Excerpta Bibliographica Ex Bibliotheca Columbina

Eugénio do Canto não a reproduziu e não temos notícia doutro exemplar além do colombino, cujo paradeiro atual se ignora.

DIOGO LOPES REBELO

(NOTAS BIBLIOGRÁFICAS)

O fundamento do poder público e o exame das suas condições e fins constituíram na cultura portuguesa dos séculos XV e XVI temas de graves discussões. Já imediata, já mediatamente, não há nestas centúrias um português ilustrado que não signifique a sua opinião sobre estes assuntos, juntando, por vezes, aos aspetos teóricos a apreciação de certos atos do Estado. A própria expansão nacional, que pressupunha e reclamava fundamentalmente sentimentos dinâmicos e atitudes enérgicas, pouco compatíveis em regra com uma atitude puramente intelectual, deu lugar a algumas divergências doutrinais. Assim, por exemplo, as expedições marroquinas suscitaram o problema da guerra-justa e respetivas condições jurídicas e morais, em termos que reclamam a atenção do historiador das ideias filosóficas entre nós. O Leal Conselheiro, a Virtuosa Bemfeitoria, os cronistas, Jerónimo Osório, Bartolomeu Filipe, Diogo de Teive, António Ferreira, Jerónimo Ferreira de Vasconcelos, Camões, etc., são índices dessa evolução doutrinal, que partindo das teorias medievais de João de Salisbury, Tomás de Aquino e Egídio Romano, sofrerá o influxo da Renascença.

Representando uma fase ou um aspeto da evolução das ideias políticas em Portugal, interessa-nos de há muito a raríssima obra de Diogo Lopes Rebelo — Liber de republica magna doctrina et eruditione refertus necessarius,cuilibet homini volenti virtute uti, in qua graves sententiae, necnon praeclarissima dicta a visceribus mora lis philosophiae deprompta plenissime digesta sunt  S. I. n. Dd.

Barbosa Machado parece ter visto este livro, pois declara ter por fim doutrinar politicamente D.S Manuel, de quem Diogo Lopes foi capelão e mestre, mas nada adianta sobre o seu conteúdo. Que saibamos, só Launoy foi mais explícito, porque biografando-o como mestre de Teologia no Colégio de Nayarra (Paris), refere-se ao Liber de republica, dizendo que é dividido em 14 capítulos cujos títulos reproduz:

«1.° -- In primo probat auctor, Rempublicam necessario indigere regimine, et varios esse regendw Reipublicw modos.

2.° — In secundo probat, regalem principatum meliorem et prestantiorem esse ad gobernandam Rempublicam.

3.° — In tertio tractat de regia dignitate, et de officio Principis in regia majestate constituti.

4.° — In quarto tractat de munere sapientiw Regi necessariw.

5.° — In quinto tractat de prudentia Regis, et de consilio cum suis subditis capiendo.

6.° — In sexto tractat de justitia et de misericordia Regis in suos subditos. 70_ In septimo tractat de fortitudine Regis; et de ejus magnanimitate.

8.° — In octavo tractat de virtute temperantiw Regi necessaria, et de vitiis

gula et luxuri summopere fugiendis.

9.° — In nono tractat de Regis liberalitate, et de ejus magnificentia.

10.0 — In decimo tractat de vitio avaritiw, quod Rex summe fugere debet.

11.° — In undecimo tractat de legibus et de earom conditionibus, quas Rex suis

subditis debet imponere.

12.° — In duodecimo tractat de pace Regis cum Christianis habenda, et de bello nonnunquam gerendo.

13.° — In decimo-tertio tractat de dilectione et amicitia, quam Rex debet habere ad suos, et de amore, quo subditi debent ejus majestatem amare, venerari et colere.

14.° — In decimo quarto tractat de vectigalibus et de tributis, qu tenentur subditi suo Regi pendere».

E acrescenta, que «ex hic liber ab Jacobo editus est ante annum 1497 cum in eo non Licenciatus, sed Baccalarius Theologiw formatus duntaxat appellatur» Os assuntos deste livro, assim como a excecional importância de Diogo Lopes Rebelo no movimento das ideias políticas da corte manuelina, se é exata a notícia da Bibliotheca Lusitana, justificam suficientemente o nosso interesse; mas, infelizmente, não sabemos do paradeiro do Liber de republica. A Columbina não possui, nem possuiu, um exemplar; mas, em compensação, o catálogo atual e o Registrum acusam a existência de outras obras do nosso compatriota. São as seguintes:

30— Liber de assertionibus catholicis apostoli: magno ingenio editus et copillatus per magistrum Jacobum lupi in sacris litteris eruditissimum: acomodatissimus predicatori bus necnon sacram theologiam sitienti: in quo conclusiones apostoli et earum probationes annotantur feliciter incipit.

