6. Anotações ao De Crepusculis

2) Tratado da Esfera.    

Como é óbvio, a expressão designa a exposição dos princípios fundamentais de astronomia e coincide com o título mais frequente da obra de Sacrobosco, Tractatus de Sphffira, que Pedro Nunes adoptou no De spwra epitome (vol. 1, pp. 245-267) e traduziu (vol. I, pp. 5-56).             

3) Teóricas dos Planetas.            

Refere-se, sem dúvida, às Theoricx Noux Planetarum, de Jorge Purbáquio (vol. I, pp. 295-296), das quais Pedro Nunes traduziu a do Sol e a da Lua (vol. I, pp. 69-91). Não há elementos para supor que tivesse ensinado ao infante outras teóricas além destas duas.          

4) Parte da Magna Composição dos Astros, de Ptolomeu.

Trata-se do livro famoso de Cláudio Ptolorneu (†168?) (n/a) (A grande composição matemática de astronomia), que os árabes, na sua admiração, chamaram ai Majesti (o Grande), donde a designação Alma jesto empregada pelos astrónomos cristãos da Idade Média, e cuja doutrina, indisputada durante séculos, começou a quebrantar-se em 1543 com a publicação do De reuolutiortibus orbium ccelestium, de Nicolau Copérnico. Até à época em que Pedro Nunes foi incumbido de ensinar D. Henrique, estavam publicadas " as seguintes edições:           

1496: Epytoma Ioãnis de mõte regio In almagestil ptolomei. Em Veneza. Foi começado por Purbáquio e concluído por J. Regiomontano.               

1515: Almagestú Cl. Ptolomei Pheludiensis Alexandrini Astronomorum principis: Opus ingens ac nobile omnes Celorum motus continens. Felicibus Astris eat in lucem: Ductu Petri Liechtenstein Coloniensis Germani. Anno Virginei Partus. 1515, Die.10. Ia. Venetiis ex officina eiusdem litteraria. Exemplar (incompleto) da Biblioteca do         

26 Na livraria de D. Manuel I havia “huü liuro grande Tolomeo esprito de pena em pergaminho” (ver Sousa Viterbo, “A livraria real, especialmente no reinado de D. Manuel”, in Historia e memorias da Academia Real das Sciencias de Lisboa, nova série, t. IX, p. 1 [Lisboa, 19021, p. 23); a vaga referência não permite a individuação da obra. Gomes Eanes de Zurara, na Cronica da tomada de Cepta por ElRey Dom Ioham o primeiro, cap. 104, alude aos que “leerem per Almajesta”, mas, como observou o Sr. Dr. Duarte Leite, a referência não prova de forma alguma que o retórico cronista houvesse lido o livro de Ptolomeu (ver Acerca da “Chronica dos Feitos de Guinee”, Lisboa, 1941, p. 102).    

Observatório Astronómico de Coimbra. Contém a tradução de Gerardo de Cremona, feita do árabe.

1528: Claudii Ptolemaei Alexandrini Magna sinthesis, Per L. Cauricum Neapolit. exacte recognita... Veneza, “In calcographica Luceantonii 'fita officina (...)”. Existe na Biblioteca da Universidade de Coimbra. E a primeira tradução do grego; foi feita por Jorge de Trebizonda.

1538: Basileia. Primeira ed. do texto grego por Simão Grynwus.

Perante a diversidade destas edições e a imprecisão da notícia de Pedro Nunes, pode perguntar-se se por “parte da Magna Composição” devemos entender um resumo, ou antes a limitação a um ou alguns dos XIII livros que compõem o Almajesto. Se se admitir aquele sentido, pode dizer-se que Pedro Nunes utilizara e explicara o Epitome publicado em 1496; afigura-se-nos, porém, mais verosímil que, depois de ensinar ao infante a Esfera de Sacrobosco, tivesse desenvolvido um ou outro ponto recorrendo ao próprio Almajesto. É possível que um destes pontos fosse a teoria dos excêntricos e a dos epiciclos expostas no Livro III; e temos por muito provável, senão por certo, que nas lições, preliminares ou práticas, Pedro Nunes pôs de parte as noções de trigonometria expostas por Ptolomeu, substituindo-as pela sua obra original sobre a Geometria dos triangulos spheraes, que, como vimos (vol. I, p. 292, n. 7), estava redigida antes de 1533, isto é, pelos anos em que ensinava o infante.

