Segunda Parte - que compreende os anos que discorrem desde princípio do de 1541 até fim do de 1547 (II)

Nesta mesma carta, D. João III aprova o propósito do Reitor da Universidade mandar construir uma parede para «se tapar e cerrar o terreiro» dos paços, e folga de saber «o numero dos escolares de gramatica» que frequentavam as escolas da Universidade.

5) Sobre alguns lentes da Universidade

 a) Contrato de um professor italiano.

Para o desenvolvimento deste assunto, a que já atrás fizemos referência, possuímos quatro documentos deste ano, os quais se encontram publicados pelo Dr. M. Brandão, no citado vol. II dos Documentos de D. João III.

É o primeiro uma carta de D. João III para o embaixador em Roma, Baltasar de Faria, de 15 de Janeiro de 1545, na qual lhe recomenda que não descure o assunto do contrato de um lente italiano para a Universidade de Coimbra, e o informe acerca de Sucino, cuja resposta e condições, se este as chegou a propor, desejaria conhecer. Entretanto, porém, Sebastião de Carvalho, por incumbência de António de Barros, havia falado em Pádua, onde estava, com o doutor Marco de Mântua, que ensinava na Universidade paduana, e era «huum dos milhores que naquelas partes avia assy em leis como em canones», e escrevera a el-rei informando-o de que este lente aceitava vir ensinar para Coimbra, durante 6 anos, com o salário anual de mil cruzados. D. João III aceitava estas condições, e por outra carta desta mesma data recomendava ao mesmo embaixador em Roma, que enviasse a Pádua «pessoa de muito recado» para fechar o contrato com Marco de Mântua, a quem, em nome d’el-rei devia dirigir uma carta convidando-o a vir sem demora para Coimbra, com a promessa de novas mercês e favores.

Súbdito da Senhoria de Veneza, Marco de Mântua não podia ausentar-se de Pádua sem licença do doge; por isso, nesta mesma data de 15 de Janeiro, D. João III dirigia-se ao Doge, solicitando-lhe licença para a saída daquele lente, desde que este quisesse vir para Coimbra.

Decorridos meses, D. João III não recebera do seu embaixador quaisquer notícias; por isso, em 15 de Agosto de 1545, estranhando o silêncio, recomendava-lhe que o informasse «muyto particularmente» de tudo o que se havia passado. Marco de Mântua não chegou a ser contratado.

b) Sobre Martinho de Azpilcueta, o Doutor Navarro.

Carta de 26 de Março de 1545 para Baltasar de Faria, embaixador em Roma, recomendando-lhe que dissesse a Aires Vaz, cristão-novo residente em Roma, que desistisse da demanda que havia proposto no tribunal da Rota sobre a comenda de Leomil, sob pena de ser tido por «desnaturado» de Portugal (Mário Brandão, ibid., pp. 240-242). A comenda de Leomil havia sido dada a Martinho de Azpilcueta em 29 de Dezembro de 1540 (vid. Noticias Chronologicas, II, p. 776) e a demanda, além dos vexames e citações, impedia a execução deste benefício régio.

c) Sobre o Doutor Aires Pinhel.

Alvará de 26 de Setembro de 1545 acerca dos seus ordenados (Mário Brandão, ibid., p. 273).

d) Sobre o Doutor Tomás Rodrigues da Veiga.

Alvará de 26 de Setembro de 1545 aumentando-lhe o ordenado em 36 620 réis anuais (ibid., pp. 275-276).

e) Sobre alguns mestres de Artes.

Acerca de Gaspar Bordalo propôs o Reitor da Universidade, Fr. Diogo de Murça, a D. João III, que, por suas letras e virtudes, era merecedor de um benefício eclesiástico (Mário Brandão, Alguns documentos.. cit., pp. 95-96).

Pedro Henriques, que perdera a provisão régia que o nomeara em 24 de Setembro de 1544 para ler uma lição de Latinidade da Quarta Regra, pelo que não lhe podia ser pago o ordenado, obteve em 13 de Maio de 1545 um novo alvará ordenando o pagamento (M. Brandão, Documentos de D. João III, vol. II, pp. 245-246).

António do Souto, bacharel em Medicina, lente de Artes no Colégio de São Jerónimo, obteve pelo alvará de 24 de Setembro de 1545 que o seu ordenado fosse pago pelas rendas da Universidade (ibid., p. 264).

