdeaus, Par S. Millanges Imprimeur ordinaire du Roi, 1583:

1.º Da epístola inicial “Elie Vinet au lecteur S”:

“I'Estoie en Portugal l'an mile cinq cens quarante & huit, quand la Gabele fit eleuer la commune en nostre Guienne. I'en reuin l'an suivant: & arrivai à Bordeaus le second iour de Iuillet: que ie trouuai mout triste, & un silence non acoutumé en la pauure vile (...)”.

2.º Da conclusão do livro:

“Et voi-la compté au long & au lé & par le menu, des le commancemant iusqu'a ira fin, tout ce, que i'ai pensé, qui se pouuoit & deuoit dire & monstrer a vn apranti, de ia maniere de fere deus ou trois sortes de Solaires, dôt nous vzõs communemant. Tele en est ia pratique. Quant a la Theorique & elemonstration, mon auis n'a esté d'i toucher: pource que le liure en eust este beaucoup plus grand & obscur: mais s'il i a quelqu'vn,,qui doute de la doctrine ici baillée, qu'il afile lire & bien eplucher le liure, qu'un mien ami Pero Nunez Cosmographe du Roi de Portugal Jehan le Tiers, publia & fit imprimer a Coimbre Vniuersité de Portugal, l'an M. D. XLVI: & trouuera lá, que le contentera”.

Estes dados, cuja cópia devemos ao licenciado Sr. Luís de Matos, leitor de português na Universidade de Bordéus, precisam a cronologia das relações entre os dois mestres de Coimbra .

b) Elias Vineto editou a versão desta Annotação de Pedro Nunes à sua edição: Sphaera Joannis Sacro Bosco emendata, reimpressa numerosas vezes, e cuja primeira edição julgamos ter sido em 155223.

A versão de Vineto não é completa, como ressalta do cotejo, e nalgumas edições da Sphxra emendata aparece com o título Petri Nonii Salaciensis Demonstrationem eorum, quae in extremo capite de climatibus Sacroboscus scribit de in&quali climatum latitudine, eodem Vineto interprete.

Seguimos o texto da edição de 1556, existente na Biblioteca da Universidade de Coimbra.

21 A obra que Pedro Nunes imprimiu neste ano em Coimbra, na oficina de João Barreira e João Álvares foi o De erratis Orontii Finei, Regii Mathematicarum Lutetiae Professoris. Os passos deste livro aos quais se refere Elias Vineto constituem os capítulos 18 e 19: “Reprehensio XV: Orontium aperte errasse in Horology nocturni descriptione” e “Reprehensio XVI: Orontium Finceum falsas tradidisse horizontalium et uerticalium Horologiorum descriptiones”.

ANOTAÇÕES A TRADUÇÃO

DA THEORICA DO SOL E DA LVA

(pp. 69-91)

a) Pedro Nunes não exara o nome do autor deste escrito, nem tão pouco se refere à edição latina que utilizou.

Quanto ao autor, não há a mais ligeira dúvida: trata-se de Jorge Purbáquio, natural de Peurbach, aldeia das cercanias de Linz, na Áustria, onde nasceu em 1423; foi lente da Faculdade das Artes da Universidade de Viena, tornou-se famoso pelo ensino das matemáticas nesta universidade, onde teve por discípulo, e sucessor na cátedra, Regiomontano, e faleceu em 1461.

Quanto à obra, só pode haver dúvidas relativamente à edição; embora Pedro Nunes não houvesse traduzido rigorosamente o título completo, é manifesto que se trata das Theoricae nouae planetarum, assim designadas para se distinguirem das Theoricae planetarum, de Gerardo de Cremona.

Este escrito de Purbáquio, que, como o Sphaerae Tractatus de Sacrobosco, logrou ampla difusão nas Escolas, e do qual foi considerado continuação, teve nos séculos XV e XVI várias edições em diversos países, tornando-se objeto de comentários, um dos quais de Pedro Nunes, com as Theoricas planetarum Georgii Purbachii annotationes aliquot (Basileia, 1566), as quais serão reeditadas em volume ulterior destas Obras.