5) Mecânica, de Aristóteles.     

Refere-se aos Problemas mecânicos, cuja atribuição a Aristóteles, da qual Pedro Nunes não duvida, é hoje objeto de severa crítica. Não podemos determinar exatamente a tradução que utilizou, inclinando-nos, no entanto, para a seguinte, expressamente citada no In problema mechanicum... abaixo referido: Aristotelis Mechanica V. Fausti industria restituta ac Latinitate donata. J. Badius (Paris), 1517.            

A inclusão deste livro no plano de estudos do infante é mais um testemunho da feição científica do ensino de Pedro Nunes, pois nele se expõem alguns dos princípios fundamentais da estática e da composição dos movimentos, a propósito da balança, da alavanca, dos remos da roldana, dos carros, das máquinas simples, dos projéteis, etc. 

Pedro Nunes escreveu uma pequena dissertação, In problema mechanicum Aristotelis de motu nauigii ex remis Annotatio una, que parece não ter nascido diretamente das lições ao infante mas de outro curso, possivelmente na Universidade de Coimbra, como inculcam as seguintes palavras iniciais: “Cum ohm discipulis nostris mechanicas Aristotelis quaestiones interpretaremur, nonnulla circa problema illud annotauimus, cur magis procedat nauigium quam remi palmula in contrarium”.

Reservamos para a edição da Annotatio a exposição de alguns problemas que esta obrinha e a respetiva fonte suscitam.

6) Cosmografia.

É de crer que Pedro Nunes seguisse como texto fundamental deste ensino o Livro I da Geographia de Ptolomeu, que traduziu em português (vol. I, pp. 92-153), e aos quais aditaria comentários originais e alheios, notadamente de João Werner no In hoc opere hwc continentur, descrito no vol. I, pp. 299-300.

Sobre o valor e alcance deste estudo para os príncipes, escreveu o lente de teologia na Universidade de Coimbra, Francisco de Monçon, no Libro primero dei espejo dei principe christiano: que trata como se ha de criar vn principe o nifi o generoso desde su tierna ninéz cõ todos los exercicios y virtudes que le conuienen hasta ser varon perfect°..., Lisboa, na oficina de Luís Rodrigues, 1544, cap. 50, fols. clv r:

“Es cosa muy prouechosa los principes y grandes seriares ser muy experimentados cosmographos: sabiédo los sitias delas prouincias: los assientos delas cibdades famosas: las costumbres de estrarias naciones: y la propriedad y naturaleza delas animales Z diferencia de cosas que se hallã en ellas (...).

“Tambien es necessario ai perfecto principe saber el arte de nauegar, y entender la carta de marear: por poder huyr los periascos, y bajos, y atros peligros que ay en la mar: porque allende de correr risco en la cocmun nauegacion: acõtesce darse batalla naual, y ser desbaratada vna grande flota por no saber algunos estrechos y passos peligrosos (...).

 “De aqui concluya Propercio poeta hablando con vn príncipe que aula de saber los müdos pintados: assi el mappa müdi, como la carta de marear y todo agllo que le aprouechasse para saber perfecta cosmographia”.

7) Prática de alguns instrumentos antigos.

Muito provavelmente o astrolábio, a balestilha, o quadrante e a esfera armilar.

8) Prática dos instrumentos inventados pelo próprio Pedro Nunes.

a) O Instrumento de sombras, na designação de D. João de Castro, descrito por Pedro Nunes no Tratado em defensam da carta de marear (vol. 1, pp. 223-224). Ver A. Fontoura da Costa, A Marinharia dos Descobrimentos, Lisboa, 1939, n.° 119.


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