Segunda Parte - que compreende os anos que discorrem desde meados do de 1537 até fim do de 1540 (I)

IV                                                                                                                                                             (§ 6)

Fr. Brás de Barros foi, de facto, o reformador do mosteiro de Santa Cruz; oficialmente, porém, D. João III associou-o nessa empresa aos jerónimos Fr. António de Lisboa e Fr. Jorge de Évora. É o que resulta do documento publicado pela primeira vez pelo Prof. Dr. Manuel Gonçalves Cerejeira, em O Humanismo em Portugal. Clenardo, Coimbra, 1926, pp. 97-98 […].

V                                                                                                                                                                (§ 7)

Leitão Ferreira aduz um único facto para afirmar neste parágrafo que a reformação do mosteiro de Santa Cruz contribuiu muito para o pensamento que D. João III tinha de transferir a Universidade para Coimbra; o Dr. Mário Brandão, porém, nas Cartas de Frei Brás de Braga para os priores do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra (Coimbra, 1937, em separata do vol. XIII da Revista da Universidade de Coimbra, pp. 11-22), desenvolveu eruditamente este ponto.

VI                                                                                                                                                              (§ 8)

SOBRE A ACÇAO PEDAGÓGICA DE FR. BRÁS DE BRAGA

Na ação pedagógica de Fr. Brás de Braga, apontada sumariamente neste parágrafo, cumpre considerar separadamente o contrato de professores para os colégios de Santa Cruz, a concessão de bolsas de estudo em escolas estrangeiras, e a instauração do ensino regular no Mosteiro.

a) OS PRIMEIROS MESTRES DE SANTA CRUZ

Os cursos de Artes constituíram os primeiros estudos regulares do mosteiro de Santa Cruz.

Até hoje, a fonte documental mais antiga das informações sobre os respetivos professores encontra-se no Livro de receita e despesa deste mosteiro de Sancta Cruz, o qual se começou a dezoito dias do mes de Junho de 1534 afios e se acabara per outro tal dia que vira de 1535, extratado pelo Prof. Dr. Virgílio Correia em Arte e Arqueologia (Revista do Conselho de Arte e Arqueologia da 2.a Circunscrição), vol. I, Coimbra, 1932, pp. 109-113.

Por este documento temos notícia:

1.°) De, em Maio de 1535, Simão Diniz, físico, haver dispendido, «quando foi a Alcala buscar mestre pera os estudos cõsigo e cõ o mestre e moços sete mil oytocentos e oytenta reaes»; e de haverem sido pagos, em Junho do mesmo ano, ao dito Simão Diniz, «de aluguer de duas bestas que trouxe alugadas... de alcala ate esta cidade, mil quatrocentos e setenta e quatro reaes isto quando foy per os mestres».

2.°) Do mosteiro haver entregue, em Junho de 1535, «ao L.d° Segura por mandado do padre oito mil reaes pera ir a alcala e tornar cõ o doutor prado [Afonso do Prado, vid. anotação ao § 47], isto pera sua despesa e de hü homé 4 cõ ele foy...»

Afonso do Prado devia encontrar-se já em Coimbra em Outubro de 1535, pois em 8 de Novembro deste ano D. João III escrevia a Fr. Brás de Braga: «E quãto ao trabalho que dizes q levastes em asêtar co doutor prado ê a regra das artes e os frãceses que vierã de paris eu creo que seria asy e folgarey que mescreuaes quãtos lemtes sam e de 4 faculdades.» (Vid. Aires de Campos, Cartas dos Reis e dos Infantes..., cit., em O Instituto vol. XXXVI, p. 584).

O Dr. Mário Brandão pensa que Afonso do Prado «deve ainda ser recordado... como o de auxiliar de Frei Brás, pois que este se valeu do seu experimentado conselho como o próprio Reformador o confessa encarecendo ao Rei o trabalho, que tivera em asétar co doutor prado ê a regra das artes e os frãceses que vierã de paris»; por nossa parte, conjeturamos que esta frase significa que Afonso do Prado começou por ensinar Artes contra sua vontade, pois tudo indica que fora contratado para ensinar Teologia (vid. anotação ao § 47). Seja, porém, como for, é um facto documentado a existência em Santa Cruz, em Novembro de 1535, de mestres «frãceses que vierã de paris»; ignora-se, porém, se a expressão «franceses» foi empregue para designar indivíduos desta nacionalidade, ou, como nos parece mais provável, para se referir a portugueses graduados em França.

3.°) De em Março de 1535 terem sido pagos a Rodrigo de Quintana, «mestre q emssynou de gramatica aos Irmãos cinquo meses, dous mjll reaes... ».

4.°) De, no 1º de Maio de 1535, haverem sido pagos a Diogo de Gouveia (vid. anotação ao § 667), «mestre 4 ensina Gramatica, hú mjll reaes ê comeco de pago de seu ordenado... ».

O Dr. Mário Brandão coligiu valiosos informes sobre o primeiro curso de Diogo de Gouveia — 1535-1539 —, esclarecendo que deste curso de Gouveia nos dá testemunho o Livro 3 de autos e provas de cursos, caderno de 1549-50, fl. 106 v.°, onde está exarada a prova de Frei Rodrigo de Gaia ter frequentado o tempo requerido, para se poder graduar Mestre, no curso que Diogo de Gouveia leo no aio de jb e trinta e seis e se acabou por o ano de b e trinta e nove. E acrescenta:

Qual foi a duração deste curso? Três anos como parece indicar este assento, ou três anos e meio como foi da regra nas Escolas conimbricenses? Que o curso terminou em Agosto de 1539 é o que parece indicar a tabela de faltas da última Terça do ano letivo de 1538-9, onde se consigna "deixou de ler gouuea aos iij dagosto", e confirma o facto de Gouveia ter começado a reger em Outubro de 1539 um outro curso das Artes. Do que não temos a certeza é da data exata em que Gouveia deu início ao curso. O facto de na carta de D. João III, de 11 de Março de 1536, se acrescentar: "E posto que atee ho dito tempo nam seja necesa rio ordenardes os ditos mestres por atee entam os conigos nam terem necessidade deles ffolgaria ordenardes de os poer logo, e mandardelos buscar...", autoriza-nos a supor que Gouveia deve ter começado a ler já alguns meses antes da abertura do ano letivo de 1536-7, e desta forma que o seu curso terá tido a duração normal de três anos e meio.


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Vamos corrigir esse problema