Em 8.° peq. gót. de 167 pág. inum. e 1 branca no fim. Assign. A-X. No fim: «Impressum in hac alma parisiorom vniversitate opera et diligentia magistri Anthonii denidel... quod finitum est. xiii die septembris anno salutis domini. M. cccc. lxxxxvii». É dedicado ao bispo de Ceuta, D.S Fernando de Almeida; e a epístola dedicatória deve ser examinada por quem um dia estude a história da teologia em Portugal, ou investigue a biografia do autor e de D.S Fernando de Almeida.

Nos Reservados da Biblioteca Pública do Porto guarda-se um exemplar, descrito por Artur de Carvalho — Os incunábulos da Biblioteca Pública do Porto (Porto, 1904), p. 75.

31 — Tractatus editus per magistrum iacobum lupi sacre theologie

bacalarium de productionibus personarum incipit feliciter.

Em 4.° gót. de I + 13 fls. inum. S. 1. n. d. Nota de E Colombo: Este libro costo en lobayna. 3. negmits ai fim de hebrero de. 1522. y el ducado de oro vale. 320. negmits. Esta registado 997.

D.S Simon de la Rosa, no cit. Catálogo.., de la Colombina, IV, 360-361, diz ser um incunábulo procedente do impressor parisiense Guido Mercator, e acrescenta: Es libro desconocido. Realmente B. Machado, Hain, etc., não o citam; mas Artur Carvalho, ob. cit., p. 74, descreve o exemplar existente na Biblioteca Pública do Porto. Deste raríssimo livro só conhecemos estes dois exemplares.

32— Iacobi lupus rebello fructus sacramenti... Imp. paris anno 1498 decembris 18. Est in 8.° costó è londres 1/2 pefli por Junio de 1522.

Registrum, n.° 919. No Abecedariurn, col. 810, lê-se: «Jacobus Lupus — de fructu sacramenti cú diuisione virtutü». Não existe atualmente. O título completo deste raro livro é: «Tractatus, qui dicitur fructus Sacramenti Penitentiw». No fim: Explicit: «Tractatus intitulatus Fructus Sacramenti Paenitentiae editus, et compilatus per doctissimum Virum magistrum Iacobum Lupi Rebello in artibus Magistrum, et Sacrw Theologiw Bachalarium benemeritum in quo continentur propositiones perutiles ad mentem Scoti, et aliorum Sacrorum Doctorum de ista materia loquentium. Paris. apud Georgium Mittel, 1495»; e «per Magistrum Guidonem Mercatorem, em 1498».

Independentemente destes trabalhos originais e de compilação Diogo Lopes Rebelo dirigiu as edições de 1493 e 1496 do De Justitia Commutativa de João Sobrinho, a que nos referiremos adiante.

Pelo confronto dos explicit da ed. de 1493 do De Justitia Commutativa com o da 1ª ed. do Tractatis Fructus Sacramenti (1495) verifica-se que naquele ano se apresenta como «sacre theologie bachalarium» e em 1495, além deste grau académico, é já «in artibus Magistrum et Sacrce Theologice Bachalarium» .

PARA A INFLUÊNCIA LITERÁRIA

DAS CONQUISTAS PORTUGUESAS EM MARROCOS

(SUBSÍDIO BIBLIOGRÁFICO)

Não foi ainda estudada a influência das conquistas do norte de África e do Oriente  na literatura europeia coeva destas gloriosas empresas nacionais; e nem sequer, cremos, está organizada a respetiva bibliografia. Pelo que à Mauritânia respeita é conhecida a sua influência literária nos contemporâneos Cataldo Siculo, Gil Vicente, Garcia de Resende e em Luís Anriques, cujos espíritos vibraram, já com a expansão das armas portuguesas e da fé católica, já com o poderio e força que a expedição de Azamor (1513) patenteou; porém, a repercussão na literatura universal aguarda ainda um estudioso que examine esses raros e esquecidos documentos e saiba auscultar-lhes o vívido espírito religioso e heroico que os suscitou, exprimindo, com significação geral, o entusiasmo bélico contra o árabe e o turco.         


?>
Vamos corrigir esse problema