Anteriores a 1537, temos notícia das seguintes edições:

1460: Theoricae nouae planetarum. Viena, 1460. É a primeira edição.

1475 (?): Theoricae nouae planetarum. Nuremberga, Johannes Regiomontanus.

1495: Theorice noue planetarum cum commento. Veneza, 1495. 1499: Theoricae nouae planetarum cum commento. Veneza, 1495.

1515: Theoricae nouae Planetarum Georgii Purbachii, ac in eas Francisci Capuani de Manfredonia, sublimis expositio in luculentissimum scriptum. Paris, 1515 29.

1515: Theoricarum nouarum Textus Georgii Purbachij cum utili ac praeclarissima expositione Domini Francisci Capuani de Manfredonia. Parrhisiis, 1515.

1519: Sphaera Mundi. Veneza, 1519. Nesta edição, que abre com o Sphericum opuscuium (Spherae Tractatus) de Sacrobosco, além das Disputationes de Monterégio contra Gerardo de Cremona, encontram-se também as Theoricae de Purbáquio. Exemplar existente na Biblioteca Matemática (Secção de Astronomia Náutica) da Faculdade de Ciências de Coimbra.

1525: Theoricae Note Planetarum, id est, septem errãtium syderum, Necnon Octaui orbis, seu firmamenti, Authore Georgio Purbachio Germano, Mathematicarum disciplinarum (ohm) interprete subtilissimo: Nuper summa diligentia Orontii Finei Delphinatis emédatae, Figuris item opportunissimis, & scholijs non aspernãdis illustratae, longe que castigatius, quam antea, ipso curante coimpressae.

Venundantur Parisijs, in uico a sancto Iacobo, apud Reginaldum Caldarium, sub hominis siluestris insigno commorantem. M.D.XXV. Exemplar existente na Biblioteca da Ajuda.

1531: Theoricae Planetarum nouae Georgii Purbachii, na citada edição de Veneza, de Luca Antonio Giunta.

b) As Theoricae nouae plane tarum, que Delambre diz haverem constituído “une espèce d'introduction pour préparer à ia lecture de Ptolémée”, compreendem as seguintes teorias: De sole; De luna; De dracone lume; De tribus superioribus; De uenere; De mercurio; De passionibus planetarum diuersis; De declinatione et latitudine; De motu octauae sphaerae. Pedro Nunes não traduziu toda a obra de Purbáquio; limitou-se apenas às teóricas do Sol, da Lua e do Dragão da Lua, naturalmente por julgar isso suficiente para “qualquer pessoa que em Cosmographia deseja saber alguma coisa”, como aventou Luciano Pereira da Silva, e Rodolfo Guimarães também admitiu.

c) Como texto, possivelmente utilizado por Pedro Nunes, seguimos a edição de 1531, de Luca Antonio Giunta.

A revisão deste texto latino foi feita pelo académico Sr. Rebelo Gonçalves.

1ª p. 78, 1. 6:      No texto: “reguralmente”. Emendado.               

2.ª p. 84, 1. 13: No texto: “ange”. Emendado.   

ANOTAÇÕES À TRADUÇÃO

DO LIURO PRIMEIRO DA GEOGRAFIA DE PTOLOMEU

(pp. 92-153)

A tradução do Livro I da Geografia de Cláudio Ptolomeu, assim como as anteriores traduções do Tratado da Esfera, de Sacrobosco, e da Teórica do Sol e da Lua, de Purbáquio, obedeceu, como já notámos, ao intento de divulgar na “nossa lingoagem” “aqueles princípios que deue ter qualquer pessoa que em Cosmographia deseja saber alg?a cousa” (vol. I, p. 3, 11. 34-35).

Em rigor, as ideias de Ptolomeu não eram desconhecidas entre nós; o texto, porém, só era acessível aos conhecedores da língua latina, por forma que esta tradução de Pedro Nunes, além do valor histórico —científico das “Annotações” que lhe aditou, tem o mérito de ser a primeira — e única — que se fez na nossa língua.


?>
Vamos corrigir esse problema