Segunda Parte - que compreende os anos que discorrem desde meados do de 1537 até fim do de 1540 (I)

«El Rey D. Manoel de boa memoria, Rey destes Reynos de Portugal, que tambem foy jurado Principe nos de Castella, sendo casado com a Princesa delles, Dona Isabel filha dos Reis Catholicos: desejando o bom governo de seus Vassalos, & que não fossem avexados, antes favorecidos, & consolados.

«Entre as demais Leys, que fez para o governo de seus Reynos em suas Ordenações, fez húa, que os Prelados Ecclesiasticos, abbades, & Priores de ordens Regulares, que não tinhão Superior no Reino nas causas Civeis, que tivessem com seus Vassallos, respondessem diante dos Corregedores da Corte, ou em outro qualquer juizo Secular onde fossem demandados.

«Não deixou a Ley de parecer hum pouco rigurosa, & contraria á liberdade Ecclesiastica: posto que a tenção dei Rey foy boa, fundada em prol, & bom governo de seus Vassallos, por não aver naquelles dias Legados Apostolicos em Portugal, diante quem requeressem sua justiça cõtra os ditos Prelados, & isentos, & ser trabalho proverense de Roma, pello que sempre a Ley se guardou no Reino, ou porque os mesmos Prelados o consentissem, ou os Legados, & Nuncios de sua Sanctidade, sabendoo, o dissimulassem [… ]».

[ XXVII]                                                                                                                                                             (§ 71)

SOBRE GONÇALO VAZ PINTO

Barbosa Machado, no t. II da Bibliotheca Lusitana, compôs [uma] biografia de Gonçalo Vaz Pinto, na qual acrescenta vários informes à concisa narrativa de Leitão Ferreira.

[ XXVIII ]                                                                                                                                              (§ 78)

SOBRE HENRIQUE CUELHAR

Neste parágrafo cumpre considerar separadamente três assuntos, a saber, nacionalidade, biografia e orientação científica de Cuelhar.

1) Nacionalidade de H. Cuelhar

É controvertida a pátria originária de Cuelhar. «Português, conforme no-lo afirmam Figueiroa e Leitão Ferreira baseados no que diz o próprio Cuellar a p. 7 do seu livro: "sic in navigatione nostro rum lusitanorum in indiam ostenditur clare gubernantis prudentia", ou espanhol, na opinião do doutor Teixeira de Carvalho, deveria, pelo menos originariamente, ter sido da família dos "Castros de Cuellar", hebreus de Espanha, os quais por muito tempo estiveram ao serviço da casa de Bragança», escreve o Prof. Dr. Rocha Brito, no cit. O primeiro dia d'aula., p. 12.

Não temos elementos que nos decidam por uma opinião; conjeturamos, no entanto, que seria de nacionalidade espanhola, não só pela raridade do apelido no onomástico português, como pela grafia do nome no frontispício do seu livro —Cuellar —, e respetiva expressão fónica — Colhar — nalguns registos universitários. A este respeito, talvez cumpra notar-se a circunstância de se contar no quadro docente de Salamanca, numa das cátedras cursatórias de Cânones, anterior ao ano letivo de 1518-1519, um Miguel Cuellar, possivelmente parente do mestre conimbricense. (Vid. Esperabé Arteaga, Historia de la Universidad de Salamanca, cit., vol. II, p. 287).

2) Dados biográficos

a) Ano do nascimento. Cabe ao Prof. Dr. A. Rocha Brito (ob. cit., pp. 14-15) o apuramento do ano do nascimento de Cuelhar, nos seguintes termos: No livro de Cuelhar, referido no aditamento imediato, encontra-se «uma pequena apresentação feita pelo seu colega na Faculdade, como mestre da cadeira de Véspera, o Doutor Tomás Rodrigues da Veiga, que nos revela a idade de Cuellar em 1543 — sessenta anos: Dominus Ihesus pariat fructum sexagessimum et centesimum, e, portanto, a data do seu nascimento: 1483.»

b) Início do magistério de Cuelhar em Coimbra. Cuelhar não começou a ler em Coimbra em 2 de Maio, mas em 4 de Junho deste ano de 1537, como prova o documento transcrito na anotação ao § 38. O prof. Dr. Rocha Brito foi quem primeiro ressalvou este erro de Carneiro de Figueiroa (Memorias da Universidade de Coimbra, 1937, p. 50) e de Leitão ferreira. (Vid. O primeiro dia d'aula., cit., p. 7).

c) Dados biográficos. O Prof. Dr. A. Rocha Brito, o mais recente biógrafo de Cuelhar, dá-nos na ob. cit., pp. 12-14, os seguintes informes:

«Foi o primeiro professor da nossa Faculdade e mesmo o único no ano de 1537-38, tendo leccionado ininterruptamente até 1544, ano em que possivelmente teria falecido, porquanto nesse ano era a cadeira preenchida pelo doutor Rodrigo Reinoso. O Prof. P. A. Dias dá para o ano do seu passamento o de 1543, mas em 1544 ainda Cuellar era vivo, pelo menos em Junho, como se depreende da provisão de 16 desse mês e ano, na qual el-rei manda acrescentar ao seu ordenado mais dez mil réis desde o 1.0 de Outubro de 44 e " acabara pelo primeiro doutubro do anno que vem... ".

«Afirma a Bibliotheca Lusitana ter Cuellar estudado na Universidade de Paris, onde se celebrizou a ponto de D. João III, sempre à cata de notabilidades, o ter escolhido para mestre de medicina na renovada Universidade.

«O que não consegui apurar é se o afamado lente já era médico quando em 20 de Fevereiro de 1527 concorrera em Lisboa à cadeira de lógica, juntamente com Miguel da Gama, João Ribeiro, que viera de Paris, João Lião, Simão Jorge, Garcia d'Orta — renhido concurso ganho por João Ribeiro e no qual só obtivera um voto (Garcia d'Orta nem um só conseguira) ou se só então, desgostoso com o resultado do concurso, é que resolvera graduar-se médico em Paris.

«Inclino-me para esta última hipótese, pois na lista dos concorrentes se diz de mestre Ribeiro que viera de Paris e de João Lião que era licenciado em física e de mestre Henrique nada se especializava, sendo de crer que, se fosse médico, não deixaria o bedel de o mencionar, minucioso como sempre o fora:

"Oppoètes a cadeira de logica em mj ds de janr° de 527 se oppos o bacharel miguei da gama  biij ds de janr° de 1527 spvy aq" mestre rebeyro veyo de pares no dito dia mes e ano spevy a joã liam Ld° é fisica

é xj ds do mes de janr° de 1527 sprevj aqj o bacharel simão jorge

xbj ds do mes de janr° de 1527 spvy aquj o UI° Garcia dota

em xbij ds de janr° de 1527 se escreveo ael mestre henriqz et juravit."

«Não há dúvida de que este mestre Henrique era o Cuellar. O seguinte assento é categórico:

"ELEIÇÃ A XX DE FEVro DE 1527


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Vamos corrigir esse problema