Manuel Cerveira, pelo alvará de 25 de Setembro de 1545, obteve o pagamento de 15 mil réis anuais, durante três anos (ibid., p. 265).

Pedro Machado, licenciado, foi nomeado por um ano mestre de uma cadeira da Quarta Regra de Latinidade, com o ordenado de 25 mil réis, pelo alvará de 25 de Setembro de 1545, pelo prazo de três anos, mestre de uma cadeira da Terceira Regra de latinidade, com o ordenado de 40 mil réis anuais (ibid., p. 277).         

Cristóvão Nunes, foi nomeado pelo alvará de 26 de Setembro de 1545, pelo prazo de três anos, mestre de uma cadeira da Segunda Regra de Latinidade, com o salário anual de 25 mil réis (ibid., p. 278).

6) Sobre estudantes     

Pela qualidade da pessoa, ao diante tão notável, é de salientar a carta de 8 de Fevereiro de 1545, pela qual D. João III fez saber ao Reitor da Universidade que os cursos que Fr. Bartolomeu dos Mártires, dominicano, havia feito no colégio da sua Ordem, em Lisboa e na Batalha, fossem levados em conta para o grau de bacharel, como se os houvesse cursado na Universidade.  

7) Sobre o funcionalismo da Universidade

Neste ano de 1545, possivelmente em execução dos Estatutos do ano anterior, foram nomeados os seguintes funcionários para a Universidade:    

a) Bedéis:          

Fernão Lopes de Castanheda, estudante da Universidade, foi nomeado pelo alvará de 25 de Setembro de 1545 bedel da Faculdade das Artes, «é quãto o ele bem fizer & eu o ouuver p bem», com o vencimento anual de dez mil réis. Pouco depois, pela carta de 5 de Novembro de 1545, em acumulação com este lugar, foi nomeado guarda do cartório e livraria da Universidade; por esta carta usufruiria apenas «os proês & percalcos lhe plos ditos estatutos direjtamte pertencerë», mas por uma apostila de 10 de Novembro do mesmo ano de 1545 ao referido diploma, além dos prós e percalços obteve o salário de 6 mil réis anuais.        

Estes documentos encontram-se publicados pelo Dr. Mário Brandão no vol. II dos Documentos de D. João III, pp. 268, 294 e 295; conheciam-se, porém, já anteriormente, e sobre eles fez valiosas considerações o académico Pedro de Azevedo na introdução que antepôs à reedição da História do Descobrimento e Conquista da Índia pelos Portugueses, no vol. 1 (Coimbra, 1924), de Fernão Lopes de Castanheda. Importa ao conhecimento dos descendentes do famoso historiador o documento publicado pelo Prof. Dr. A. da Rocha Brito no citado O primeiro dia d’aula., pp. 101-102.

Gaspar Sampaio, foi nomeado por alvará de 25 de Setembro de 1545 bedel da Faculdade de Teologia, com o ordenado anual de 10 mil réis (M. Brandão, ibid., p. 269).

Gil de Morais, moço da Capela Real, foi nomeado, pela renúncia de Diogo de Azevedo, bedel da Faculdade de Cânones, com o vencimento anual de 10 mil réis. O alvará de nomeação é de 26 de Setembro de 1545; encontra-se publicado pelo Dr. M. Brandão, ibid., p. 279.

Manuel Francisco, foi nomeado pelo alvará de 4 de Novembro de 1545 bedel da Faculdade de Medicina, com o vencimento anual de 10 mil réis, além de «os proês & percalços» (M. Brandão, ibid., pp. 291-292).

Manuel Nunes Ribeiro, foi nomeado pelo alvará de 4 de Novembro de 1545, bedel da Faculdade de Leis, nas mesmas condições do anterior (M. Brandão, ibid., pp. 292-293).

b) Outros funcionários

Capelão da Universidade. Jorge Martins, «clérigo de missa, muito bom estudante, que há dois anos que estuda Cânones, e tem muito boa habilidade e que é bom latino», foi nomeado pelo alvará régio de 6 de Junho de 1545, a pedido do Reitor da Universidade, a quem solicitara o cargo, capelão da Universidade, por três anos, com o vencimento de 7 500 réis.


?>
Vamos corrigir esse problema